Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sexta-feira, junho 01, 2007

Raul, rally & Daisy & son, etapa BH de Outdoors Mitsubishi

Eu sei que já tem um tempinho, tipo "quase duas semanas", mas acho que ainda há chance d'eu me redimir da falha grave de não ter feito a cobertura pseudojornalística completa de um dos melhores finais de semana de minha vida: o final de semana de 18 a 20 de maio de 2007, em que eu participei, quase que simultaneamente, de meu primeiro rali outdoors, de minha primeira trilha ecológica barra-pesada-ligeira no cu do Judas de Minas Gerais e de minha primeira corrida de rua de 10km em plano quase desumanamente inclinado. Analisando friamente, foi muita emoção e energia pra um final de semana só, e talvez por isso (mas são só conjecturas!) eu tenha surtado a ponto de gripar e quase realmente necessitar de uma eutanásia humanitária, mas sorte que quase é "quase que praticamente" um estado subjetivo-dramático-hiperbólico de espírito e que, como todo humor melhor ou pior (na escala Richter) ou vontade irrefreável, é só dar que passa. Enfim -- não vou entrar em detalhes --, passou.

Então eu cheguei na bela Belzonte, a capital internacional da família Lau em Minas Gerais, no final da tarde fria de sexta, 18 de maio de 2007. O Lau, homem símbolo de todo um estado geopolítico de espírito, foi me buscar no aeroporto e me ajudou a acertar os últimos detalhes (de última hora) de nossa participação no rali Mitsubishi Outdoors, no dia seguinte, com a Daisy e o Raul, ou com o Raul-Rally-Daisy&son, um casal tão afim que desperta desconcertantes pensamentos de neurocirurgia em gêmeos xifópagos no mais leigo dos mortais. Pois bem: da estrada, em algum ponto obscuro entre Rio e BH, Daisy e Raul me ligavam de vinte em vinte minutos pra pedir uma missão, pã-pã-pã-pã-pã-pã-im-pos-sí-vel, como arrumar um colete salva-vidas, um bote salva-vidas, um frasco de cola e uma tesoura antes que todas as lojas de Minas Gerais fechassem. Como roaming é coisa de rico, e rica eu definitivamente não sou, eu não questionava nada: entrava na internet, a mãe dos desperados, e procurava onde carajos, no cu de Minas, de preferência no perímetro de Santa Efigênia, eu poderia conseguir um colete salva-vidas entre nove e meia da noite de sexta e oito da manhã de sábado. O rali outdoors, pra quem não sabe, é uma espécie de gingana desportiva em que o carro é só uma ferramenta comercialóide de inclusão social.

Pouco depois de meia noite, chegam ao Café do Sol, bar do Lau ainda sem site na internet (absurdo!), os fatigados viajantes Raul-rally-Daisy&son, que tinham acabado de passar no ponto de encontro do rally para adesivar a pick-up e confirmar a participação na prova. Jantamos com eles, o Lau parecia em dúvida se ia ou não, e eu, como toda mulher raçuda diante de um homem indeciso, decidi que ele ia, sim, ué, que história era aquela de preguiça? O ser humano comum pode até ter preguiça de trabalhar, de acordar, de sair da cama em um frigorífico dia de inverno, mas nenhum Homo sapiens comum tem o direito de se recusar a ir prum rali: esta possibilidade é facultada apenas aos bem dodoizinhos da cabeça, aos bem velhinhos e aos bem caidinhos física ou sexualmente, de uma forma ou de outra.

Eu sei que ando prolixa, por isso vou tentar abreviar: o nosso rally começou às 9h35 de sábado e terminou às 15h. Nesse interim, montamos uma equipe (integramos uma Pajero com três mineiras l-i-n-d-a-s que nunca tinham participado de um rally e, portanto, estavam sendo descriminadas pela macharada preconceituosa que costuma compor esse tipo de prova espada) ganhamos um mapa e uma lista de postos de chegada (PCs), cada qual com uma pontuação, montamos uma estratégia para fazer o maior número de pontos nas cinco horas de competição (a cada minuto excedente, os participantes são penalizados em 10 pontos), acertamos a frequência de nossos walk-talks (cada carro da equipe ficava com um, e não podia se afastar do outro por mais de 100 metros, sob o risco de sofrer a penalização de 500 pontos e a desclassificação, em caso de reincidência) e caímos na lama. O Raul nos ensinou tudo, a Daisy pilotou o carro alfa da equipe, eu e o Lau corremos os 7 km da trilha ecológica sinistra, com armadilhas para fraturas expostas a cada 100 m, as meninas de BH usaram de seu charme, simpatia e beleza pra realizar algumas das tarefas mais "pontudas" e, assim, para a felicidade geral da nação e nosso personal deleite, terminamos em um terceiro inusitado lugar. Subimos ao pódio sob aplausos e a alcunha significativa de "As Patricinhas de BH", já que a equipe era composta prioritariamente por mulheres lindas da capital, e isto causou um agradável constrangimento geral entre os leitores e punheteiros da revista Quatro Rodas, muitos dos quais integrantes das outras 34 equipes participantes que não tiveram tanta sorte, desempenho, charme, talento e air bag.

