Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Rainha Negra

Não é privilégio de poucos, eu sei, mas eu tenho muito orgulho de descender de negros. Minha tataravó foi trazida da África em um navio negreiro e, aqui chegando, foi traumaticamente separada de sua irmã no mercado de escravos. Minha bisa nasceu livre pela Lei do Ventre Idem e criou minha avó, A Grande Matriarca, com a noção de que família é coisa pra se manter unida a qualquer custo. Qualquer custo sendo, entre outras coisas, passar um ano se aguentando num sub-emprego e indo diariamente ao gabinete do Presidente JK, no Palácio do Catete, para lhe pedir um cargo público que possibilitasse o sustento e a união de seus sete filhos, abandonados pelo pai, um italiano de caráter menor. JK acabou cedendo. Nesse ínterim, contudo, as sete crianças foram espalhadas por colégios internos subsidiados pela LBV. Apesar da diferença de idade, todos aprenderam a ler e a escrever na mesma época, porque não havia escola na roça. E todos driblaram as estatísticas da miséria, graças à coragem e à perseverança de minha avó.

Por toda a garra dessa rainha negra, minha avó, a maior matriarca que já conheci, às vezes eu sinto mesmo pena de não pertencer à geração anterior. Não que eu não quisesse ser filha de minha mamma, mas, por uma geração a menos, eu poderia ostentar na pele a beleza de minha origem.

Como consolo, resta-me a bunda -- enorme, redonda, do tipo que samba sozinho. Prova inequívoca de que eu não tenho um pé na Alemanha.

Feliz Dia da Consciência Negra a tutti!


PS: Além de minha vó, que nunca me sai da memória poética, este post também foi inspirado num belo presente musical (homônimo) que a Jussara me mandou por e-mail hoje de manhã. Obrigada, querida!