Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

domingo, março 09, 2008

VanOr de volta às aulas

Há cerca de 10 anos, eu morri na praia na única pós-graduação que fiz na vida, a especialização em Homeopatia Veterinária no Instituto Hahnemanniano do Brasil. O motivo, ridículo: não escrevi minha monografia. Como se eu não gostasse de escrever. Isto sempre foi um motivo de vergonha pra mim, mas o que importa é que agora eu voltei, e voltei para ficar porque aqui, aqui é meu lugar. As aulas que assisti neste final de semana me fizeram ter certeza disso.

Pecuária orgânica (Prof. Lilian Rangel)
Vocês sabiam que a alface hidropônica é completamente poluída por agrotóxicos? E mesmo assim, o hortifruti tem o mal hábito de colocar a gôndola dos hidropônicos, tão limpinhos, bem ao ladinho daqueles tomates feios e esmirrados, opacos (porque não foram lustrados com cêra de agente laranja), superfaturados por causa do selo de produto orgânico? Depois da aula de sexta, aqui em casa só entrarão batata, tomate e morango orgânicos. O DDT não compensa, e não deve ser à toa que tantas pessoas jovens têm aparecido com câncer apesar da falta de histórico familiar.

Também gostei de saber que para um produto ostentar o selo de orgânico, a fazenda auto-sustentável do produtor passa por uma rigorosa e permanente avaliação multidisciplinar do solo, pasto, animais e pessoas. O ambiente deve estar livre de defensivos, os animais não podem usar medicamentos alopáticos (aí entram a homeopatia, a acupuntura e a fitoterapia como alternativas terapêuticas) -- 3 tratamentos alopáticos na vida, e a vaca sai da linha de produção para virar mascote da fazenda, com direito a assistir TV na sala e lacinhos de cetim na testa --, devem ter uma boa qualidade de vida, e as pessoas que trabalham na fazenda devem ter os filhos na escola e seus direitos constitucionais à saúde, alimentação, moradia, etc, completamente assegurados. O produtor orgânico é muito mais que um rostinho bonito, como o Marcos Palmeira: ele é uma pessoa orgânica e integral, um ser humano de verdade, e não um monstro que confina vacas e galinhas num espaço que mal comporta o tamanho de seus corpos, transformando-as em tristes máquinas de produzir ovos e leite.

Não se admirem se eu, dentro de poucos dias, me tornar vegetariana novamente. Ovo-lacto, é claro, mas só se o ovo e o "lacto" forem orgânicos.

Comportamento Animal (Prof. João Telhado)
O Telhado, maior autoridade em terapia comportamental no país, é uma figurinha rara. Com um sotaque português fortíssimo e humor ácido, suas aulas são divertidíssimas e a única coisa que eu detesto nelas são os alunos exibicionistas que sempre têm um causo pra contar, mas cujos relatos nunca acrescentam nada à aula, pelo contrário: só tomam o tempo do professor e a paciência dos alunos mais elevados, como, obviamente, eu. Tudo bem, compreendo que o tema seja extremamente agradável e sei que praticamente todas as pessoas que tenham ou gostem de bichos se identificam plenamente com os assuntos que dele derivam, mas peralá: que tipo de ser humano interrompe um professor de pós-graduação, num curso caro, cobrado por aula, para dizer que meu gato faz essa coisa fofa, e o gato do vizinho faz essa coisa feia? Sinceramente, em certas pessoas a gente devia enfiar uma mordaça ou um daqueles colares que soltam choque elétrico toda vez que daquela goela brota um comentário impertinente. Não seria uma forma orgânica de tratar o coleguinha, eu admito, mas acho que ainda tenho de comer muito capim até chegar a Marcos Palmeira.