Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quinta-feira, abril 19, 2007

Do meu jeito!

Meu sobrinho, o incrivelmente fantástico e internacionalmente conhecido Devorador de Pilhas, virou um rapazinho: está numa série & idade em que tem de fazer dever de casa.

Um parêntese aqui pra reclamar do mundo cão: eu não sei se quero ter filhos num mundo que põe suas crianças pra fazer dever de casa no clímax do imaginário mágico. Depois de 4 anos só de bem-bão, neguinho chega na escola, numa bela segunda-feira de fevereiro, seja em São Paulo ou em Salvador, e a professora, como quem não quer nada, como se fosse a coisa mais normal do mundo, vai e pede um dever de casa. E o que é pior: é pro dia seguinte! Sinceramente, bicho, eu acho o fim da picada! É o fim da infância, da inocência e da vida boa. Onde está o Siro Darlan numa hora dessas?!? E pra que diabos serve o Estatuto da Criança e do Adolescente? Será que o ECA sabe que professorinhas primárias obrigam seus pimpolhos, mesmo os fantásticos e extraordinários engolidores de pilha de renome internacional, a perderem seu tempo de atividades lúdicas fazendo "dever de casa"? Duvido! Quem sou eu pra dizer, mas, sinceramente, acho que isso é pau, é pedra, é o fim do caminho!

Minha cunhadinha querida, que acumula as funções extremamente paradoxais de mãe, professora e psicopedagoga, ajuda meu sobrinho, O Cara, a fazer o dever de casa. O dever de casa geralmente é algum desenho ou número ou letra que ele tem de escrever num papel, a lápis, pra poder corrigir, caso esteja uma merda. Pois Mamãmone, como professora experiente que é, vê o resultado (merda) e estimula: "Ô, filho, dá uma caprichadinha!...". Mas como ele estuda numa escola muderna, em que o aluno é estimulado a pensar e agir com a própria cabeça, ele devolve: "Mamãe, não! Vai ser do meu jeito." E aí fica aquele climão: a mãe sabe que as colegas de trabalho vão ver o dever de casa do moleque e comentar: "Vixe, mainha: olha só o dever de casa de Pedro Augusto!... o filho daquela professora, lá de São Paulo... Ela, que é toda metida a psicopedagoga pós-graduada na PUC, nem consegue ajudar o filho a fazer um dever de casa direito. Ôxi...". E aí, pensando no day-after, ela insiste: "Filho... e se você puxasse essa linhazinha aqui, mais pra cima, e terminasse de pintar o chão, pras pessoas não pensarem que você tem problemas de relacionamento com os pais?". E ele -- firme, fantástico e extraordinário: "Mamãe, não! Já disse: vai ser do meu jeito!".

***

Isso é bom pra pagar a língua da minha cunhada, pois é assim mesmo que ela ensina pros seus alunos, que devem fazer suas desesperadas mães passarem pelo mesmo vexame diariamente. Escola progressista é foda. É a mãe criando um filho, e a escola gerando um sindicalista, quiçá um futuro presidente da República.

***

Termino aqui este post com um orgulho insuperável, daqueles que inflam o peito, estufam a alma e fazem qualquer ser-humano-tia sentir-se como um digníssimo dirigível prateado, impávido-colosso, a cruzar os céus do planeta, de norte a sul e leste a oeste. Eu, que desde sempre pensei assim, mas precisei esperar 34 anos até que um Fantástico e Incrivelmente Extraordinário Engolidor de Pilhas, e não por acaso meu sobrinho, sangue do meu sangue, me desse moral pra assumir: eu sou mais eu. E nem vem que não tem: ninguém vai dizer como fazer melhor. Prefiro me estrepar sozinha a ganhar um mapa que me leve direto ao tesouro. O que é tesouro pra uns é bostume pra outros. Na verdade, a gente só quer ser livre e mais nada.