Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sexta-feira, agosto 08, 2008

A Lei seca, do verbo secar.

Estou achando a Lei Seca muito eficiente. É uma lei que realmente mata a cobra e mostra o pau, sem a menor dó de sentar o dito cujo nos cornos dos motoristas que gostam de tomar um goró sem compromisso. A lei secou o copo de quem dirige.

É notável a mudança comportamental do brasileiro em relação à direção + álcool, e a maior prova disso não são as estatísticas maniqueístas do Miguel Couto ou da polícia rodoviária federal, e sim a crise dos bancos de órgãos, que dependiam dos motoristas bêbados mortos por alguma cagada fatal ao volante para sobreviver (e fazer sobreviver, claro). A lei secou até as esperanças de quem espera por um novo fígado, de forma que eu, como humanista de plantão, começo a pensar que talvez seja melhor que algumas pessoas continuem bebendo bastante e morrendo nas pistas, que é pra dar chance de vida a quem realmente a valoriza.

Por último, justamente por ser o tópico mais frívolo e irrelevante, a lei mudou radicalmente a dieta de muito praticante de halterocopismo. Eu sou um exemplo: só porque reduzi a ingestão de álcool brutalmente, perdi 2 kg em 3 semanas. Acho que além das calorias etílicas que eu deixei de ingerir, passei a comer menos das besteirinhas que acompanham um chope, dos queijos que acompanham um vinho, and so on. E passei a ter menos fome, o que me faz concluir que o álcool é um importante orexígeno, e portanto não deveria ser desprezado nas cozinhas de hospitais sérios, como os que já liberam a maconha para seus pacientes (nesse ponto, realmente, o Brasil não é um país sério). Ou seja: a Lei Seca seca! Não sei se acho isso bom ou se temo pela estabilidade financeira dos cirurgiões redutores de estômago. Essa lei provocou tanto efeito colateral no terreno da medicina que dentro em breve o Conselho Federal de Medicina vai acabar tentando impugná-la para driblar o desemprego de médicos, ou talvez essa batalha seja comprada pela Previdência Social, porque tenho certeza que já aprontaram uma estatística (pra publicar no jornal daqui a uns anos) que comprovará que a Lei Seca aumentou demais a expectativa de vida do brasileiro, assim como o buraco negro nos cofres do ministério.

O pior é que estamos vivendo tempos tão surreais, que eu não duvido mais de nada. Vou celebrar minha magreza recém adquirida com um alentejano (vinho, ora pois!) e tentar não pensar mais nisso.