Causos Populares Cazaques
O Povo Brasileiro, descobrimos hoje, não é um Galgo Iraquiano (potente soltador de armas químicas, mas colonizado ianque por tempo demais): é um Galgo do Cazaquistão -- ou Galgo Cazaque, para os íntimos. Se um dia a coisa ficar russa demais no Cazaquistão, não estranhem se descobrirmos que os hieroglifos do pedigree de nosso galgo queriam dizer, na verdade, Quirguistão, e não Cazaquistão. Não é nada mole entender esse riscado dos países exóticos, e a lingüística nada mais é que uma ciência geopolítica oportunistóide.
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Falando no Povo Brasileiro, que foi resgatado das ruas e passou muitos anos com síndrome do pânico (uma predisposição genética dos animais de pedigree muito refinado), relato agora uma história digna de nota: em 1999, quando o Povo passava seu primeiro carnaval em Miguel Pereira, meus deslumbrados pais, que há tempos não tinham um cachorro pra chamar de seu, resolveram levar meu galgo pro olho-do-furacão da cidade -- a rua do vai-e-vem, onde ninguém pega ninguém --, e sentar lá, no boteco mais concorrido, com nosso pobre sabujo cazaque fantasiado de odalisca havaina, ostentando no pescoço dois colares floridos de amarelo e vermelho. Foi nesse dia que descobrimos que o Povo tinha fobia de ruído: um folião embriagado no bar carregava um irritante tarol e, tomado pela alegria do carnaval e suas inevitáveis biritas, vez por outra fazia o chão da Terra tremer com suas rufadas. O Povo, é claro, se borrava de medo sempre que o cara brincava com sua caixinha de barulho. Meu pai, que não é pessoa parcial, calma, afável, nem nada, rugiu logo pro folião: "MEU AMIGO, SEU TAROL ESTÁ INCOMODANDO O MEU CACHORRO!". E o folião respondeu, dignamente: "Foda-se. Carnaval não é lugar pra cachorro." Ao que meu pai respondeu: "E NEM PRA VIADO!" E, dali pra frente, meu infantilóide e meio bêbo pai passou 40 min olhando pro moço do tarol e dizendo, sem som, só com os lábios: "Vi-a-do! Vai-se-fo-der. Vi-a-do!". Até que o cara foi embora e deixou o nosso Povo Brasileiro em paz.
Eu passei 4 anos sem pisar em Miguel Pereira, claro. E o Povo nunca mais usou a mesma fantasia de havaina, pra evitar revanches contra minha famiglia. As pessoas são muito rancorosas hoje em dia.
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PS: Não sei porque cargas d'água escrevi calzaque em vez de cazaque. O Houaiss puxou minhas orelhas.
Update: O porta-voz do Povo Brasileiro, o Excelentíssimo Sr. Meu Pai, acaba de dizer que o Povo voltou a ser um Galgo Iraquiano. No momento, ele está apenas se refugiando ideológica e politicamente no "distrito" turco do Curdistão, às margens do belíssimo lago Van, que fica a uma walking distance do campo minado por ianques. Com o olhar feroz que meu galgo tem, se ele não tomasse essa decisão radical de buscar exílio, o Tio Sam poderia prendê-lo em Guantanamo e torturá-lo até que ele confessasse onde está Bin Laden. Ou quem mexeu no meu queijo, o que, hoje em dia, dá no mesmo.
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