Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

terça-feira, junho 16, 2009

Mais uma doença terminal ridícula!

Eu não ia falar sobre isso aqui, não, mas achei que meu caso verdade poderia ser útil a você, leitor hipocondríaco, que assim como eu acha que toda febrícula é tuberculose e todo prurido cutâneo é um linfoma de Hodgkin. Desde que voltei do Peru, vinha tendo umas dores de barriga estranhas, que eu invariavelmente associava ao PF do Mangueira Mall (uma espécie de shopping ao lado do meu trabalho onde eu de vez em quando bato um pratão de arroz com feijão, fritas e algo que se assemelha a algum tipo de carne). Achava muito justo passar mal por comer batata frita, afinal eu fui criada em escola católica e tenho o binômio pecado X castigo internalizado no meu DNA.

Perdi um pouco de peso desde o início dos sintomas, mas até aí achei super normal: achei que estava perdendo peso por causa da corrida, da felicidade, do céu azul, sei lá mais por quê. Foi quando eu comecei a sentir náusea intermitente e a ter umas laricas bizarras (de baconzito, de queijo com mostarda, feijão com abacaxi, etc) que eu passei a achar que podia estar com algum distúrbio gastroentérico digno de nota. Passava dias sem sentir nada de anormal, até que os sintomas voltavam e eu dizia a mim mesma: Caraca, essa doença de Crohn tá me matando, melhor procurar um gastro pra ele pelo menos descartar o diagnóstico de rabdomiossarcoma.

Em vez de gastro, contudo, procurei um colega meu do hospital veterinário que trabalha no laboratório de parasitologia. Conversamos:

- Querido, você acha que eu posso estar com giardíase? Os cães têm giardia e ficam perfeitamente bem, até que rola um episódio ou outro de diarréia e vômito, eles devoram umas coisas estranhas, mas tirando isso a vida segue alegremente.
- Querida, você anda comendo salada na rua?
- Sim, ué. Como salada, sempre comi. Na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê.
- Então, me desculpe, mas você está é com ameba.
- Nã! Ameba?!? Ha ha ha. Só acredito vendo.
- Ué, então é só ver: numa lâmina, no meu microscópio.

Ele quis dizer, mas não disse (porque é fino): o seu cocô numa lâmina, no meu microscópio.

Adiei o quanto pude essa pesquisa, mas meu bárbaro apetite exótico só fazia aumentar e eu já estava vendo a hora em que eu comeria uma esponja dupla face, como fazem os labradores, ou roeria um pé de mesa ou um canto de parede, como fazem os filhotes endoparasitados. Resignada (e um pouco humilhada), levei o MIF pro meu colega, que logo em seguida me trouxe a notícia que eu estava criando uma quantidade surpreendente de amebas em minha barriguinha murcha.
(Isso tirou o peso de anos de quimioterapia das minhas costas.) Ele mesmo me prescreveu um remedinho de uso humano, eu tomei, e fomos felizes para sempre.

Confesso que sentirei saudade das amebas quando voltar a converter em banha corpórea tudo o que eu deveras como, mas que isto sirva de alerta a todos aqueles que comem salada na rua (ou no Peru, tanto faz). O IJV recentemente fez um levantamento da ocorrência de infestação parasitária em saladas cruas de self-services do centro e da zona sul da cidade, e os resultados são definitivamente impressionantes. É de fazer a gente repensar a batata frita, porque amebas raramente resistem a uma fritadinha.