Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sábado, outubro 18, 2008

Profissão: bonequinha de cinema

Odeio que me chamem de boneca, sempre odiei. Quando eu era pequena, não sei porque, eu tolerava "princesa" super bem, mas boneca pra mim era palavrão. Aos 12 anos, aprendi a dizer que boneca é o caralho e, desde então, a única boneca que eu poderia ser é a Boquinha Suja da Estrela, se ela existisse. Mas aí eu arrumei um namorado chamado Ken, e muitos desavisados, pra não perder a piada, têm me chamado de Barbie. É brincadeira, eu sei, e só por isso eu não dei um fim sinistro a esse povo todo: só pra provar que eu sou capaz de entender uma piada. Mas a raiva taí, ó, solta no ar, e eu precisei fazer alguma coisa com ela, senão essa massa maléfica de ódio incontido poderia se voltar contra mim. Então eu mandei a Barbie ao cinema para tentar entender como pensa o Bonequinho-Viu do Globo.

No início, Barbie não entendeu bem o que era pra fazer, por isso desperdiçou alguns baldes de pipoca em completo estado de ausência mental. Só depois da vigésima fita (e nós assistimos quase 100 entre as férias e o pós-operatório) ela começou a tecer alguns comentários sobre o que viu. E eis algumas das coisas que ela viu:

O Labirinto do Fauno (2006)
Não funciona nem como filme pra criança, nem como filme pra adulto. Pra criança, tem muita violência (aliás, este filme é altamente contra-indicado para quem acaba de operar o nariz, porque todas as cenas bárbaras de tortura começam com um esmagamento nasal); pra adulto, os efeitos especiais e as criaturas míticas são extremamente caidaços, dignos del grand circo de Passa Quatro. Salve a Lycra e as maquiagens baratíssimas! Uma pena: o enredo exigia uma produção mais bem cuidada.

The Fall (2006) - o título em português seria "A Queda"
"Tipo assim", Barbie tentou explicar, "esse é o filme mais bonito que eu já vi em toda a minha vida!". Ela insistiu tanto, que eu fui ver também. Tivemos que dividir um lençol pra evitar que um rio de lágrimas nos eletrocutasse em frente à TV, e quando o narrador depressivo começou a liquidar a fantasia da menina, personagem por personagem, Barbie pulava na cadeira e gritava: "NÃÃÃÃOOO!" E nós choramos tanto que não daria nem pra ler legenda. No fim, nós duas só tínhamos um pensamento fixo: ter uma filha igualzinha a atriz mirim romena que roubou todas as cenas.

Ensaio sobre a Cegueira (2008)
Tão incrivelmente perturbador que o cérebro da Barbie quase precisou ser resfriado em Coca Light. Depois de uma temporada no inferno, a heroína-que-vê recorda a bestialidade do homem ao ver uma matilha de cães devorando um cadáver. Logo em seguida, quando chora e um cão vem lhe lamber as lágrimas, ela percebe no animal uma humanidade que falta ao próprio ser humano. Barbie não entendeu bem o porquê, mas aplaudiu de pé. E nunca mais foi a mesma. Agora ela tem assunto pra tomar um Cosmo com o bonequinho-viu.