Beleléu (pro mermão, papai Ito)
Beleléu é um monstro que, dizem as más línguas, invade domicílios quando todos dormem e leva os brinquedos que as crianças deixam espalhadas pelo chão. É por isso que muita gente diz, sobretudo quando perguntamos "Ué, cadê aquele carrinho HotWheels que eu deixei aqui?": Bicho, foi pro Beleléu. O Beleléu é foda.
Eu e meu sobrinho, o fantástico devorador de pilhas, temos verdadeiro pavor do Beleléu. Meu irmão diz que viu o Beleléu uma vez e ele é horrendo de tão feio, tem uma perna só (mas o pé é tão macio que ninguém o ouve chegar) e, pra piorar a monstruosidade, ele não depila a única perna que tem. É uma coisa nojenta, cabeluda, com pêlos descoloridos por Blondor. Enfim, tenho certeza de que vocês já foram vítimas do Beleléu alguma vez na vida, mas certamente ninguém sabe que o monstro-ladrão é feio de doer.
Pois estava eu em Salvador, na pipoca da terça de carnaval, quando senti mãos masculinas na minha esbelta cintura. A gente sabe logo se a mão é de homem ou de mulher pelo cascume da pele e pela pegada: mulheres são delicadas, têm mãos de seda e ficam cheias de dedos antes de pegar; homens são cascudos e, quando prestam pra alguma coisa, têm uma pegada característica e sabem onde pegar pra impressionar.
Normal, pensei, estar no meio de uma multidão com 100 pessoas por metro quadrado e um canalha qualquer se aproveitar da situação pra alisar a boazuda da frente. Mas, na verdade, eis que o canalha era o Beleléu. E o filho da mãe, que já tinha me levado 50 reais na véspera (bem, 25 meus e 25 da Tia Daisy), estava novamente tentando se dar bem pra cima de moi, palpando meu corpitcho pra descobrir onde estava o fecho da pochete de corrida (absolutamente magra, discreta e feita de tecido antibacteriano e auto-secante) que eu carregava sob o arghbadá customizado. Antes que ele encontrasse o fecho, eu comecei a gritar: ROUBARAM MINHA POCHETE! ROUBARAM MINHA POCHETE! ROUBARAM MINHA POCHEEEEEEETE!!!!
Cabe um parêntese aqui: pochete é um ítem demodé extremamente proibitivo para pessoas antenadas como eu, mesmo sendo da Track&Field. Podia ser até uma pochete Gucci, mas imaginem vocês se alguma maison que se preze se daria o trabalho de fabricar uma pochete! Tudo isto posto, pochete é algo que a gente nunca deve confessar que tem. Sobretudo no Rio de Janeiro, onde as pessoas reparam (mesmo). Se o Beleléu tivesse tentado roubar minha pochete no Rio, no Suvaco do Cristo, por exemplo, eu jamais gritaria "ROUBARAM MINHA POCHETE". Eu ia ficar na minha, puta e caladinha. Não vim a este mundo pra pagar King Kong.
Mas voltando a Salvador, onde eu sou estrangeira: niki eu gritei que roubaram minha pochete, roubaram minha pochete, roubaram minha pochete e dei uma gingada de capoeira, do tipo "lá vai a meia lua!", o mar de gente ao meu redor se dispersou e ficamos, eu e Beleléu, ali no meio do clarão. Na verdade, ficamos eu, Beleléu e mais dois caras. Como eu não tive a agilidade mental necessária pra ver qual dos três era perneta, agarrei a camiseta de todos, usando a potência máxima dos meus marombados bíceps e tríceps pra puxá-los em minha direção e urrei, olhando-os nos olhos, a plenos pulmões: DEVOLVE A PORRA DA MINHA POCHETE, CARALHO!
Outro parêntese aqui: se alguém for contar essa história pra uma criança, como eu contei pro meu sobrinho, evite repetir os palavrões que eu precisei usar no calor da situação. Troque "porra" por "droga" e "caralho" por "putz grila", por exemplo. Fica mais fofo assim.
Dois dos caras levantaram as mãos e suas respectivas camisetas no ato e disseram que não havia nada meu com eles; um dos caras, o Beleléu em pessoa, o da camiseta preta, jogou minha pochete no chão e correu. O lance todo durou uns 5 segundos. Eu peguei minha pochete numa poça que podia ser tanto de gelo derretido quanto de mijo, chequei se estava tudo lá (ingresso pro camarote, imagina se eu ia deixar o puto do Beleléu levar meu ingresso pro camarote!), e fiquei tão nervosa que nem tomei a iniciativa de correr atrás do monstro pra pegar de volta o Pégasus que ele levou do meu sobrinho, num dia em que ele estava cansado demais pra guardar todos os brinquedos.
Mas no dia seguinte, pra ele ficar ligado, eu disse pro Cara, meu fantástico engolidor de coisas estranhas: Bicho, o Beleléu usa uma camiseta preta.
