Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quinta-feira, outubro 30, 2008

Coisas que não perdoamos pelo caminho

Feriado do servidor público

Ouvi no rádio, dia desses, uma propraganda do governo federal que dizia mais ou menos assim: "Você conhece o Monteiro Lobato escritor, seus livros e idéias incríveis, mas provavelmente não sabe que ele também foi um funcionário público." E depois vinha a vinheta lembrando que dia 28 de outubro é dia do servidor público.

Nas entrelinhas, eu li: "28 de outubro, galera: dia desse grande merdalhão que você odeia gratuitamente. No entanto, segure seu preconceito, pois o cara atrás do balcão até pode ter um cérebro ou, quem sabe?, um coração."

Seria mais ou menos como dizer que o Flamengo sempre foi um time de pernas-de-pau, mas o Zico, em compensação, ó: um grande poeta! Ah, eu não perdôo os publicitários que fizeram uma campanha idiota dessas. Podem até dizer que estou defendendo os meus, mas duvido que os mentores dessa campanha sejam funcionários concursados. Devem ser, isto sim, uns moleques de 12 anos fazendo estágio na licitação ilícita de algum tio.

Aliás, o feriado do funcionário público será celebrado nesta sexta, dia 31, pela municipalidade do Rio de Janeiro. Vamos ver se a gente consegue tirar 917 mil eleitores cariocas do Rio desta vez pra provar que o Cabral é bom e o Dudinha é Paes e amor. E que tanto faz a data do feriado, desde que os eleitores com cacife pra viajar sejam eleitores do outro.

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A Vaca Leviana

Passa o tempo, passa a vida, mas se tem uma única figura não-genérica no planeta Terra que eu odeio de verdade, com todas as forças, se tem uma pessoa que eu não perdôo por nada, essa figura é a Vaca Leviana, por todas as maldades e o assédio moral que ela me aprontou.

Outro dia foi uma cabeçada do meu trabalho almoçar lá na feira dos paraíbas, umas 20 pessoas. Não sei quem começou, mas aquele almoço foi completamente dedicado a falar mal da Vaca Leviana, de como ela é pérfida, de como ela persegue as pessoas, de como ela não sossega até destruir, corroer e danificar a sanidade física, mental e social de seus desafetos. Alguém até falou que a mulher é tão louca que persegue a própria sombra, só porque a pobrezinha é mais alta. Acho que vou mandar uma carta pro Paes sugerindo que ele libere logo um alto cargo comissionado pra essa bruxa, senão todos os 600 servidores direta ou indiretamente ligados ao seu setor terão que nadar crawl em seu veneno, pelo menos até que ela tenha o seu DAS garantido.

Aliás, muito feio isso das pessoas se articularem pra manter os cargos que não lhe pertencem. Ainda bem que isso não acontece na Mangueira: a gente é favelado, mas tem ética e boas maneiras.

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Livros que acabam de qualquer jeito

Li somente agora "Travessuras da Menina Má", do Llosa. O livro ia bem, bem, até que o autor começou a confundir referências (conheceram-se num consultório ou num hospital? estavam doentes ou aguardavam notícias de uma amiga doente?) e, por fim, matou a heroína abruptamente. Abruptamente e, diga-se de passagem, de uma culpa católica sem precedentes históricos! Está explicado porque o Llosa quis ser presidente do Peru: porque sente muita culpa!

Não dá pra perdoar narradores que matam seus heróis nas últimas vinte páginas. Não está gostando da história, meu filho, vai pra outra, mas pára de dar essa morte moral pros personagens malvados; pára de achatar todo mundo em uma dimensão boazinha ou mazinha. Gente ruim não morre na vida real - taí a vaca leviana que não me deixa mentir -, então pra que se enganar? Eu fiquei tão vaca-leviana da vida com as Travessuras da Menina Má que me proibí, para todo e inesgotável sempre, de ler livro em que o mau morre no final. Como eu vou saber do fim antes de ler, não sei, mas não quero mais essa aulinha rasa de educação moral e cívica no meu ócio criativo.