O Restaurante Vegetariano
Era a primeira vez que ia ali. Venceu muita resistência e preconceito pra sentar àquela mesa forrada com toalha de cânhamo, e ficou ali sentindo o tecido com a ponta dos dedos, como quem enrola um baseado... distraidamente... até que chegou o garçom Que susto, o garçom: alto, lindo, bronzeado, educado e sorridente. Parecia saudável e não estava abatido nem cheio de olheiras, como ele sempre imaginou os vegetarianos. É mais seguro partir da premissa que o garçom de um restaurante vegetariano odeia carne e ama bichos, porque isso facilita bastante o processo da estereotipagem.
Depois de ouvir as sugestões do dia (feijoada vegetariana e chop suey vegano), optou pela feijoada e, quando o garçom pegou o cardápio de suas mãos, tocou discretamente seu indicador. Pode ter sido impressão sua, mas o cara lançou-lhe um sorriso logo em seguida. Um arrepio percorreu-lhe a espinha: viado! Aquele garçom, além de vegetariano, é viado. Teve ganas de correr porta afora em sua primeira experiência vegetariana, porque de repente passou-lhe pela cabeça, como um flash, uma fantástica teoria da conspiração para aviadar o ser humano através do vegetarianismo: primeiro ELES te aliciam com boa comida, provando que feijoada sem porco é possível e bom pacarajo, mesmo sem torresmo; depois fazem você amar tanto os animais com esse discurso de que "quem ama não come", que em poucos meses você estará chorando no meio de uma reunião de negócios porque a gravata de seda do cliente, para ser confeccionada, escravizou milhares de bichinhos da seda inocentes. Em pouco tempo terá de parar de ver TV, porque as propagandas de presunto e cadáveres industrializados de todo tipo te tirarão a vontade de viver. E porque todos vão dizer que virar a cara e espremer os olhinhos diante de uma picanha sangrenta é viadagem, e porque tem muito mais viado bonito que espada, um belo dia você se olhará no espelho de manhã e dirá: Bom dia, Monalisa!
Pensou, lá com seus botões, se o fato d'ele estar ali no vegetariano tinha alguma coisa a ver com o questionamento de sua virilidade. Ele era ou não macho? Sentia-se macho o bastante para pôr sua macheza à prova? É possível ser homem e não comer carne ou seria o vegetarianismo um regime alimentar feito sob medida para mulherzinhas e pessoas sensíveis em geral? A feijoada de tofu estava cheirando deliciosamente de longe, seu estômago rugia como um leão carnívoro e ele teve muita vontade mesmo de ficar pra ver. Mas, depois de tanto pensar, concluiu que não era o momento pra experimentar um prato vegetariano. Precisava voltar outra hora, mais fortalecido e seguro de sua orientação sexual.
Até porque, se aquele garçom, bonito daquele jeito, tocasse nele de novo, ele não ia querer fazer uma cena, virar mesa e quebrar tudo ali dentro só pra provar que viado de cu é rola.
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Sem querer pôr uma pilha, mas já pondo... (he he he)
Hoje haverá um almoço vegetariano beneficente em prol do SOS Vida Animal, no Restaurante Tempeh (Av. Primeiro de Março, 24, sobreloja - Centro), a partir das 12h. Estarei lá!!!
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