Aí, depois desse confronto rápido com o Beleléu, eu e Tia Daisy ficamos um pouquinho estressadas, como vocês podem imaginar, e então decidimos ficar na pipoca (até nosso trio passar) no lugar mais seguro e alto astral do circuito Barra-Ondina: o distrito israelita, onde tem uma pousada em que fica metade da população jovem de Israel (fora de Israel) nessa época do ano. E os israelenses, como homens de verdade, lindos, másculos e lutadores de Krav Magá, sabem cuidar de mulheres à beira de um ataque de nervos como ninguém.
Antes, contudo, enquanto vencíamos os 200 metros de distância no meio da pipoca até o Israeli district, eu e Daisy, agarradas uma a outra e ainda tremendo de raiva do Beleléu, passamos por outra situação inóspita: Tia Daisy foi agarrada à força e beijada de língua (argh!) por um cara muito feio. Se fosse gato, tudo bem, a gente até poderia levar na brincadeira. Mas o erro do cara foi ser feio! Talvez o erro dele tenha sido nascer, mas como isso era um probleminha dele, e não nosso, enfiamos porrada no maluco. Eu, naquele pico de adrenalina em que não existe dor, alternava socos e tapas na cara com murros no peito do maníaco, enquanto a Daisy enfiava-lhe mil joelhaços no saco. Foi tudo tão rápido e divertido que eu nem sei quanto tempo se passou até que ele levantasse os braços, se rendendo e implorando para que nós duas parássemos de espancá-lo. Paramos, porque somos educadinhas, e seguimos, as duas, pela pipoca, onde as pessoas abriam espaço pra gente passar (porque ficaram com muito medo da nossa violência). Aí baixou uma onda criativa e inventamos, assim, de improviso, um singelo grito de torcida de futebol, que cantamos (caminho livre pra gente a bombordo, estibordo e etc) até chegar ao camarote israelita:
Moral da história: o Beleléu é foda, cuidado com ele. Nunca deixe seus brinquedos espalhados pelo chão e mantenha sempre uma distância segura de: 1) pernetas peludos, principalmente se eles estiverem de camiseta preta; 2) pessoas de pochete em geral; 3) mulheres com TPM. E se algum dia vocês encontrarem o Beleléu e conseguirem segurá-lo por alguns minutos, me chamem, porque eu vou adorar enfiar-lhe a porrada de novo e descobrir, usando métodos sórdidos de tortura, onde diabos o sacana enfiou aquela nota de 50 reais. Nem pelo dinheiro em si, seria mais pela diversão mesmo. Agora eu entendo porque os pitboys brigam tanto. Dar umas porradas de vez em quando é bom demais, sobretudo quando você é um peso pena de 50kg e o oponente tem pelo menos duas vezes o seu tamanho.
Eu e meu sobrinho, o fantástico devorador de pilhas, temos verdadeiro pavor do Beleléu. Meu irmão diz que viu o Beleléu uma vez e ele é horrendo de tão feio, tem uma perna só (mas o pé é tão macio que ninguém o ouve chegar) e, pra piorar a monstruosidade, ele não depila a única perna que tem. É uma coisa nojenta, cabeluda, com pêlos descoloridos por Blondor. Enfim, tenho certeza de que vocês já foram vítimas do Beleléu alguma vez na vida, mas certamente ninguém sabe que o monstro-ladrão é feio de doer.
Pois estava eu em Salvador, na pipoca da terça de carnaval, quando senti mãos masculinas na minha esbelta cintura. A gente sabe logo se a mão é de homem ou de mulher pelo cascume da pele e pela pegada: mulheres são delicadas, têm mãos de seda e ficam cheias de dedos antes de pegar; homens são cascudos e, quando prestam pra alguma coisa, têm uma pegada característica e sabem onde pegar pra impressionar.
Normal, pensei, estar no meio de uma multidão com 100 pessoas por metro quadrado e um canalha qualquer se aproveitar da situação pra alisar a boazuda da frente. Mas, na verdade, eis que o canalha era o Beleléu. E o filho da mãe, que já tinha me levado 50 reais na véspera (bem, 25 meus e 25 da Tia Daisy), estava novamente tentando se dar bem pra cima de moi, palpando meu corpitcho pra descobrir onde estava o fecho da pochete de corrida (absolutamente magra, discreta e feita de tecido antibacteriano e auto-secante) que eu carregava sob o arghbadá customizado. Antes que ele encontrasse o fecho, eu comecei a gritar: ROUBARAM MINHA POCHETE! ROUBARAM MINHA POCHETE! ROUBARAM MINHA POCHEEEEEEETE!!!!
Cabe um parêntese aqui: pochete é um ítem demodé extremamente proibitivo para pessoas antenadas como eu, mesmo sendo da Track&Field. Podia ser até uma pochete Gucci, mas imaginem vocês se alguma maison que se preze se daria o trabalho de fabricar uma pochete! Tudo isto posto, pochete é algo que a gente nunca deve confessar que tem. Sobretudo no Rio de Janeiro, onde as pessoas reparam (mesmo). Se o Beleléu tivesse tentado roubar minha pochete no Rio, no Suvaco do Cristo, por exemplo, eu jamais gritaria "ROUBARAM MINHA POCHETE". Eu ia ficar na minha, puta e caladinha. Não vim a este mundo pra pagar King Kong.
