Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

terça-feira, novembro 21, 2006

Chucrute e A Lenda Urbana do Olho Furado

Passei os últimos 3 dias sem ver um pente. Antes de sair de casa, perguntava pra minha mãe: "Tá muito chucro?" Como as mães acham os filhos lindos de qualquer jeito, ela só sorria e dizia que adora meu cabelinho encaracolado. Bem... Encaracolado é modo de dizer. Depois de um banho sem pentear, meu cabelo fica "cheio"; depois de dois banhos, fica afro-soft; no quinto, quase-rasta. No sexto, só rapando-fora.

Então foram 3 dias e 5 banhos sem pentear o cabelo. Olho-me no espelho e não encontro palavras pra definir o monstro que criei. Cabocla Jupira? Uri Geller do pente de prástico? Carlinhos Brown? Não. Definitivamente, essa de cabelo chucro não sou eu, e sim minha ancestral do período paleolítico. Viva o leave-in e os cremes domadores de cachos rebeldes!

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Roga uma lenda urbana mineira que, certa vez, um homem conhecido por sua saúde de ferro - fruto de um pacto com um exu -, contraiu uma conjuntivite quase invalidante e resolveu aproveitá-la para desafiar a ciência e os limites do corpo humano. Para isto, passou uma semana completa sem pingar um colírio no olho escangalhado, esfregando-o bastante com a mão suja para precipitar o colapso dramático das estruturas oculares.

No dia em que a moléstia cancróide começou a lhe provocar dores perfurantes nos olhos, nosso herói acordou com uma bolha d'água no canto externo de seu globo esquerdo que o impedia de bater a pestana de cima na de baixo. O bravo seresteiro, sem se fazer de rogado, pegou uma agulha - esterilizada artesanalmente no fogão de sua cozinha - e tentou furar o próprio olho pra aliviar o inchaço na vista. A aventura, no entanto, não produziu nenhum derramamento de pus, sangue, água ou recheio natural de olho, para a grande decepção de nosso cientista maluco. Preocupado com a possibilidade de um vazio ocular, o valente fura-olho finalmente cedeu às pressões de sua namorada e foi a um oftalmologista, que o cobriu de esporro e remédios, que o rebelde candidato a cego se recusou a usar.

Dizem que hoje ele ainda disfarça a cegueira do olho esquerdo com uns óculos de soldagem. Por baixo daquelas impenetráveis lentes negras, no entanto, um olho mumificado dá testemunho de que o homem moderno perdeu definitivamente o instinto pra sobreviver sem a providencial ajuda da Medicina.