O desastre do piercing
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Clique aqui para uma breve revisão da anatomia do nariz.
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Meu piercing nasal é uma merdequinha de ouro branco contendo uma pedra de zircônio com menos de 1mm de diâmetro na ponta. Entre os desastres mais comuns com piercings nasais, podemos citar: fisgada da pedra por um fio frouxo da toalha; fisgada em pulôver; pessoas apertando o nariz da gente sem perceber que dentro da narina tem um ferro retorcido.
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Saio ensaboada do chuveiro e começo uma incansável série de manobras do piercing nasal na frente do espelho: com uma pinça de sobrancelha e um cotonete, eu tento fazer a pedrinha de zircônio - que ficaria normalmente sobre a pele - atonar, mas ela não encontra mais o buraquinho por onde entrou. Pego uma pinça hemostática que eu ainda guardo da época em que era veterinária e faço manobras mais radicais de vai e vem, de vem cá meu bem, mas só pioro a situação: pela pele, o brinco não passa de jeito algum; e por dentro, pela narina, não passa nem que a vaca tussa. A dor de cabeça vira um enxaqueca, e é interessante notar que só dói do lado do piercing. Estou impressionada com os cotonetes ensanguentados usados nas manobras. Ligo pra minha melhor amiga e pro Tom Taborda pedindo socorro, e decido: vou prum pronto-socorro resolver essa angústia.
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Inevitavelmente, vou pensando no desfecho desse desastre nasal: e se o médico resolver forçar uma barra e dilacerar meu nariz? E se eu precisar fazer uma plástica reconstrutora? E se, já que eu vou fazer uma plástica reconstrutora, eu aproveitasse pra fazer uma lipo? Será que o plano de saúde cobriria? Será que minha mãe vai me matar? Será que eu vou precisar trabalhar na segunda, mesmo com esse nariz esfolado? Mil coisas se passam pela minha cabeça enxaquecóide. Nenhuma que preste.
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A médica tem pouco mais que 12 anos de idade e a carinha amarfanhada dum soninho super bom do qual a minha inusitada chegada a despertou. Sinto culpa por isso, mas sobretudo medo da inexperiência dela. Contudo, dou-lhe um crédito e deixo-a examinar minha nareba, a esta altura inchada e vermelha como um pimentão. Ela usa lanternas, pinças, espéculos, eu grito de dor só de olhar pra tudo aquilo, ela faz cara de impaciente, e nós desistimos juntinhas, em menos de 5 minutos. Ela dá o veredicto: só dá pra mexer nisso no centro cirúrgico, e no dia seguinte. Provavelmente porque, no dia seguinte, haverá um médico de plantão, e não um vestibulando de medicina. Ela prescreve um antibiótico e me manda pra casa. Saio desanimada, tão desanimada que resolvo encontrar uma amiga num barzinho, pra não deixar a noite passar em branco.
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Não bebo nada alcóolico por causa do antibiótico que eu ainda estou pensando se vou tomar. No bar, as pessoas falam alto e dentro da minha cabeça, embebida em TNT, em vias de explodir. Entrego os pontos e volto pra casa, inconformada com a idéia de cirurgia por causa dum piercing estúpido que resolveu entrar onde não devia. Lavo as mãos, sento na frente do espelho, me armo de cotonetes molhados em antisséptico e volto a manobrá-lo, decidida a devolver a pedra de zircônio novamente à pele. Forço a barra e voilá: a pedra atona com uma gotinha de sangue. Uso todos os antibióticos tópicos que tenho em casa e prometo a mim mesma que amanhã eu tomo o Keflex. Fecho a noite com vinho, Tylenol, Bach, aromaterapia e homeopatia pra acalmar meu coração.
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Não vai ser desta vez que eu farei uma lipoaspiração. Ufa!
O piercing não compensa.
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