Vira ômi!
Carência é foda. Já tive um analista cego que me ouvia fungando e perguntava: você está chorando? Como eu estava sempre chorando, me valia da cegueira dele e dizia algumas vezes que não, que estava só fungando de alergia. O filho da puta sempre fingia que entendia "fungando de alegria", numa débil tentativa de me rotular de depressiva. Tínhamos uma relação estranha de amor e ódio, eu e ele. Na última vez que o vi (e ele não me viu, porque era cego), eu disse que em todos aqueles dias eu estava chorando, sim, e não era de alergia nem de alegria, era de carência e auto-comiseração. Me dei alta em seguida e fui pro psicanalista mais próximo, porque aquele ali me enervava. Naquela época, eu achava joelhaço uma parada muito radical.
Pois eis que estou fungando de novo há uns 5 dias. No primeiro, achei que estava nas últimas: não usei termômetro, mas eu podia jurar que tinha febre. E quando eu fico assim, peço pra quem estiver ao meu lado pra pôr a mão na minha testa e ver se eu estou febril. É coisa que faço desde criança, mas só este ano eu percebi que era uma manifestação inequívoca de carência. Foi minha chefe que falou: "Não, Vanessa, pela milésima vez, você não está com febre. E, por favor: vê se vira homem!".
Com esse histórico todo, eu tive que rir quando fui ontem a emergência de um hospital crente que estava mesmo incubando uma manifestação inédita da gripe aviária ou outro vírus letal e ouvi do médico que era só alergia. É claro que fiquei aliviada, mas na saída do consultório eu passei pela recepção morta de vergonha, porque cheguei com cara de quem estava nas últimas e saí alegrinha. Isso sem contar que eu devo ter super assustado a atendente quando disse: "Melhor jogar fora essa caneta que eu toquei e desinfetar bem suas mãos: estou com uma virose braba."
Preciso namorar urgentemente, ha ha ha!
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