Meu amigo, o leão.
Eu fiz veterinária porque, quando ganhei meu primeiro cachorro, um Pequinês, e ele me mordeu (eu já disse que era um Pequinês?), eu sabatinei minha mãe com perguntas do tipo:
- Manhê, e gato? Também morde?
- Morde. Morde e arranha.
- Passarinho morde?
- Não. Mas bica!
- E hamster morde?
-Ô!... E como!!! Morde mais do que todos. (minha mãe, como toda mãe, tinha horror à idéia de ratos passeando por suas roupas).
- E leão, mãe? Leão morde? (minha lógica era: se os animais aparentemente inofensivos mordiam, talvez os mais assustadores fossem bonzinhos)
- Como assim, filhinha? Leão não só morde, como morde e mata. Leão come gente! Come uma criança inteira assim, nhoque!, de uma só vez. (era muito importante que ela fosse enfática, porque em Brasília os animais ficam meio soltos, assim, à vontade, no zoológico; e eu sempre fui chegada a fazer uma merdinha.)
- Se leão come gente, quem cuida do leão, coitado?
- Ah, o moço do zoológico cuida. E tem o veterinário também.
- Veterinário?!? Que qué isso?
Aí o resto vocês já sabem. Eu decidi que ia fazer veterinária aos sete anos porque queria ser mordida por um leão. Eu, a megalomaníaca, desde sempre buscando metas maiores e invariavelmente fantasiosas.
Na verdade, eu só queria ser amiga da leão. Sabia que ia ser mordida por ele de vez em quando, porque, afinal, se até meu cachorro me mordeu -- dá um desconto, que o cara era Pequinês, pô! --, imagina o que não faria uma besta fera em processo de cativação. O que eu não sabia naquela época é que:
1. Veterinários de zoológico são pessoas esquisitas (e não são ricos, bonitos e gentis como nos filmes);
2. Veterinários de zoológico são uma espécie em extinção porque zoológicos são politicamente incorretos;
3. Eu não precisava ser veterinária pra ser mordida pelo leão todo santo mês, todo santo ano e em todo santo pagamento.
Eu devia ter feito psicologia. Todo doido faz psicologia. Eu ia acabar encontrando minha turma na UFRJ, teria minha própria banda de garagem, a "Ato Fálico", e talvez virasse backing vocal de alguém importante de verdade, como a Kelly Key. Mas eu tinha que ter feito veterinária só pelo imediatismo de morar longe dos pais por cinco anos. Grrrr! Ou melhor: GRRHUM-HUMRRR!!! (como diria meu amigo, o leão)
- Manhê, e gato? Também morde?
- Morde. Morde e arranha.
- Passarinho morde?
- Não. Mas bica!
- E hamster morde?
-Ô!... E como!!! Morde mais do que todos. (minha mãe, como toda mãe, tinha horror à idéia de ratos passeando por suas roupas).
- E leão, mãe? Leão morde? (minha lógica era: se os animais aparentemente inofensivos mordiam, talvez os mais assustadores fossem bonzinhos)
- Como assim, filhinha? Leão não só morde, como morde e mata. Leão come gente! Come uma criança inteira assim, nhoque!, de uma só vez. (era muito importante que ela fosse enfática, porque em Brasília os animais ficam meio soltos, assim, à vontade, no zoológico; e eu sempre fui chegada a fazer uma merdinha.)
- Se leão come gente, quem cuida do leão, coitado?
- Ah, o moço do zoológico cuida. E tem o veterinário também.
- Veterinário?!? Que qué isso?
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Aí o resto vocês já sabem. Eu decidi que ia fazer veterinária aos sete anos porque queria ser mordida por um leão. Eu, a megalomaníaca, desde sempre buscando metas maiores e invariavelmente fantasiosas.
Na verdade, eu só queria ser amiga da leão. Sabia que ia ser mordida por ele de vez em quando, porque, afinal, se até meu cachorro me mordeu -- dá um desconto, que o cara era Pequinês, pô! --, imagina o que não faria uma besta fera em processo de cativação. O que eu não sabia naquela época é que:
1. Veterinários de zoológico são pessoas esquisitas (e não são ricos, bonitos e gentis como nos filmes);
2. Veterinários de zoológico são uma espécie em extinção porque zoológicos são politicamente incorretos;
3. Eu não precisava ser veterinária pra ser mordida pelo leão todo santo mês, todo santo ano e em todo santo pagamento.
Eu devia ter feito psicologia. Todo doido faz psicologia. Eu ia acabar encontrando minha turma na UFRJ, teria minha própria banda de garagem, a "Ato Fálico", e talvez virasse backing vocal de alguém importante de verdade, como a Kelly Key. Mas eu tinha que ter feito veterinária só pelo imediatismo de morar longe dos pais por cinco anos. Grrrr! Ou melhor: GRRHUM-HUMRRR!!! (como diria meu amigo, o leão)
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