Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quinta-feira, outubro 22, 2009

Escrever é um estado de espírito

Eu sei que vocês são inteligentes e já perceberam, então eu  resolvi que não há mais como disfarçar - e mais vale o homem que se assume, que aquele que se enruste: eu, Vanessa O., 30 e poucos anos,  estou sofrendo de "writer's block". Aliás, agora que eu descobri que isso é praticamente uma doença (com CID e tudo), tenho todos os motivos hipocondríacos do mundo pra assumir orgulhosamente minha mais nova moléstia mental em estado avançado putrefante. Hoje mesmo eu atendi um cachorro apresentando um odor cadavérico bastante suspeito na cavidade oral, mas foi só examiná-lo minuciosamente para perceber que o defunto que apodrecia era justamente a micro-porção do meu encéfalo que outrora me compelia a escrever.

O cerébro humano é composto por vários gominhos asquerosos, sendo um deles o responsável por inventar temas que poderiam render uma crônica, uma piada, um livro, uma campanha publicitária, um cartão de aniversário ou quiçá uma coluna de jornal. O bloqueio do escritor consiste, basicamente, na necrose existencial deste segmento gosmento específico do cérebro, o que faz com que seu portador fique completamente paralisado - chocado e petrificado - diante de uma tela branca. Os sintomas podem persistir por até 60 anos, segundo a wikipedia -- e vocês sabem que, depois do Google, a wikipedia é o orixá da umbanda que mais sabe das coisas no Universo.

Eu tenho cá pra mim que a vontade de escrever [compulsivamente] é inversamente proporcional à plenitude amorosa. Tudo bem, solteiras rancorosas, eu sou forte: podem me odiar, se isso lhes fará sentir um bocadinho melhor.

***

OK, vou usar meu último recurso de defesa.

Na verdade, o que acontece é que, ultimamente, eu só tenho vontade de falar sobre o meu trabalho. Afinal, o meu trabalho é o máximo! Eu mexo em cães e gatos o dia todo e ainda recebo um ordenad[inh]o pra isso; trabalho com uma equipe que adora o que faz e que, obviamente, adora conversar sobre... ora, o que mais? Trabalho! Aí, quando eu menos espero, percebo que meu universo se fechou numa coisa só (ou em duas, mas a outra eu não divido em blog) e minha fonte de assuntos diversos, outrora inesgotável, secou. Apesar da absoluta falta de [outro] assunto [maneiríssimo pá carajo pra elucubrar que não o meu trabalho fodástico rock'n'roll total], eu ainda convoco minhas tropas cerebrais e tento:

- Comentar a nova novela das nove, que tem uma heroína negra chata para ca-ra-lho que o público, tal qual ocorreu com a falecida Maria Eduarda, já se prontificou a matar. (não consigo chutar cachorro morto);
- Discorrer sobre o absurdo sem precedentes históricos que foi a bandidagem carioca ter abatido um helicóptero blindado da polícia com armamentos antiaéreos (mas quem, no mundo inteiro, não acharia?);
- Destilar meu ódio sobre a Polícia que não apenas livra a cara de autores de latrocínio, como lhes toma o produto do roubo e não presta socorro à vítima (perda de tempo e total clichê falar que a única coisa que diferencia um policial do bandido é a farda);
- Dizer que sinto uma saudade paralisante dos meus amigos - da Gabi, minha musa; da Marina, minha plataforma; do Tom, meu capuccino com ombrinho predileto, and so on -  mas meu tempo anda completamente distribuído entre as duas coisas que mais me empolgam na vida (e uma delas vocês já sabem qual é)...


... e eu estava aqui fazendo um esforço danado pra extrair algum outro tema da minha mente, quando me ocorreu que quanto antes eu terminar este post, mais rápido eu voltarei pro meu novo livro de cabeceira, "Oncologia em Pequenos Animais".

Para que algumas histórias tenham um final feliz, a criatura veterinária não pode - nunquinha! - parar de estudar.