Grávida como os amores
Estou me sentindo tão grávida quanto a Marina, aquela ex-cantora Lima (uma pena!), por causa de dois filhotes que têm alguma coisa do meu DNA e estão por aí, dando seus primeiros passinhos: a peça "O Conselheiro -- uma comédia mau humorada" e o livro de contos compilados pelo Galpão, "Pequenos Milagres e Outras Histórias", onde há um continho meu.
Assisti hoje "Olga", o filme, e de todas as coisas tocantes na história, a que mais me tocou foi a transformação que a maternidade operou na mente e no coração daquela idealista, daquela guerrilheira, daquela mulher que passou a maior parte da vida achando que o amor era coisa para fracos. E eis que de repente, em meio a este meu momento Olga, em que eu cheguei a ter convicção absoluta de que o amor poderia me afastar de meus objetivos, tal qual uma Bonequinha de Luxo num café da manhã na Tiffany's -- não que eu queira comparar uma mulher digna como a Olga Benário a uma Bruna Surfistinha qualquer --, comecei a duvidar que este caminho, o da racionalidade, leve a algum lugar. Não adiantar blindar o coração e achar que a partir daí é só cumprir etapas de um plano. O coração é um órgão traiçoeiro, e em algum momento ele irá bater mais forte, em ritmo de carnaval, e por mais que tapemos nossos ouvidos à tentação da folia, acabaremos por mudar de rumo e ir na direção do que realmente importa.
É piegas, eu sei, mas os filhos nos deixam amolecidos assim. Agora, o que eu mais quero é parir que nem uma porca, quero povoar o mundo com tantas crias, mas tantas e tantas, a ponto de fazer os cientistas considerarem seriamente que talvez realmente exista, sim, algo como a geração espontânea. Quero ter dez, cem, trezentos mil ou cinquenta milhões de filhos, e vou amamentar a todos, ficar idiota com todos e aí, quando um dia a morte ousar me buscar, eu poderei dizer: minha vida valeu a pena, porque o verbo que elegi foi "amar". Ou melhor: meu verbo é "ser", mas não simplesmente "ser", e sim "ser mãe".Ainda que duma peça, dum conto num livro de capa e papel, dum blog, dum post, dum cartão de Natal. Em todas essas coisas que eu escrevo, está meu código genético, e eu quero transformá-lo num vírus mutante capaz de mudar o mundo, mesmo que eu não esteja aqui pra ver. Quem precisa de olhos, quando se tem filhos!
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