Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Pavor: teu nome é mulher!

O assunto do jantar hoje foi barata e heróis circunstanciais (porteiros, entregadores de pizza, pais, namorados e irmãos). Lembramos de algumas outras cenas de pavor doméstico:


Minha mãe passava roupa na área para irmos a uma festa. Subitamente, o ferro que ela usava explodiu, fazendo minha mamma pular pra trás, chocada. Bem, não sei se a expressão seria essa [chocada], porque, no duro, ela tomou um puta choque. E o ferro pegou fogo em seguida. Eu e minha irmã, que estávamos na cozinha, gritamos por meu pai. Ele entrou na cozinha apressado, foi até o ferro de passar roupa, examinou a situação enquanto nós observávamos tudo a 3 metros de distância. Não mais que de repente, meu pai sai correndo da área gritando: "Saiam da frente, saiam da frente!" Em menos de um terço de segundo, nós três mulheres, em trajes sumários, vencemos a distância entre o décimo segundo e o nono andar. Minutos depois, meu pai veio nos encontrar na escada de incêndio: "O que deu em vocês?" Explicamos que quando o vimos correndo e gritando -- ele, que resolve todas as merdas --, só nos restou correr, gritar e torcer pra que ele não morresse carbonizado. E tudo o que ele queria era que nós saíssemos da frente da caixa do disjuntor.


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Minha mãe tinha uma confecção e meu pai dava uma força pra ela, cortando pilhas de tecido com uma faca elétrica potentíssima, que um belo dia decepou-lhe a ponta do dedo. Chegam os dois em casa: minha mãe, azul-pânico-royal, e meu pai, pálido-hemorragia, com uma toalha de banho encharcada de sangue enrolada na ponta do dedo. "O que houve?", perguntei. "Procure já o telefone de um cirurgião de mão no guia do convênio: seu pai vai precisar reimplantar a ponta do dedo." OK, eu disse. Abri o catálogo e pumba: desmaiei.

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Brasília, 1978. Minha irmã tinha 3 anos quando engasgou com uma bala Soft. Em pouco tempo, viu-se que ela não respirava. Mamãe gritava e papai urrava, enquanto sacudia a Sam, já azul, pelos pezinhos. Alguém gritou pra que outrém chamasse os vizinhos. Minha mãe dava murros na parede e no meu pai, que não conseguia desengasgar minha irmã. Entediada com tudo aquilo, eu fui pegar um copo d'água na cozinha pra mim e, quando voltei, achei que minha irmãzinha, roxa, com aquela cara estranha e de cabeça pra baixo, podia era estar com sede. Estendi-lhe o copo, numa cortesia atípica entre crianças que acabaram de perder o caçulado, ela estendeu a mãozinha pra pegar -- as veias lhe saltanda à testa, os olhos lhe saltando das órbitas --, deu um gole... e a bala desceu.