Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sábado, outubro 25, 2008

Onda Verde e Rosa (com letra maiúscula, por favor)

Outro dia, saindo do trabalho, em vez de esperar 15 minutos pelo único ônibus que passa na frente da Mangueira, optei por pegar um mototáxi no ponto que fica na frente do IJV. Cheguei pros motoboys e mandei:
- Aê, chapeize: qual de vocês pode me dar um bonde até ali, na estação?
Um deles me olhou de cima abaixo e respondeu com aquela voz mais pastosa da provocação:
- E o cara, aí! A mulé é mó playboy, mas pelo menos fala a linguagem da gente, a linguagem do morro.
E eu, que sempre achei o meu linguajar bastante adequado a Botafogo, percebi somente então que o ser humano pode sair da Mangueira, mas a Mangueira não sai do ser humano jamais!

***

Um dos caras do portão do IJV, um sambista de voz rouca, denotativo inequívoco de sua aptidão à boêmia da Mangueira, me adora. Ele me chama de Morena, e eu o chamo, bem... de Moreno. Pois na semana retrasada eu tive um corpo a corpo com o Moreno. Coloquei-o contra a parede e perguntei em quem ele ia votar. No engomadinho do Eduardo Paes, ora! Novidade nenhuma, pois todo mundo sabe que o Chiquinho da Mangueira, aquele píula!, é Paes. Então, como era de se esperar, toda a Mangueira é Paes. Aí eu comecei a recapitular com o Moreno episódios recentes da história de nosso município, da carreira do Paes, do Gabeira e, não sei como (acho que porque o Moreno é artista), a gente acabou falando do exílio do Brizola no Uruguai e do Darcy Ribeiro no próprio Brasil. "No próprio Brasil?", perguntei eu intrigadíssima, e certa de que ele sabe mais do Darcy Ribeiro do que eu própria, porque o Moreno pelo menos não perde uma feijoada mensal da Mangueira, e todo mundo sabe que o Darcy é tema do samba-enredo da escola este ano. Este ano, aMangueira sabe mais do Darcy Ribeiro do que qualquer antropólogo chinfrim.
- Sim, Morena. O Darcy ficou exilado na Amazônia, lá no meio dos índios. Ele falava a língua daqueles índios lá todos. Os militares nunca ficaram sabendo que ele estava no Brasil, porque naquela época não tinha internet, celular e nem nada.

Ah, tá.

No final, depois de termos falado sobre Jango e o caceta, eu confessei pro Moreno o objetivo daquela conversa de lenga-lenga: "Moreno, cá entre nós, meu querido, na sinceridade total: eu só estou aqui gastando minha saliva porque quero que você vote no Gabeira, pô. Se não for por tudo que eu te disse, pelo menos vote nele por mim, que eu sei que você me ama." Aí ele pareceu ofendido:
- Mas Morena, se você queria que eu votasse no cara da sunga, era só dizer! Secamos garganta à toa, minha princesa: seu desejo é uma ordem!

E eu, que não podia me fazer de rogada, arrematei:
- Será que você consegue convencer uns 3500 até o dia 26?

Afinal, é só sublimar o rosa, porque o verde eles já têm.