Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

terça-feira, abril 21, 2009

Algumas considerações sobre o exílio

Nestas férias, pela primeira vez na vida, embora estivesse viajando voluntariamente e por puro prazer, eu experimentei algo parecido com a sufocante sensação de exílio. Achava Santiago linda, organizada, limpa, bem transada... e pensava: adoraria sair com meus amigos aqui. Achava Cusco animada, badalada, e repleta de gatos e pensava: como queria que minhas garotas estivessem aqui! Achava Rapa Nui um paraíso e chorava porque a Marina não tinha conseguido sincronizar tempo comigo. Enfim, eu senti muita falta das minhas pessoas queridas, sobretudo das minhas garotas.

Notem que eu não sou pessoa com dificuldades de relacionamento. Eu puxo uma conversa em cada lugar onde passo mais de 2 minutos, e isso inevitavelmente me rendeu o extraordinário deleite de faturar, nesta curta viagem, 4 novos amigos que prometem laços longevos, nesta ordem:
- Felipe, brasileiro, piloto e gato que conheci em Rapa Nui;
- Nicolas, argentino e aventureiro que conheci em Cusco;
- Tanzaro, iraniano/inglês/italiano tatuado e descoladíssimo que conheci na selva;
- Moe, iraniano/inglês, apaixonado e filósofo ocasional que conheci em Puerto Maldonado.

E todo lugar onde eu formava uma turma era meu lugar favorito, e assim sucessivamente, de forma que estas férias me ensinaram que até Bangu pode ser um resort de férias incrível se as pessoas certas estiverem na programação. Não que eu queira comparar Peru e Chile com as áreas menos nobres da nossa cidade - embora o Chile esteja todo mais pra Leblon que Realengo, o mesmo não se pode dizer de Puno, no Peru, apenas para citar um exemplo óbvio -, mas este ano eu descobri que faço turismo social, e não ecológico, antropológico, mercadológico ou bonitológico. Só que de tanto ver gente, sinto saudade da minha gente e, em algum ponto, penso: estou viajando à toa: já conheço as melhores pessoas do mundo, não tem sentido continuar buscando.

OK, reconheço que estou indo por um caminho meio trevas. Talvez esteja um pouco deprê porque minhas férias vão acabar em breve e eu passei as últimas 72 horas entre aeroportos, numa rotina desgastante e desumana típica de viajante duro e/ou inexperiente, que prefere economizar 300 dólares em bilhetes aéreos a uma boa dose de paz e sossego. A verdade nisso tudo é que eu nunca gostei tanto de voltar pra casa. Peru, maneiro pra carajo, vou voltar lá e fazer a trilha inca de cinco dias com a Marina. Santiago, linda de morrer, a Tati não exagerou nem um pouco - voltarei sempre que tiver uma chance. Rapa Nui? Meu lugar favorito no globo terrestre! Sempre tive predileção por umbigos, mas eu vou voltar pra lá não por isso, e sim pra passar umas boas semanas participando como voluntária de um mutirão de castração de cães e gatos, que lá são tantos que a própria população os trata de envenenar. Como acontece, aliás, em Puerto Maldonado, no Peru (apenas com a importante diferença de que o veneno organofosforado é distribuído pelo próprio governo a cada seis anos para matar os animais sem identificação - ou seja, todos).

Estou feliz por voltar pro Rio porque aqui o abraço é permitido e manifestações de afeto são bem vistas em público. Aqui, o humor é leve e picante, não se paga imposto sobre o riso, a cerveja é sempre gelada e o café, cheiroso e delicioso, é adequadamente torrado e moído, e não um suco maguary concentrado que se vende em caixinha pra servir misturado a uma xícara de água mais ou menos quente e salgada. Estou feliz de estar de volta, enfim, porque estava morta de saudades dessa terra, dessa gente.

E porque as aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá.


Porque eu sou descarada, andei me embolando com uns negões em Rapa Nui. O amor puro tem orelhas macias e distribuição cosmopolita.

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