Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

terça-feira, junho 10, 2008

Recuerdos Lalais

Todos suspiramos pela Lála. Todos somos apaixonados pela Lála. Todos sentimos falta da Lála. Pois não é de se admirar que no jantar, minha oitava refeição do dia (depois escrevo sobre isso), a Lála seja um assunto recorrente mesmo quando não está presente.

Hoje meu pai e minha mãe contaram uma conversa que eles três (eles e a Lála) tiveram na minha ausência. Eles estavam jantando e a Lála se recusava a comer sua comida de cachorro - já devidamente disfarçada de risoto de frango com brócolis refogado. Eles tentavam ignorá-la, mas ela insistia:
- Não quero esta porcaria de comida! Isto nem comida é! Quero a comida de vocês: essa aí em cima da mesa, ó! Eu posso ser baixa, mas sinto cheiro muito bem! Nem tentem me ludibriar, a comida que quero é essa aí: a de vocês!

Tudo bem que a maioria de vocês vai se perguntar: mas será que a Lála falava tudo isso mesmo? Tudo bem, gente, não tem problema ter essa dúvida: eu sou paciente, por isso vou responder com educação: ela não falava tudo isso, ela latia tudo isso. E como meus pais jantam perto da meia-noite (motivo número 58 de o jantar ser minha oitava refeição do dia), essa prosa toda começou a enervar os vizinhos, e porque os vizinhos estavam enervados, meus pais ficaram enervados, e porque a Lála é uma esperta e totalmente demais, ela mesma encerrou o falatório, foi ao quarto dos meus pais (onde ela enterra seus tesouros) e voltou com um reluzente bombom de cupuaçu na boca.

Na tarde daquele dia, meus pais haviam feito hortifruti e voltaram com vários bombons desse tipo. Eram tantos, que eles nem perceberam que a Lála subiu na mesa e reservou unzinho para seus dias de vaca magra. Pois ela deitou seu bombom de embalagem perfeitamente preservada no chão e virou a bunda pros meus pais, ainda à mesa de jantar. Minha mãe usou a língua do pê pra se comunicar com o outro bípede da casa sem dar muito na pinta:

- Eu-peu a-pa-cho-po que-pe is-pis-to-po é-pé u-pu-ma-pa a-pa-fron-pon-ta-pa. E é com a gente, heim! Observa bem.
- Que afronta, que nada, meu pai respondeu. É autosuficiência. Esse cachorro é demais, não precisa da gente nem pra comer besteira!

***

Eu já disse, e continuo insistindo: não estou humanizando a Lála. Ela já veio humanizada pra mim! O ser humano precisa ser consistente, só isso.