Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

terça-feira, outubro 10, 2006

Eu obro, tu obras, ele obra.

Há coisas que precisam ser faladas. Talvez não faladas, mas escritas, porque eu acho que eu não teria o carão de sair por aí falando tudo o que escrevo. E hoje eu vou escrever muita merda sobre... well... merda! Ei-la em fascículos peristálticos:

1) A primeira vez em que ouvi o verbo obrar, eu estava fazendo estágio na clínica homeopática no hospital veterinário de pequenos animais da UFRRJ, vulgo Rural, do km 49. O professor perguntou pro senhorzinho humilde, dono da cadela depauperada que atendíamos fascinados: "Ela está obrando direitinho?". Hum-hum, afirmou o homem. E a consulta seguiu sem que eu conseguisse acompanhar todo o resto, porque encasquetei com aquele negócio da obra, como assim?!? O que será que quer dizer cachorro obrar?, fiquei pensando. Mas como todos os outros estagiários faziam cara de prêmio Nobel da genialidade, tive vergonha de perguntar. Esperei acabar o expediente, todo mundo ir embora, os passarinhos se calarem e o sol se pôr pra perguntar pro professor o que vinha a ser obrar. E ele disse, singelo: "Cagar, oras!" Ah, bom. Fiquei super feliz por aprender meu primeiro e genuíno verbo proletário, enfim. E eu que achava que cagar fosse a versão mais popular disponível para "fazer cocô".

2) Crianças e cocô:
2.a) Minha irmãzinha caçula veio com defeito de fabricação, coitadinha, e fazia seu cocozinho infantil só uma vez por semana. Quando "O" fazia, chamava-nos (eu e meu irmão) pra testemunharmos o colosso de sua obra depositada nas profundezas de um vaso sanitário. Era um espanto maior a cada semana. Teve um dia em que eu tive ganas de fotografar o monstro e mandar uma cópia pro Guiness: minha pequena e talentosa irmã tinha produzido uma maquete perfeita de toda a complexidade do intestino grosso humano, com sua alças e curvaturas perfeitamente caracterizadas. Se não me falha a memória, tinha até o detalhe do saco de fundo cego do apêndice intestinal e uma alusão artística à válvula íleo-ceco-cólica. Se merda valesse alguma coisa... estaríamos milionários! Mas Deus não quis.

2.b) Em Brasília, as mães e os pais criavam seus filhos meio soltos ao vento, pois ali não havia avó, avô, tio nem tia: todos eram de outro lugar, ninguém tinha parentes em Brasília, então as crianças viviam como os meninos perdidos do Peter Pan. Pois um desses meninos perdidos, perdido que estava numa tarde sem lei em minha casa, foi fazer não sei o quê no banheiro da minha empregada. Sai ela, que era preta, lívida de susto da cozinha, berrando impropérios. Tinha uma lombriga enorme se debatendo em sua privada. Todos fomos ver a lombriga. Em poucos minutos, havia uma romaria de crianças pra ver a lombriga em nossa privada. À noite, uma multidão de pais visitou o banheiro da Maria pra ver a lombriga na privada e decidir da bundinha de quem "aquilo" havia escapado. Um horror. Teve uma hora em que a Maria deu cabo àquilo tudo apertando a descarga. E desinfetando o vaso com álcool e creolina, que nunca se sabe se lombriga pega em vaso.

2.c) Um amigo meu confessou que tinha, quando criança, o desejo enorme de ver seu próprio cocô. Entrou no banheiro dos pais, que era maior, ficou de cócoras e pluft: pôs seu ovinho no meio do banheiro. Ficou horas admirando aquela belezura: cor, cheiro, forma, textura. Depois, quando começou a sentir cãimbra, catou tudo com papel, jogou no vaso e deu descarga. Perguntei se ele passou um pinhosolzinho, pelo menos no lugar onde o cocô ficou depositado, ao que ele disse que não. Óbvio: ele era criança, e criança nem sabe pra que serve um diabo dum pinho sol.

3) Mulheres e cocô:

Ainda não consegui entender que estranho fascínio é esse que as mulheres têm por cocô. Cá estou eu, prova viva disso, escrevendo tudo até a última ponta sobre cocô. Mas se vocês ligarem a TV à qualquer hora, logo verão campanhas publicitárias sensacionais exibindo mulheres magras e bonitas que ficaram muito mais felizes depois que o iogurte Z, o remédio X ou o dispositivo tabajara Y as fizeram evacuar regularmente. Talvez vocês não estejam associando o nome à pessoa, mas, na TV, "fazer cocô" corresponde ao eufemismo "ir ao banheiro". E o pior é que essas propagandas adoram ser veiculadas na hora do meu café da manhã. Pior: do café da manhã do meu pai. E, por isso, a gente nunca esquece de ter uma alimentação rica em fibras, porque está testado, provado e aprovado pelo FDA que, entre dois seres humanos absolutamente iguais, aquele que obra todos os dias é um ser humano melhor.


Mulheres finas adoram dizer que não cagam, ops!, quero dizer, "vão ao banheiro" fora de casa de jeito maneira.

Va bene, sou uma pessoa crédula, mas se é assim... queria só saber pra onde vai tanta comida!


4) Merda e Deus:
Pode parecer antipático pros carolas, mas o Kundera diz uma coisa muito pertinente: se Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, seria correto afirmar que Deus caga? Não quero tripudiar, mas se Deus caga, o Lula está explicado!