Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Celulite


Que isto sirva de consolo a todas as mulheres que nunca foram magras: eu tenho celulite desde os 14 anos, quando eu tinha essa mesma altura (1,60cm) e pesava 41kg. Ou seja, descobri que tinha celulite quando era tão magra, que não tinha nem um vestígio de bife no braço que servisse pra aplicar uma droga duma vacina antitetânica! Tudo bem que minha celulite infantil não era assim, nenhuma casca de laranja! Era algo tão unusual, que um dia, farta de elocubrar sobre, perguntei pra minha mãe o que poderia ser aquele furinho na banda direita de minha bunda, ao que ela me respondeu, muito naturalmente (para o meu choque): "Celulite, ué. O que mais seria?"


Desse dia em diante, eu posso dizer que me tornei uma mulher. Não foi depois da primeira menstruação, nem da primeira transa, nem do primeiro contracheque. Precisei ter celulite pra me sentir uma mulher de fato, pra ter vontade de folhear revista feminina, pra fazer minha primeira limpeza de pele e comprar meu primeiro creme anti-rugas, tomar 2 litros de água por dia e escolher biquinis e roupas que não evidenciassem nem piorassem muito aquilo que me acompanharia pro resto da vida: a féladaputa da celulite.

Hoje em dia, não tenho -- juro! -- a menor neura de celulite. Não somos amigas, entendam bem. Eu sei que ela existe, mas tento pensar em coisas mais trágicas, como o Lulla-lá-de-novo ou o acidente aéreo e os pilotos americanos cretinos que o causaram. Por outro lado, também não somos (mais) inimigas: parei de usar contra a celulite todas essas massagens, bandagens, injeções, fricções e pomadas que fazem parte da luta diária de quase toda mulher que usa biquini e não casou ainda. Porque a luta contra a celulite, convenhamos, cai a zero depois do casamento.


Pra não dizer que me tornei um homem no que concerne o tema celulite, confesso que de vez em quando ainda compro e (semi)uso uns creminhos. Me divirto com as propagandas e as modelos esqueléticas que esses publicitários LOUCOS escolhem para os banners de farmácia chique. Outro dia, na Farmalife (a farmácia da leitora de Marie Claire), vi um creme da Nivea com o singelo nome de "Bye-bye, celulite". Tive um espasmo tão forte que precisei me sentar no chão, no meio das gôndolas, pra não me mijar de rir. Quando a vendedora veio me oferecer ajuda, eu perguntei:

- Meu bem (é assim que eu falo quando estou muito puta), eu quero saber quem eu processo se minha celulite não for embora com este creme.

Por um momento, achei que ela fosse arrancar da cara aquela maquiagem cafona, de sombra verde, e sentar no chão comigo. Mas a moça foi profissional, e disse:

- Entendo, senhora... (é assim que elas falam quando estão muito putas) Eu tenho aqui um outro creme que é muito mais eficiente no combate à celulite. E custa apenas 120 reais a mais em nossa promoção do mês.