Mas voltando a Salvador, onde eu sou estrangeira: niki eu gritei que roubaram minha pochete, roubaram minha pochete, roubaram minha pochete e dei uma gingada de capoeira, do tipo "lá vai a meia lua!", o mar de gente ao meu redor se dispersou e ficamos, eu e Beleléu, ali no meio do clarão. Na verdade, ficamos eu, Beleléu e mais dois caras. Como eu não tive a agilidade mental necessária pra ver qual dos três era perneta, agarrei a camiseta de todos, usando a potência máxima dos meus marombados bíceps e tríceps pra puxá-los em minha direção e urrei, olhando-os nos olhos, a plenos pulmões: DEVOLVE A PORRA DA MINHA POCHETE, CARALHO!
Outro parêntese aqui: se alguém for contar essa história pra uma criança, como eu contei pro meu sobrinho, evite repetir os palavrões que eu precisei usar no calor da situação. Troque "porra" por "droga" e "caralho" por "putz grila", por exemplo. Fica mais fofo assim.
Dois dos caras levantaram as mãos e suas respectivas camisetas no ato e disseram que não havia nada meu com eles; um dos caras, o Beleléu em pessoa, o da camiseta preta, jogou minha pochete no chão e correu. O lance todo durou uns 5 segundos. Eu peguei minha pochete numa poça que podia ser tanto de gelo derretido quanto de mijo, chequei se estava tudo lá (ingresso pro camarote, imagina se eu ia deixar o puto do Beleléu levar meu ingresso pro camarote!), e fiquei tão nervosa que nem tomei a iniciativa de correr atrás do monstro pra pegar de volta o Pégasus que ele levou do meu sobrinho, num dia em que ele estava cansado demais pra guardar todos os brinquedos.
Mas no dia seguinte, pra ele ficar ligado, eu disse pro Cara, meu fantástico engolidor de coisas estranhas: Bicho, o Beleléu usa uma camiseta preta.
Aí, depois desse confronto rápido com o Beleléu, eu e Tia Daisy ficamos um pouquinho estressadas, como vocês podem imaginar, e então decidimos ficar na pipoca (até nosso trio passar) no lugar mais seguro e alto astral do circuito Barra-Ondina: o distrito israelita, onde tem uma pousada em que fica metade da população jovem de Israel (fora de Israel) nessa época do ano. E os israelenses, como homens de verdade, lindos, másculos e lutadores de Krav Magá, sabem cuidar de mulheres à beira de um ataque de nervos como ninguém.
Antes, contudo, enquanto vencíamos os 200 metros de distância no meio da pipoca até o Israeli district, eu e Daisy, agarradas uma a outra e ainda tremendo de raiva do Beleléu, passamos por outra situação inóspita: Tia Daisy foi agarrada à força e beijada de língua (argh!) por um cara muito feio. Se fosse gato, tudo bem, a gente até poderia levar na brincadeira. Mas o erro do cara foi ser feio! Talvez o erro dele tenha sido nascer, mas como isso era um probleminha dele, e não nosso, enfiamos porrada no maluco. Eu, naquele pico de adrenalina em que não existe dor, alternava socos e tapas na cara com murros no peito do maníaco, enquanto a Daisy enfiava-lhe mil joelhaços no saco. Foi tudo tão rápido e divertido que eu nem sei quanto tempo se passou até que ele levantasse os braços, se rendendo e implorando para que nós duas parássemos de espancá-lo. Paramos, porque somos educadinhas, e seguimos, as duas, pela pipoca, onde as pessoas abriam espaço pra gente passar (porque ficaram com muito medo da nossa violência). Aí baixou uma onda criativa e inventamos, assim, de improviso, um singelo grito de torcida de futebol, que cantamos (caminho livre pra gente a bombordo, estibordo e etc) até chegar ao camarote israelita:
Tomá no cuNão sei porque, mas ninguém mais deu em cima da gente a noite toda. Só por via das dúvidas, eu mantive meus punhos cerrados até chegar em casa, de manhã cedinho, trêbada (open bar no camarote Skol) e feliz por ter passado um carnaval tão pacífico na ainda mais pacata terra de Nosso Senhor do Bonfim. A baianidade nagô gruda na gente, é incrível.
Vai se fudê
Eu vim aqui só pra bater!
Moral da história: o Beleléu é foda, cuidado com ele. Nunca deixe seus brinquedos espalhados pelo chão e mantenha sempre uma distância segura de: 1) pernetas peludos, principalmente se eles estiverem de camiseta preta; 2) pessoas de pochete em geral; 3) mulheres com TPM. E se algum dia vocês encontrarem o Beleléu e conseguirem segurá-lo por alguns minutos, me chamem, porque eu vou adorar enfiar-lhe a porrada de novo e descobrir, usando métodos sórdidos de tortura, onde diabos o sacana enfiou aquela nota de 50 reais. Nem pelo dinheiro em si, seria mais pela diversão mesmo. Agora eu entendo porque os pitboys brigam tanto. Dar umas porradas de vez em quando é bom demais, sobretudo quando você é um peso pena de 50kg e o oponente tem pelo menos duas vezes o seu tamanho.
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