Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

domingo, novembro 09, 2008

Check-up

Meu sobrinho foi ao laboratório de análises clínicas com seu pai, mermão, fazer um exame de rotina. "Exame de rotina?!?", perguntei pra minha mãe. "Mas O Cara só tem 6 anos!". Mas era rotina. Vai ver que em Salvador as crianças de 6 anos fazem muito check-up, e talvez por isso eles aguentem mais pimenta do que nós todos, mas o enfoque aqui não é esse. Meu sobrinho e meu irmão foram a um laboratório que emite um certificado de coragem a todos os clientes que saem da cabine de coleta sem chorar. Meu sobrinho, claro, já ganhou um desses uma vez. E foi justamente por não querer quebrar a tradição de bravura familiar que meu irmão resolveu levar meu sobrinho pro setor de coleta de adultos, porque no setor de coleta de sangue das crianças, havia uma gritaria de criança chorando e se esgoelando danada.

Quem é pai sabe que ouvir crianças gritando e chorando num lugar onde você acabou de levar seu filho pra ser deliberadamente perfurado causa, definitivamente, uma má impressão, e isso pra dizer o mínimo. Sentindo as patinhas suadas de meu sobrinho em suas mãozonas, meu irmão tomou a decisão certa: saiu da pediatria e levou-o ao setor onde ninguém chorava. O setor dos adultos. Economistas chatos poderão questionar a decisão e dizer que, estatiscamente, adultos choram menos que crianças, mas quando se é pai, e quando é seu filho que pode chorar - e por isso perder o certificado de bravura laboratorial - manipular fatos e estatísticas é o que menos importa.

No setor de adultos, uma mulher de avental branco sentou meu sobrinho numa cadeira de gente grande, mostrou que a agulha era descartável -- tipo assim, foda-se, uma criança de seis anos costuma desprezas bastante esse tipo de coisa, e aliás: uma agulha exibida antes de sua trajetória perfurante pelas profundezas do corpo humano costuma causar uma péssima impressão --, e meu sobrinho foi se encolhendo na cadeira. Foi ficando ainda menor ali, suas veias foram sumindo e, depois de 3 tentativas frustradas de vampirização, o moleque começou a chorar. É óbvio, minha gente: não foi falta de valentia, não! Foi muito abuso, isso sim, daquela gentinha sem noção! E quando O Cara começou a chorar, meu irmão começou a ficar nervoso, e aí... bem, o que vou dizer é um bocado embaraçoso, mas meu irmão, o pai do meu sobrinho, chorou também. E chorou muito.

O resultado disso é que meu sobrinho ganhou um certificado de valentia porque, eventualmente, parou de chorar. Mas meu irmão, não: ele não ganhou seu certificado de valentia. Foi um vexame danado. Meu sobrinho ficou consternadíssimo. Por essa, ele não podia esperar.

O mais bonitinho é que ele quis dar pro pai seu certificado, porque afinal já tinha um. Natural que ele tenha sentido muita pena do pai, poxa vida, afinal seu Papai-Ito chorou por sua causa, e se não fosse por isso, teria recebido o atestado de coragem.

E quando minha mãe perguntou pr'O Cara se, afinal, tinha doído ou não a espetada, ele pensou bem, demorou bastante pra responder e disse: "Hum... Não." A gente acha, contudo, que ele mentiu pra que ninguém mais fique chorando por ele. Essa família já tem muita gente frouxa, e o super PeuGuto achou melhor não facilitar.