Quando chamaram ao pódio, pelo microfone, "As Patricinhas de Belo Horizonte", dizendo em seguida que este era o nome informal da nossa equipe "Arsenal", eu e Daisy nos olhamos, gritamos que patricinha de cu é rola! (foi maior que nós) e ficamos amigas desde criancinhas daquelas meninas de fino trato que, segundo o Lau, nunca usaram um xampu de menos de 80 reais na vida. Justiça seja feita, elas não foram nada patrícias nas cinco horas de árduo trabalho em equipe: enfiaram uma Pajero (que provavelmente custa mais do que minhas córneas, fígado e rins no mercado negro de transplantes) numas estradas estranhíssimas e empoeiradas, participaram das tarefas sem medo de quebrar as unhas perfeitamente cuticuladas e pintadas e, sobretudo, curtiram tudo e não reclamaram de nada: nem de não saber colocar tração 4x4 no carro que provavelmente só havia circulado antes em asfaltos lisinhos. O Raul, é claro, foi de grande valia numa hora dessas, porque além de rally-seir&son experiente, é um grande humanista e um homem que se difere dos demais por priorizar a alma à casca. Sorte nossa o rali ter inscrito uns babaquaras que recusaram em suas equipes as nossas meninas, Renata, Julia e Marcela, as lindas que arrebentam a boca do balão e que vocês conhecerão nas fotos a seguir.

***

Dia 16 de junho haverá a terceira etapa deste rally em Brasília, e tudo indica que estaremos juntos nesta, encore une fois. Estou buscando um patrocinador para isto, mas até lá vocês terão mais detalhes dessa busca instigante pelo dinheiro alheio para a diversão própria. Vejam bem: há gente excêntrica para tudo!


Uma das meninas de BH, que pode perfeitamente ser a Júlia ou a Marcela, mas também pode ser a Renata. As mineiras me confundem.

Ouro Preto: uma das tarefas mais "pontudas" exigia que colássemos, em uma maquete, cada igrejinha histórica em seu devido lugar. Ponto pro charme das mineiras, que obtiveram a informação de fontes masculinas locais, utilizando-se para isto de métodos sórdidos (mas extremamente honestos) de sedução, hair-flip e simpatia-é-quase-amor.


Carros da equipe: o alfa (do Raul) e a Pajero (das meninas de BH). Na Argentina, pega mal dizer "pajero" (punheteiro, em castelhano), então diz-se "Montero". Há. Full of shit.

Raul, o líder da Arsenal, montando uma "estratégia", o que quer que seja isto, com as gurias.

Tarefa cultural num dos PCs da prova: preparar suco de goiaba com limão. Disseram que é muito bom, mas eu e o Lau estávamos comendo o pão que o diabo amassou na trilha inóspita em algum lugar entre o cu do mundo e o lugar onde Judas perdeu as botas. (que exagero, claro: foi uma delícia correr naqueles 7km cheios de pau, de pedra e de fim de caminho).

Arreda, Mimoooooosa, que lá vai patusca!

O carro dois da equipe: as panteras detonando.

Entrevista numa hora dessas: "Qual é a estratatégia de vocês?". A resposta foi uma sonora gargalhada. "Como assim, estratégia? A gente só queria fazer o máximo de pontos nas cinco horas regulamentares de prova, oras!" Eu, heim... estratégia!.. Essa gente é doida.

Primeiro lugar e champagne no pódio. É de verdade, não é cenográfica, não. Dá até pena.

Raul e as meninas raçudas de BH: achado de última hora.

Pós-pódio: ganhamos um mastercard platinum "de bolso" (mais simbólico que qualquer outra coisa). De trás pra frente, da esquerda pra direita: Raul, Lau, Renata, Daisy, eu, Renata e Marcela. É possível que eu tenha trocado o nome das meninas, e eu já peço perdão por antecipação se fiz isso, mas como a prova é toda feita em dois carros separados, fica difícil associar o nome à boniteza.

Lau lapida logo do patrocinador em pedra sabão: tarefas semi-culturais fofas. Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.

Poeira.

Daisy pilotando geral, só na hidratação com líquidos não ortodoxos! E música, maestro. Muita música pra animar sete pessoas com esqueleto à prova de sacolejo, em cinco horas de enduro.