Território livre
Cheguei à conclusão de que não é o trabalho que eu odeio. Eu odeio ter hora pra chegar e sair; ter de obedecer à carga horária estúpida que atropela a meta, aprisiona a mente, submete, achata e padroniza as criaturas.
Foi só pensar nisso durante o expediente, que eu senti um vento soprar dentro de mim. Fechei os olhos e, de repente, fez-se noite de verão: o céu estrelado, ainda claro da lua minguante, o barulhinho dos grilos e o inebriante cheiro de terra seca e quente misturado ao aroma do mato. Esse vento morno me transportou pro meu último ano de faculdade, em 1996; naquela época, eu entrava em meu carro e pegava a Dutra na madrugada a esmo simplesmente para pensar na vida, que então me parecia uma tsunami prestes a estourar em minha cabeça. A sensação de que o mundo me pertencia era assustadora e maravilhosa ao mesmo tempo. Eu oscilava do choro à euforia, e não raro largava o voltante para abrir meus braços, com os vidros abertos, e sentir aumentar a sensação de estar voando sobre o tapete negro do asfalto. Ou, pelo menos, de estar aprendendo a voar.
Hoje, quando senti esse mesmo vento no rosto, parei de sentir pena de mim por ser prisioneira de um tempo institucional ao qual jamais pertencerei. Posso até obedecer os horários de entrada e saída, mas serei sempre senhora dos meus ventos, e posso dar a eles a direção, a intensidade, os cheiros e a temperatura que eu quiser. Não sei se aprendi a voar ainda, mas de uma coisa tenho certeza: minha mente é território livre. E nenhum trabalho tolo, de carga horária inflexível, conseguirá tirar isso de mim.
Foi só pensar nisso durante o expediente, que eu senti um vento soprar dentro de mim. Fechei os olhos e, de repente, fez-se noite de verão: o céu estrelado, ainda claro da lua minguante, o barulhinho dos grilos e o inebriante cheiro de terra seca e quente misturado ao aroma do mato. Esse vento morno me transportou pro meu último ano de faculdade, em 1996; naquela época, eu entrava em meu carro e pegava a Dutra na madrugada a esmo simplesmente para pensar na vida, que então me parecia uma tsunami prestes a estourar em minha cabeça. A sensação de que o mundo me pertencia era assustadora e maravilhosa ao mesmo tempo. Eu oscilava do choro à euforia, e não raro largava o voltante para abrir meus braços, com os vidros abertos, e sentir aumentar a sensação de estar voando sobre o tapete negro do asfalto. Ou, pelo menos, de estar aprendendo a voar.
Hoje, quando senti esse mesmo vento no rosto, parei de sentir pena de mim por ser prisioneira de um tempo institucional ao qual jamais pertencerei. Posso até obedecer os horários de entrada e saída, mas serei sempre senhora dos meus ventos, e posso dar a eles a direção, a intensidade, os cheiros e a temperatura que eu quiser. Não sei se aprendi a voar ainda, mas de uma coisa tenho certeza: minha mente é território livre. E nenhum trabalho tolo, de carga horária inflexível, conseguirá tirar isso de mim.
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