Recadinhos
Princesa Radija e Povo Brasileiro em maré alcalina pós-prandial.
Toda vez que meus pais vão a Miguel Pereira e eu não, eu mando um recadinho pra Princesa Radija. Geralmente é a camisola que eu dormi na véspera ou uma meia usada (para a intensidade do recadinho, quando mais usada, melhor). Radija fica enlouquecida quando mamãe lhe entrega o recado: primeiro dispara com a peça na boca, contraindo as comissuras labiais daquele jeito que cachorro faz quando está feliz; depois, joga o recadinho pra cima e pra baixo, cheira, chafurda, morde e corre até meus pais pra que eles também tomem conhecimento da notícia. Então, vai pra sua caminha com o recadinho cuidadosamente preso à boca e acalma-se à medida em que assimila a mensagem, que invariavelmente é: mamã ama muito-muito, mamã tátusaudade, mamã pensa tucê tempo todinho-todinho.
Parece que ela entende, pois quando eu subo a serra, muito de vez em quando, ela vem me buscar no portão com aquela cara incrível de quem recebeu cartas de amor perfumadas e que mal podia esperar pra ver o remetente de novo.
Na sexta passada, ajudando minha mãe a carregar o carro pra subida da serra, lembrei -- no estacionamento já -- que não tinha separado o recadinho pra minha Princesa. Sob os olhares perplexos das câmeras de segurança e do garagista do condomínio, tirei o sutiã pela manga da camisa e entreguei pra minha mãe. Sorte que eu estava de sutiã, senão teria de voltar pra casa semi-nua. Jamais perco a oportunidade de dizer eu te amo.
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PS: alguns de vocês poderão perguntar: mas e o Povo, não recebe recadinhos? Não, porque o Povo Brasileiro tem muita preguiça de interpretar mensagens. Ele prefere que a Radija receba e depois conte tudo pra ele. Sorte do Povo que ela é totalmente de confiança e nunca deturpa a verdade. Não é todo povo que tem essa sorte.
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