Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quarta-feira, abril 11, 2007

A falta que o celular não faz.

Estou há uma semana sem celular. Ou melhor, há uma semana com celular, só que num esquema pai-de-santo: o aparelho só recebe, mas não dá nada em troca.

Descobri que um telefone celular que não faz ligações pára de tocar em 4 dias: as pessoas só ligam pra quem liga pra elas. É um orgulho bobo, mas extremamente coerente nesse contexto individualista, capitalista selvagem e Madre-Teresa-de-Calcut-é-rola.

No sexto dia sem fazer ligações, um ou outro telefonema de trabalho irrompe o delicioso silêncio que o celular moribundo me permite curtir: meu coração dispara quando vejo que o prefixo é de São Paulo, e de repente eu tenho um insight: o BINA tornou o ser humano paranóico. Há várias coisas que eu preferia não saber, como o dia em que vou morrer, o sexo do meu primogênito (eu definitivamente ficaria decepcionada se não fosse menina, mas passar 5 meses sabendo desta merda irreversível iria me transformar numa grávida desgovernada) e se a pessoa do prefixo 11 está do outro lado da linha, puta e engravatada, num escritório climatizado para nativos da Sibéria na Paulista, querendo saber por que raios não recebeu ainda o trabalho que eu prometi pra ontem.

PORQUE AQUI TEM PRAIA, PORRA! VAI SER RECALCADO ASSIM NO ITAIMBIBI!

No sétimo dia, deixei o telefone desligado 90% do dia, para condicionar aqueles que ainda insistem em me ligar a só falar comigo em meu confortável ambiente doméstico ou pelo Skype. Vou seguir dando um tratamento de choque nos meus contatos até que todos esqueçam que eu tive um celular um dia. E parem de me mandar torpedos que eu não responderei. E parem de tentar deixar recados na caixa postal que eu cancelei. E que nem sonhem com a possibilidade remota, remotíssima d'eu porventura ter aquele serviço mala sem-alça das operadoras que avisam quem diabos te ligou enquanto você estava meditando, cagando ou dormindo de celular desligado.

Quando eu medito de celular desligado, eu fico repetindo ad nauseum um mantra para lobotomizar o Universo: quero ser telepata, quero ser telepata, quero ser telepata, não custa nada ser telepata, me deixa ser telepatinha, Seu Universo, pufavô... Cheguei à dura conclusão que a telepatia é a única forma econômica de não perder os amigos; ou seja: sem precisar usar um telefone ou um computador. As pessoas estão muito viciadas em comunicação, perderam a tradição dos tambores, do pombo correio, do correio em si, dos sinais de fumaça... Quantas pessoas vocês conhecem que ainda passam telegrama fora do ambiente de trabalho?

De minha parte, acho que a comunicação rápida-urgentíssima virou uma espécie de droga altamente viciante. A gente acaba falando mais do que necessário e escutando -- ou o que é pior: se escutando! -- menos do que precisa. Dando voz à Pollyanna moça que mora em toda mulherzinha pós-TPM, eu confesso estar muito contente com a primeira lição que a bancarrota financeira me ensinou: livrar-se do celular é ter um dia 20% mais produtivo e 150% menos estressante. Se você não é japonês, Cora Rónai, presidente de alguma empresa ou médico, jogue esta merda no lixo imediatamente. E tenha fé: sua vida vai melhorar!

Se não melhorar, procurem o Flávio Felipe, meu gerente do Real, ou minha psicanalista. Seja lá a merda em que vocês se encontrem, eles darão um jeito. Com juros e joelhaços, mas isso é probleminha de cada um.