Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sexta-feira, junho 01, 2007

Quem tem "Ordem e Progresso" tem medo.

"Hapiness is a new kitchen": Felicidade é uma cozinha planejada novinha em folha. Não sei dizer isso em dinamarquês, mas isto é o equivalente viking do nosso "Ordem e Progresso". Por isso que o Brasil não vai pra frente: em vez de estabelecer metas pequenas, como uma nova cozinha, uma geladeira frost-free ou um novo aparelho de jantar, a gente fica querendo logo "ordem e progresso". Tudo bem "ordem e progresso", mas isso só funciona na Alemanha, Áustria ou Dinamarca, que são países com tanto medo de fazer xixi fora do pinico que, por via das dúvidas, fortalecem seus partidos fundamentalistas de direita. Fortalecer o partidão "higienista", aquele que se propõe a limpar essa sem-vergonhice que taí, invariavelmente significa fazer xixi fora do pinico, só que de um jeito tão envolvente que as pessoas "de bem" não percebem que estão sendo engambeladas de novo por um outro Hitler.

Por pior que seja meu medo do neonazismo, ele não chega nem aos pés do medo que tenho do fundamentalismo evangélico de direita no Brasil. No país do carnaval, das CPIs que só terminam em pizza, do PT e do Renan Calheiros, a moral cristã pode mover montanhas e derrubar governos. Se o Lula tivesse acatado a sugestão do Chico e criado o Ministério do "Vai dar Merda", nosso ministro vai-dar-merdista estaria, neste exato momento, abrindo mapas, fazendo downloads de arquivos confidenciais e falando em noventa celulares ao mesmo tempo para tentar evitar um golpe militar ou a chegada do messias. Gente, eu não sou Regina Duarte, mas tenho medo. Desculpa, mas tenho. Quando ela falou isso no programa eleitoral que tentou derrubar meu então candidato e hoje presidente do país, eu pensei em mandar anthrax pra casinha dela, num envelope perfumado. Mas hoje, toda vez que leio jornal, é como se o anthrax estivesse sendo depositado diariamente sobre o capacho de minha porta. Sinto que me fodi de verde e amarelo.

Não gosto de discutir política, porque costumo evitar os assuntos nos quais sou mais do que absolutamente pessimista. Ultimamente, a única coisa que me deu algum alento no cenário político mundial foi o arrependimento e o suicídio do ministro da agricultura japonês por um roubo equivalente a 220 mil reais, coisa que no Brasil resultaria no máximo em um simbólico pagamento de cestas básicas a meia dúzia de eleitores encurralados até o pescoço. Isso é revoltante, eu sei, mas é justo aí que o lema de nossa bandeira faz meus pêlos se eriçarem to-di-nhos: isso aqui tá uma merda? Então enfia Ordem e Progresso no rabo dessa cambada. Ordem e Progresso no Lula. Ordem e Progresso no Renan Calheiros. E aí cai o rei de espadas, cai o rei de ouros, cai o rei de paus, cai, não fica nada.

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Acho que o vinho que a gente está tomando esta semana está me deixando paranóica.

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Voltando à vaca fria, acho que este é um bom momento para mudarmos nosso lema nacional, transformando-o em algo mais adequado, pé no chão e menos susceptível à tomada santa do poder pelo Povo de Deus. Nesses dias de medo -- e o medo pode ser só um estado de espírito daqueles que não acreditam no Eleito, em Deus nem porra nenhuma -- a "ordem e progresso" de nossa bandeira deveria dar lugar a algo menos belicoso e mais alegre, mais Clodovil e digno do país do futebol, como "Mengão forevis", "Eu vou ao teatro mas não entendo" ou "Não leio porque é escrito, que se fosse líquido, eu não beberia". Ou então, seguindo o exemplo da Dinamarca, a gente podia tentar criar em cima do tema felicidade. Eu não me incomodaria nem um pouco de portar uma bandeira que tivesse por lema a feliz frase: "Felicidade é passar a mão na bunda do padre, do pastor ou do pai-de-santo." Pelo menos assim, se houvesse algum golpe para derrubar o governo, eu não teria de arder no inferno por odiar todas as religiões que se metem em estado laico.

PS: Felicidade também é desejar que o Bin Laden encontre o Bush, e não vice-versa.