Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sexta-feira, junho 20, 2008

Na função



Meus peludos desceram a serra e estão no Rio desde ontem com a agenda absolutamente lotada. O objetivo principal da visita é fazer a limpeza de tártaro amanhã, mas como isso se faz sob anestesia geral, e toda anestesia exige o conhecimento atualizado do estado geral de saúde, meus pitucos já fizeram exames de sangue, foram ao cardiologista e ao radiologista. Pra aproveitar a viagem, o Povo ainda marcou um encontro com a Dra Aninha, sua oftalmo, porque há 5 anos fez com ela a ablação de um adenocarcinoma de pálpebra que até hoje nos inspira desconfiança.

Veterinários são os donos mais hipondríacos e chatos do mercado porque têm opinião sobre tudo. E já que sua própria opinião não conta, porque estão emocionalmente envolvidos (mas não o bastante para adbicar do diploma assim, tão facilmente), partem logo pra terceira, quarta e quinta opiniões, tudo num dia só. Pelo mesmo motivo, desconfio que o pior temor de pediatras seja lidar com pais médicos intensivistas, porque toda cólica deve virar nó nas tripas e todo resfriado deve ser, no mínimo, uma tuberculose. Às vezes é melhor não saber. A ignorância é uma dádiva que poucos aproveitam conscientemente.

Hoje tive essa sensação com a Radija, que é um cão absolutamente lindo, normal e que seria perfeito, não fosse a obesidade artificialmente induzida pelo meu pai, um chef frustrado que se realiza na aprovação de seus pratos por seu semper fidelis público, que late e pede bis. O primeiro check-up cardiológico da Radija revelou, para meu choque e horror, que ela tem uma sobrecarga cardíaca direita, apesar dos parcos 5 anos. Isto geralmente acontece secundariamente a um processo inflamatório pulmonar, como uma bronquite alérgica. Mas como um cão que nunca tossiu pode ter bronquite? Passei o dia inteiro atrás de outras ampolas e técnicas de raio-X para entender melhor porque minha Princesa tem pulmão de fumante sem nunca ter fumado, tossido ou espirrado. No final do dia, conversei com o anestesista dela e resolvemos que tudo bem o pulmão não ser compatível com a beleza e harmonia do conjunto, que isso não interferiria na anestesia, mas puxa vida: fiquei com um aperto no peito.

Amanhã, quando eles me beijarem com o hálito fresco e a boca limpinha, nada disso terá importância. Às vezes, uma sobrecarga cardíaca direita é só uma sobrecarga cardíaca direita, sobretudo quando é discreta. E ser mãe, ainda que interespecificamente, é realmente a forma mais infalível de padecer no paraíso. (OK, terapeutas comportamentais sérios que abominam o antropomorfismo: podem me executar!)