Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

segunda-feira, abril 24, 2006

Adeus, Ibeas.


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Originally uploaded by VanOr.

Amanhã haverá um letreiro da Argh!Body Tech no lugar deste. C'est fodes.

Tributo à melhor academia de ginástica do Rio

A Ibeas Top Club cerra amanhã suas portas para dar espaço à Universal do Reino de Deus das academias de ginástica, a A!BodyTech. Hoje, em vez de arrastar minhas correntes de preguiça por seus corredores, máquinas e aparelhos, como eu deveria - que depois dos 30 não fica fácil pra ninguém -, tive uma crise de nostalgia: fiquei minutos a fio alisando seus letreiros e chorando diante dos quadros informativos depenados, prontos para a afixação dos novos horários e aulas da novargh! academia. Diante de tamanha ruína, não tive energia nem pra fazer meia horinha de esteira.

E olha que eu comi um cookie de chocolate contando com essa meia horinha!

Comecei a fazer ginástica na Ibeas em 1997. Era novidade pra mim malhar indoors, que toda a minha vida eu pratiquei, embora tenha sido péssima em tudo, esportes ao ar livre. Na época, eu tinha acabado de me formar e estava naquele limbo entre o fim das aulas e a emissão do diploma, sem o qual eu não poderia trabalhar, só estagiar. Mas como estagiar era o que eu mais tinha feito durante a faculdade, dei-me merecidas férias e fiquei sem ter o que fazer. Como a mente ociosa é oficina do demo, resolvi "malhar". Morria de rir ao dizer isso, achava super cafona tudo que parecesse ter saltado do roteiro fraquinho de "Malhação" e nutria um desdém medonho por todas aquelas figuras estereotipadas de academia: a loura boazuda de malha branca, o fortão que se admira no espelho entre uma série e outra de bíceps, o professor de musculação pegador profissional. Aí, não sei bem como a coisa se deu, mas em poucos meses eu era a boazuda de malha branca que fica na fila da frente da aula de local, fiquei super amiga de um professor de musculação que se tornou meu personal training a troco de permutas lícitas e morais e namorei uns 3 caras desses que levam espelho de bolso pra musculação. Ou seja, eu me misturei legal com aquela gentalha, tanto que eu quase sempre era confundida com uma marombeira qualquer.

Nesses quase 10 anos de Ibeas, eu fiz capoeira, street dance, kick boxe aeróbico - que depois virou aero-kick-boxe, que depois virou KiBoAe -, dança de salão, jazz, ballet, ginástica natural, ginástica sexual, dança do ventre, power yoga, hatha yoga, ashtanga yoga, swasthya yoga, xywkxyhw yoga, step, power step, body pump, body attack, body balance, body combat, body step, body jam, hip hop, axé, local, GAP (glúteos, abdome, pernas), alongamento, power ball (ou ball power, sei lá), body stretch, spinning, cycle indoors, RPM, circuito, circuitinho, circuitão, running class (aula de esteira, é mole?), pilates, rpg, aulão dentro, aulão fora, musculação, personal, hidro, sauna, drenagem linfática, limpeza de pele, manicure e, é óbvio, um sem número de amigos bacanas. E depois de fazer tudo o que eu tinha que fazer, série de braço e série de perna, rolava aquela ducha esplendorosa e um caipisakê de kiwi (sem açúcar!!!) com a galera e o dono da academia, André Ibeas. Pode parecer piegas, mas o fato de ele estar sempre conosco, alunos, na aula e na bagunça, no esporro e na cachaça, me dava a sensação de que eu não estava apenas queimando reais e calorias numa empresa, e sim de que eu pertencia a uma família.

Hoje eu não passo nem um quinto do tempo que eu passava numa academia em 1997. Peso 7 kg a mais, tenho quase o dobro da gordura corporal e, quando muito, metade da disposição. Mas o que vai ser mais difícil de superar neste cenário de devastação será o fato de que foi-se a empresa familiar e entrou um fast food em seu lugar: sem alma, sem história e, sobretudo, sem os rosas da marca e da família Ibeas.