Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quarta-feira, outubro 14, 2009

O que vai pela nuca das pessoas

Domingo passado eu corri 5km numa prova da Adidas que acontece a cada nova estação. As corridas de rua no Rio têm juntado um número cada vez maior de participantes, a ponto de muita gente nem considerar corrida mais como um esporte. Corrida é rotina, assim como ler jornal e escovar os dentes. Ciclismo é transporte. Esporte, à vera mesmo, é corrida MAIS natação MAIS ciclismo. E assim nascem os monstros...

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A gente percebe que corrida está deixando de ser esporte observando a biodiversidade nas pistas: tem filho com pai separado (porque o pai não podia deixar a criança sozinha em casa em seu domingo de direito, então levou o filho pra dar uma voltinha no Aterro - só esqueceu de avisar ao menino que ele teria de correr pra não ser atropelado pelo estouro da boiada); tem amigas que colecionam camisetas coloridas; tem vovós de 90 anos em busca do afago de uma neta; e pra não dizer que eu estou sendo leviana, há uma quantidade considerável de labradores, poodles e até atletas de verdade, daqueles que cumprem planilhas, tomam suplementos e têm um treinador pra chamar de seu.

Corrida de rua é realmente o anti-esporte. Nem o COI reconhece a modalidade se ela for praticada fora de uma pista de atletismo; ele até reconhece a maratona, mas apenas por motivos históricos e poéticos. Há um lirismo inquietante na morte após o quadragésimo quilômetro.

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Correndo em meio a milhares de coleguinhas de anti-esporte nesse domingo, eu tive a oportunidade de ver o que anda pela nuca das pessoas. A nuca é uma espécie de para-choque de caminhão, onde o contribuinte tatua frases ou desenhos que consigam sintetizar seu "eu" mais verdadeiro. Quem corre atrás, obviamente, fica sabendo que o proprietário da nunca: tem dois filhos (tatuagem de menino e menina estilizados); tem um filho chamado João Pedro (tatuagem de pezinho de bebê com o nome João Pedro embaixo); é fã de alguma atriz global (tatuagem de um trecho do "Pai Nosso"); tem ou teve um amor chamado Edu (tatuagem de coração com os dizeres Dri & Edu); gosta de filmes de terror ou, por algum motivo bizarro, ama o número 13 (tatuagem enorme de 13 com uma fonte super sinistra).

Sei lá. Eu jamais tatuaria minha pele com um número. Se não pelo tanto que isso remete ao Holocausto, pelo menos pra não tornar pública minha estupidez numerológica. Há coisas terríveis sobre nós que basta a nós saber.

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Por falar em Holocausto, "Bastardos Inglórios", do Tarantino, dá uma lavada na alma da gente. Eu vi o filme, li o roteiro e recomendo!