Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sexta-feira, março 07, 2008

Diplomacia numa hora dessas, nêga?

Não sou a pessoa mais viajada do mundo, mas já dei minhas voltas por aí. Nunca carreguei na bagagem de mão cartas, protocoladas em delegacias de polícia, dos amigos que caridosamente me hospedam assumindo total responsabilidade sobre minha estrangeira pessoa durante as férias nos países onde eles residem -- e que eu não visitaria de outra forma, posto que dinheiro pra hotel, a-ha, não tenho! Não tenho dinheiro, nem tampouco a intenção de jogar pro alto minha vida no Brasil e estender as férias num país estrangeiro para sempre. Meus amigos, por outro lado, têm mais o que fazer que ir a uma delegacia carimbar uma carta tão ridícula. A impressão que tenho é que países como a Espanha e os Estados Unidos andam com o ego inflado demais, achando que tudo o que nosotros queremos é trocar o Flamengo pelo Manchester, a cachaça pelo Porto e cuspir em nossa pátria para ter a incrível chance de lhes lustrar os sapatos com o lábaro que deveras ostentamos estrelado.


Foi com enorme choque e horror que acompanhei esta semana a via crucis dos brasileiros mantidos em cárcere, privados de água, comida e banho por até 3 dias no aeroporto internacional de Madri. Meu choque nem é tanto pela quantidade assustadora de brasileiros deportados ao desembarque na Espanha, mas sim pelos requintes de crueldade com que foram tratados e pelo julgamento preconceituoso destinado às mulheres naquele país. Uma aluna de física da USP, talvez o perfil sócio-cultural menos provável para uma prostitua, acredita que tenha sido mal vista pelo decoro espanhol. O que é o fenótipo potencial de prostituta para essa gente? Será que eles me deixariam desembarcar em Madri novamente, como no ano passado? Será que da próxima vez os federais do aeroporto não poderiam achar que eu - que afinal de contas não sou nenhum bagulho, sou mulher, tenho energia e muito amor pra dar -, sou uma potencial prostituta? Será que eles pensam que toda mulher é (uma potencial prostituta) pelo simples fato de possuir o produto, mesmo sem o o talento, ou a necessidade, ou o desejo para o vender? Será que prostituta, pra essa gente, é qualquer mulher latina, morena e bonita?

Estou estremecida com a Espanha. Os espanhóis de bem que me perdoem, mas esses eventos todos, tão perto do Dia Internacional da Mulher, só me fazem ter uma certeza: agora só retorno à Espanha depois que el gobierno tratar desse ego inflado com um pouquinho de cortesia, espírito humanitário e vergonha na cara.