VanOr responde
Fiquei muito feliz por saber que você está enfrentando seus medos -- afinal, medo de cu é, mais do que definitivamente, rola --, mas eis que um curto e grosso surto de auto-análise me fez perceber que quem não vem enfrentando medo algum sou eu mesma. Pois veja você que me chamaram pra ir ao Fla X Flu desta semana no Maraca e eu declinei, alegando justamente... medo!
VanOr, há coisas a meu respeito que você jamais poderia imaginar: eu sou pouca coisa mais alta que o botão do sexto andar do elevador, mas pedalei muito a minha Caloi aro 26 pelas ruas cheias de carro desta cidade; mandei muito motorista apressadinho tomar no rabo; fumei meu primeiro cigarro e disse meu primeiro palavrão cabeludo na pré-escola, quando os amigos da minha mãe ainda insistiam em me dar adesivos e canetas perfumadas da Hello Kitty, que eu sempre trocava por maconha e livros de filósofos que te dariam medo só de pronunciar. Só estou dizendo isso porque era essa a referência que eu tinha de mim mesma antes de recusar o Fla X Flu por medo das torcidas mafiosas (a gente lê no jornal tanta coisa, menina!...). Foi isso e ler seu texto, que eu olhei em volta e vi no que me transformei: a feliz proprietária de um Shi Tzu, um cachorro-pompom cenográfico que drenou muito da minha tradicional valentia. Se bobear, meu próximo passo será fazer balé, entrar num curso de bordado, pintar unha à francesinha e comprar um pacote com dez sessões de drenagem linfática.
Começo a me desesperar. Não sou nem metade do cabra-arretado que fui um dia. E agora, José? Descaso e compro uma bicicleta?
beijos,
Biga Taddei-Taddado
VanOr responde:
Cara Taddei-Taddado (quem deu foi relaxado),
O Shi Tzu, por si só, não é sintoma de nada. Seria se você ficasse trocando provações da vida real por sessões de Barbie Hair com o pobre peludo. Como este ainda não é o caso, nem tudo está perdido. Proponho o seguinte programa terapêutico para que você possa ter o mínimo de dignidade ao passear com seu pimpão na rua:
1) Não use lacinhos em seu Shi Tzu. Lacinhos drenam a virilidade do dono. O cachorro, mesmo, não tá nem aí. Caso você insista nos lacinhos, e eu não te culpo por isso (afinal, eu também não tive uma Barbie Hair), examine a genitália externa do animal (fica sob o pêlo, acredite) e verifique se ele é macho ou fêmea: use rosa, se for menina, ou azul, se for menino;
2) Diga pra todo mundo que ele é um animal feroz, dissimulado e que já matou três. Ensine-o a rosnar e latir (com voz grossa) quando você disser isso. Se necessário, ajude-o a fazer a voz grossa. Use técnicas avançadas de impostação vocal;
3) Leve seu Shi Tzu ao Maraca e diga pra todo mundo que você não teria coragem de ir sem ele, seu guarda-costas assassino. Use uma focinheira cenográfica, estilo Hannibal, the Canibal, pra impressionar. Procure não usar nele nenhuma coleira de strass nessas ocasiões, porque os marginais, na pressa, podem roubar o cachorro pelas pedras falsas;
4) Ensine seu cão a ficar louco e correr atrás do próprio rabo sempre que um jogador de seu time perder penálti. Entre dois cachorros absolutamente iguais, aquele que entende de futebol é um ser humano melhor.
Você vai ficar bem, tenho certeza. Quanto à perda da valentia, bem... algumas coisas se perdem com a idade e o casamento. Mas, cá entre nós: você já andou bastante de bicicleta. Pode brincar de casinha, agora.
bjs,
VanOr
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