Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quinta-feira, abril 12, 2007

Diálogo insólito 3

Uma mulher de 34 e um cara de 43. Idades espelhadas, amigos há 2 anos, nunca tinha rolado nenhum clima, e de repente ela vira pra ele, entre um espumante e um Irish coffee, e manda:


Ela: Aê... você toparia casar comigo?

Ele: Ha, ha, ha. E por que eu me casaria contigo, lindinha? A gente se dá tão bem!

Ela: Por isso mesmo. Sejamos racionais: 1) a gente se dá tão bem; 2) você é gostoso e todo durinho, eu sou gostosa e toda durinha, mas, por outro lado... 3) a gente tá ficando velho: daqui a pouco, tudo cairá e só nos restará a xepa humana.

Ele: É, isso é verdade. O tempo passa...

Ela (continuando): 4) Como eu não sou apaixonada por você, nem você por mim, nunca teremos ciúme um do outro: você vai poder comer a vagabunda que quiser, e eu vou poder dar pra quem eu quiser também. Mas não vou, porque tenho princípios e mêda de doença venérea.

Ele: E pra que casar assim? Cadê seu romantismo?

Ela: Meu querido, eu acredito no amor tanto quanto em Papai Noel e no Coelhinho da Páscoa.

Ele: Ah, mas eu queria casar apaixonado...

Ela: Querido, me ouve bem, olha pra mim: es-que-ce! Isso nunca vai acontecer. Você não é feito dessa matéria. Você e eu somos cidadãos do mundo! Ninguém amarra a gente, a gente é inteligente demais pra cair nesse golpezinho baixo. Não vamos nos apaixonar, pára de se iludir! Por ninguém. E vamos envelhecer sem casar. Isso pra mim é foda.

Ele: E por que é tão importante pra você se casar?

Ela: Ah, eu quero fazer uma festa maluca, com um monge taoísta, fumar uma coisinha orgânica, tirar umas fotos da bagunça e botar num mural na sala; depois sair por aí, usando uma aliança e enchendo a boca de saliva pra dizer: "porque o MEU marido trocou uma lâmpada e-nor-me...", e jogar o cabelo assim, sabe, que nem essas peruas fazem? Só por curtição mesmo.

Ele: Ah, não. Seu argumento tá fraco. Tem que ter algo mais.

Ela (tom desesperado): Um filho! Não, quatro filhos! Cinco, com o que você já tem. Eu serei uma mãe exemplar pra eles cinco. Vou viver pras crianças, não vou te pedir pensão quando a gente inevitavelmente se separar, não vou te acordar de madrugada pra ver porque diabos o Junior está gritando... Pensando bem, eu até vou ser uma mãe pra você também.

Ele coça o queixo e se mexe na cadeira. Evidência corporal inequívoca de que está pensando no assunto seriamente.

(Um parêntese aqui: por que todo homem quer trepar com a mãe? Isso é foda, heim!)


Ela: Pára de pensar e deixa de ser egoísta! Você tem um filho e eu quero um filho também. Já chega! Casa comigo, a gente faz umas fotos pra provar pras crianças que fomos casados um dia, porque vai ter um dia que ninguém vai acreditar em casamento, você me emprenha, eu fico feliz da vida, vou esquecer que você existe enquanto estiver ocupada demais com o bebê, você vai ficar carente e achar que se apaixonou por alguém, a gente descasa, você vai lá, quebra a cara e volta pra mim depois de dois meses. (é que quase todo mundo volta pra mim depois de dois meses, mas encontra a porta hermeticamente fechada.) Se a gente combinar que vai ser assim desde o início, se não houver quebra de contrato, eu deixo você voltar. A gente vai ser um casal e tal. Podemos até fazer ménage, suruba, eu juro que não me importo. Desde que as crianças estejam na casa da avó. Da minha mãe, claro. Nada contra a sua. Pelo menos até a gente casar.

Ele: Sei não... Muito esquisito isso. Muito modernoso.

Ela: Modernoso é a mulher dar pra quem quiser com a conivência do marido, vamos combinar?!? Porque isso de homem comer quem quiser já está faz parte do contrato nupcial de qualquer noivinha tijucana. Acho apenas justo: direitos iguais. Pense a respeito. Mas pensa logo, que se você não topar até a metade do ano, vou sequestrar alguém num caixa automático e casar à força. Homem algum vai me impedir de realizar o sonho de casar de Tao e grinalda de margaridas!