Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

domingo, abril 29, 2007

Briga de cachorro grande.

Hoje o Clube dos Ridículos sofreu um violento atentado: Black e eu fomos mordidos por um American Staffordshire que já estava de olho na gente há um tempão. O brigão conseguiu se soltar do dono e partiu pra dentro do meu afilhado. Só porque ele é negão, grandão e, convenhamos, bem-dotado (não sejam maldosos: eu tenho um olhar absolutamente clínico pra essas coisas, o que é normal prum ser humano ridículo que estudou anatomia comparada dos animais domésticos). Porque eu e o Black somos ridículos, a gente demorou a reagir. Niki a gente demorou, o Tiranossauro Rex pulou na garganta do Ilustríssimo Senhor Presidente do Clube dos Ridículos. E eu parei de respirar por uma eternidade.

Parêntese aqui: não sei se vocês já viram uma briga de cachorro, mas, de forma geral, não dá pra ver nada e nem entender quem está por cima ou por baixo, batendo ou apanhando. Os cães rodopiam, as pessoas gritam e correm em volta, os condutores tentam achar uma brecha pra enfiar um pé ou achar uma ponta de coleira, mandíbulas trincam no ar com um som seco e angustiante que varre a espinha da gente com um arrepio polar. De repente, do caos faz-se silêncio e a cena trágica entra em slow motion: você vê sua perna passar entre os dois cães, mas não entende que parte de seu cérebro emitiu esse comando tão audaz e, convenhamos, tão estúpido. Finalmente, uma mão agarra uma coleira, e um dos cães, por sorte o agressivo, é controlado.

Atacante controlado, tudo volta a ter som, cores e ritmo normal nessa cena que eu espero que vocês nunca protagonizem. Empurrei o Black prum lado e corri-lhe as mãos trêmulas pelo corpo, tentando localizar o quanto antes os estragos, torcendo pra que ele não precisasse ser operado de urgência pra corrigir um colapso de traquéia ou um pneumotórax. Felizmente, a batalha de 5 segundos não deixou nenhuma seqüela física em nenhum dos dois cães. O American Staffordshire vomitava de nervoso, enquanto eu pensava: "Sabe que não seria nada mau vomitar, fazer xixi e um cocô bem mole agora?". É muito mais fácil lidar com o estresse quando se é cachorro, porque os cães assumem que são ridículos. Humanos ridículos que não se assumem, saem da cena fingindo que não foi nada:

- Muito bem, negão, você apanhou com muita dignidade!

E continuamos a caminhar como se nada tivesse acontecido, porque nada aconteceu de verdade. Eu não cansava de dizer pra ele: "Pronto, Negão, já passou, foi só um susto. Agora vamos apostar corrida?". Enquanto galopávamos, eu chorava discretamente de nervoso, com uma vontade horrível de vomitar mil bolas de pêlo, um desespero antigo que não me deixava parar de tremer. E quando o Black olhava pra mim pra verificar se estava tudo bem mesmo, eu repetia, tentando me convencer:

- Já passou, cara, foi só um susto!

Minutos depois, descobri uma marca de baba canina atrás do joelho, na calça, e fui ver o que havia por baixo: a prova de que a perna que entrou na briga era realmente minha, e não dum dublê de filme americano qualquer: eu fui arranhada de leve por alguma das bocadas desferidas, e agora estou vendo crescer o primeiro galo de coxa que eu já tive na vida.

Que ele não seja de rinha, esse galo safado!

Por falar nisso, desejo morte horrível a todos os imbecis que põem animais pra brigar, seja por ignorância ou por esporte. Rinha não é vício cultural: é demência. E o que é pior: um tipo intratável de demência. Que o diga o Duda Mendonça, que continua demente, solto e perigoso por aí.

***

PS pra Laura Rónai: ainda bem que nós já somos vacinadas contra tétano e raiva! (mas eu continuo sentindo raiva de gente ruim, sobretudo dessa gente de rinha: eu nunca vou ser zen-taoísta nisso)
PS 2: Conselho de um adestrador experiente da Polícia Militar para separar briga de cachorro forte: fogo no saco do agressor. Agora... vai dizer isso pro seu cérebro nesses cinco segundos que decidem a vida ou a morte do agredido, especialmente se o agredido é o cachorro que estava na sua mão até dois segundos atrás.