Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sábado, junho 16, 2007

Ma che peccato!

Mermão, o pai d'O Cara, liga pra cá e, assim que eu pergunto pelo menino, o marmanjo faz como qualquer criança de 4 anos e implanta o telefone na mão de meu sobrinho, sem dizer nem uma palavra gentil de transição, nem um "ah, ele está ótimo, vou chamá-lo pra vocês conversarem." Da mesma forma que eu, O Cara não estava inspirado pra conversar naquele momento. Na verdade, eu não deveria dizer isso porque é feio escutar conversa dos outros, mas como eu estava com o fone no ouvido e a audição não é um sentido seletivo, entendi que mermão estava obrigando meu adorável mas ocupado sobrinho a conversar com sua djindinha.

Ora, veja se pode! Então neguinho nasce sem pedir, sem saber nada sobre as agruras de ter uma famiglia como a minha, e ainda é obrigado por seu pai a falar com a pobre tia manca e doente, que mora num reino tão-tão distante, ao telefone? Ah, isso pra mim foi a gota d'água! Pedro Augusto diz alô.
- Alô, Peuguto. Aqui é a Djindinha. Já entendi tudo. Você não quer falar, não é mesmo?
- É mesmo.
- Se eu conheço seu pai, depois de gritar contigo ele se sentou à frente da televisão e está te olhando, de vez em quando, de rabo de olho, não está? Pra ver se você está conversando comigo, como ele te obrigou, não é?
- É... (a voz do menino era um suspiro pré-pranto)
- Então Djindinha vai te ajudar, tá bem? Você vai repetir animadamente tudo o que eu disser, OK? Vamos lá: diga "Xá comigo."
- Xá comigo.
- Diga: "Porco, cachorro, gato."
- Porco, cachorro, gato.
-Óinc-óinc, au-au, miau.
- Óinc, miau, au-au.
- Não tem importância...
- Não tem..
- STOP! Não é pra repetir isso. A brincadeira não é assim. Só repita o que eu mandar, combinado?
- Combinado.
- Diga: "1,2,3,4,5,6,7,8,9,10".
- Um, sete, oito, nove, dez.
- Agora façamos séries curtas e populares: "bunda, piru, xereca."
- Bunda, piru, xereca.

À esta altura, O Cara já estava gargalhando. Imagino que olhava de rabo de olho pro sofá para verificar se o seu rigoroso pai estava acompanhando aquela conversa de maluco. E seguimos por mais alguns segundos, repetindo séries populares de três palavras que qualquer criança conhece. Tivemos um bom quality time acerebral, como deve ser.

***

Não estou pronta pra ser mãe, ainda. Não estou pronta a forçar filho meu a fazer o que não quer. Eu mesma ainda não me acostumei bem a essa desgraça. Bom mesmo é brincar sem ter de atender telefone coisa nenhuma.