Vírus
Uma forma maledetta de vida rudimentar tomou conta de mim há dois dias. Houve um momento, em plena maré pós-prandial no domingo, em que eu perguntei pro Lau:
- Tá ouvindo?
- O quê?
- O barulhinho dos vírus se replicando dentro de mim? Tic, tic, tic, tic?
- Hum.
- O quê?
- Eu bem que ouvi uns barulhinhos de putaria.
Coincidência ou não, estou lendo o último livro do Eduardo Gianetti, O valor do amanhã. Nele, o autor fala que a vida é regida pela lei dos juros: coma o que quiser agora, engorde amanhã; viva agora, pague (com a decrepitude e a morte) amanhã; divirta-se na friagem agora, fique gripada amanhã. Ou seja: só fiquei gripada, semi-surda do ouvido direito e semi-cega dum olho estropiado por esse adenovírus sacana ruidoso porque o feriadão em BH foi bom demais; e eu fiz todos os empréstimos de felicidade que meu parco limite de crédito permitia nesse curto prazo, e agora nada mais justo que eu fique de cama, fazendo uma transição de humores, por um dia ou dois depois deste feriadão. (Sim, eu estou sendo sarcástica; e sim, eu acho que gripe de cu é rola.)
***
Olha como o amor é lindo: nos 5 dias que passei em BH, o Lau foi meu companheiro em tudo, até na dieta. Eu comia aquele pouquinho, e ele também. Aí, lá pro segundo dia, eu fiquei com dó dele e perguntei: "Vai comer só isso, Lauzinho? Come um pãozinho..." E ele, mezzo sem jeito, mezzo sem vergonha, confessou que tinha acordado mais cedo pra comer croissant com manteiga e tomar uma xícara de café na cozinha, só pra não me matar de desejo. O Lau, como restauranteur, sabe melhor que ninguém que longe dos olhos, longe do estômago.
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