Coisas do Povo Brasileiro (pra Jussara S.)
Povo Brasileiro, meu galgo iraquiano, um dissimulado produtor e soltador de armas químicas altamente mortais, ganhou esse nome porque, quando o trouxe da rua da amargura aqui pra casa e meu pai (um cara legal, mas algo nojentinho) viu aquele bicho estropiado, magro, com o corpo todo castigado por chagas mal cheirosas, disse:
- Tudo bem deixá-lo aqui até que se recupere, mas não quero "o povo" (fazendo cara de nojo) misturado com a gente.
Querendo dizer: não quero que ele saia da área de serviço.
Pois o cão ficou bom, foi adotado por uma família com crianças, mas foi logo devolvido porque criou uma tara sexual pela batata da perna (branquinha, branquinha) do pai das crianças, e não pegava bem pra um honrado chefe de família tentar passear com seu cachorro enquanto este ficava tentando cruzar com sua batata tesuda. Aceitamos o galgo de volta (porque a gente sempre se apega àqueles cuja vida salvamos, sobretudo se eles têm algum tipo de perversão sexual hilária), pedimos perdão ao cão por termos permitido que pessoas estranhas o chamassem de Mickey por 30 dias e eu mandei fazer uma plaquinha com o nome e sobrenome dele: Povo Brasileiro. Nome que o Povo entendeu imediatamente lhe pertencer, como se tivesse nascido com essa informação gravada em seu DNA. Ele aprendeu na mesma hora o que significava "coleira" e "passeio", e eu tenho a impressão de que, se o Povo fosse uma criança, ele seria um daqueles gênios que aprendem a ler, escrever e calcular em que dia da semana cairá 27 de outubro de 2099 antes de sair das fraldas.
Naquele mesmo mês, durante o horário eleitoral, estava o Povo em seu sofá que ele emprestava pra gente (sim, os cães são mais generosos que os humanos), quando minha mãe percebeu que o cara estava aflito com alguma coisa: ele sentava, levantava, olhava em volta, mas na TV não tinha nenhuma Lassie boazuda, nem tampouco uma panturrilha branca e sensual, apenas uma corja de políticos safados vendendo seu peixe podre. Foi então que nós percebemos que a toda vez que um cretino falava "porque o povo quer", "o povo precisa", o povo isso, o povo aquilo, o meu filhote, meu pequeno Einstein canino, sabia que o estavam chamando de algum lugar dentro da TV.
Esse nome, Povo, propiciou algumas situações engraçadas, como uma vez em que meu pai foi passear com o Povo e a Radija no bosquinho do condomínio e eles fugiram pra ter um pouco de privacidade. Como o Povo era mais antigo com a gente e a Radija era filhote e pouco conhecida onde moro, uns meninos conseguiram agarrá-la e sabiam que ela era a "irmã" do Povo, mas não sabiam o nome dela, nem o do condutor dos cães. Então puseram-se a gritar pelo meu pai, que ainda se embrenhava no mato em busca do Povo, para alertá-lo de que tinham pego um dos meliantes caninos: "Ô hômi do Povo, hômi do Povo!".
Minha mãe ficou muito aliviada de não ter saído com os peludos nesse dia, porque ia pegar malzão se saíssem por aí, gritando pra ela: "Ô mulé do povo, mulé do povo!".
PS: o blogger é uma entidade com vontade própria, e hoje ele não aceitou que eu subisse as fotos que tenho do Povo. Mas imaginem o galgo iraquiano mais bonito do mundo: o Povo é cinquenta vezes isso.
PS: o Povo, apesar de castrado no ato do resgate, há oito anos, ainda é um tarado sexual. Em Miguel Pereira, ele tem uma almofada para dormir e outra pra molestar. Não raro, chegamos em casa e encontramos a dita cuja largada no meio do campinho, pra onde ele leva suas vítimas de abuso sexual e as abandona depois de satisfeito. A Radija, que é inocente e casta porque foi castrada antes do primeiro cio, sente muito medo do irmão quando ele banca o esquisitão e, por via das dúvidas, fica sentada com a rabiola grudada no chão enquanto ele não volta ao normal.
<< Home