Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quinta-feira, junho 25, 2009

Pensamentos mórbido-nostálgicos (ou quase)

Porque Michael, the Jackson Five, morreu, e porque isso me deixou mal à vera (sério mesmo, eu odiaria ter um filhinho meu molestado por ele, mas o cara era mega bom, tirando isso), esta noite fui perseguida por uma mini-série de pensamentos mórbido-nostálgicos, do tipo:

1. Phil. Phil não sei das quantas. Não me recordo de muita coisa além de "Phil", mas tenho uma vaga lembrança de que namorei um inglês chamado Phillip-something, e que ele era alto e corria mais do que eu, e que numa determinada ocasião me transmitiu sarna sarcóptica, e por isso nossa relação chegou ao fim (ou talvez tenha chegado ao fim porque eu o "automediquei" com um sarnicida que deixa o saco das pessoas em carne viva, e esse tipo de aleijão escrotal raramente permite a sobrevivência de uma história de amor).

2. Bath, 1992. Eu tinha 19 anos, OK? Estava fazendo um intercâmbio cultural numa cidade pequena da Inglaterra , OK? E ninguém falava português lá, OK? Só pra vocês entenderem que eu estava carente, OK? Então ouvi "Rocket Man" pela primeira vez e me apaixonei pelo Elton John falando sobre as saudades tão sentidas de sua mulher e as dificuldades de criar filhos em Marte. Eu juro que não sabia que ele era gay. Aí me morre o Freddy Mercury no mesmo ano, e todo esse papo de artista gay e AIDS vem à baila entre os amigos da escola. Descubro que Elton John, o grande amor da minha vida, é gay. Penso em suicídio, mas não sei dizer "me vê uma overdose de chumbinho aê?" em inglês. Sobrevivi por um pequeno lapso linguístico. Porque tive preguiça de expressar minha sentença de morte.

3. Ainda nessa temporada, quase morri involuntariamente (ou quase involuntariamente, segundo num-Freud-), quando tive uma forte crise de asma na noite em que a temperatura caiu abruptamente de -1C pra - 12C. Era um dia frio de dezembro, eu estava me despedindo dos meus melhores amigos (de intercâmbio) para todo sempre, e isto por si só seria motivo pra que eu morresse em paz e infeliz, mas salvaram-me médicos ingleses anônimos, cujos nomes nunca soube e cuja conta nunca paguei. God save the bloody queen!

4. Radioterapia. Todas as vezes em que eu ia ao Einstein acompanhá-lo em suas sessões de radioterapia, encontrava ali um menino de 5 anos. 5 anos, e já tinha câncer no cérebro. Porque era tão infantil, tinha de ser anestesiado antes de cada sessão, porque se ele se mexesse ainda que um pouquinho - e vocês sabem que crianças de 5 anos são tão irriquietas quanto labradores e beagles imaturos - os raios exterminadores poderiam matar mais do que o tumor no cérebro: poderiam matar sua capacidade de ser gente para todo o sempre. Esse menino nos via tomar café, capuccino, comer bolachas - mimos quase imperceptíveis da sala de espera - e gritava a plenos pulmões pra reivindicar seu direito de comer e beber também, como gente que era e como criatura infantil que era, e que por ser assim não tinha obrigação alguma de entender que não se pode comer nada antes de uma anestesia geral. E ele tinha de tomar anestesia geral todos os dias, durante 25 dias, porque foi assim que seu oncologista imaginou que o tumor poderia ser exterminado, embora não houvesse garantia alguma disso. Nunca, em toda a minha vida, eu pedi tanto a Deus pra ser incapaz de gerar filhos, porque eu preferiria morrer a ser mãe de uma criança que esperneia, chora e grita porque quer-porque-quer comer biscoito, mas não pode porque terá de tomar anestesia geral diariamente para tratar de seu câncer no cérebro.

5. É solitário, aqui no espaço. And I think it's gonna be a long, long time...