Carteirada
Como toda a blogosfera já sabe, minha Cora madrinha foi atropelada por uma moto. Eu soube do acidente pelo Picolé, meu maluco preferido, que ligou pra dizer: "NÃO DEIXE A CORA FAZER A ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO DO IPHONE!", como se eu fosse capaz de não deixar a Cora fazer alguma coisa. Aí ele me explica seu tom alarmista: é que a última atualização do iPhone fode os desbloqueados de vez. Ri-me, dizendo que -- rélo-ou! -- a Cora tanto já sabe disso que escreveu sobre este assunto há quase duas semanas. E ele: "Eu sei, mas aquela atualização de que ela falou já foi quebrada; dessa agora ela não sabe, porque saiu agora mesmo. E como ela está sendo operada neste exato momento, não deve saber ainda."
Cuma? Ahn? Operada? É? Ahn? Atropelada?!? Quê? Não pode visitar?
É ruim de não, heim!
Lá fui eu praquele hospital que me inspira os piores rosnados, pronta pra matar ou morrer. Eu ia ver a Cora e foda-se. Não é todo dia que uma pessoa querida é atropelada e, pior, operada de emergência no meu hospital-desafeto preferido! Eu e minha bike chegamos ao flat service em 20 minutos. Saí de casa tão rápido que esqueci os documentos. Quando vi a fila do INAMPS pra identificação de visitantes na portaria, pensei: só falta agora esses trogloditas não me deixarem subir porque eu esqueci uma maldita carteira de identidade. Como conheço aquilo lá de tantos outros carnavais, cerrei os punhos, estufei o peito e disse, na minha vez: "Meu nome é Vanessa Ornella e tenho cadastro aí nesse sistema como visitante e acompanhante. Vou no quarto tal, para ver a paciente tal." Acho que cheguei tão marrenta, que o pobre do atendente teve medo de contrargumentar, e apenas imprimiu uma etiqueta com meu prenome, dizendo: "Da próxima vez, senhora, traga uma identidade, tá?". Ele foi fofo. Rosnei que tá e subi, me mijando de rir. Foi a primeira carteirada sem carteira de que tenho notícias.
No quarto, a Heliana (que acompanhou a Cora desde o início do perrengue) pedia que eu ligasse pro centro cirúrgico a toda hora para ter notícias da paciente. A primeira foi tchan, a segunda foi tchun e, na terceira, a fulana do centro cirúrgico, que a essa altura estava farta de repetir a ladainha padrão do "este é um procedimento demorado, senhora, e não há previsão de horário para o término", resolveu rodar a baiana pra cima de moi!:
-- E a senhora por acaso é alguma coisa dela?
-- Por acaso eu sou (minhas mãozinhas já de prontidão, na cintura).
-- É o quê?
-- Amiga, ué!
Tenho a impressão de que a fulana, furiosa por der dado informações altamente confidenciais (a-han!) a estranhos, anotou em seu caderninho da Hello Kitty: "naum dar nunka maixxx informaxaumxxxxzsççç para pezxxssçoas ki naum sexjgam da familha du paxxchssçienti."
Minha sorte de não-familiar-angustiada (quem disse que é preciso ser da família pra ter o direito de se preocupar?) é que, poucos minutos depois dessa ligação, entra o cirurgião no quarto, já com sua roupinha de passear pela rua, dizendo que a cirurgia tinha acabado e tinha sido um sucesso. Ufa!
Entre a saída do médico e a entrada da Cora, passaram-se poucos minutos. Se eu tivesse tido tempo pra sentir tédio, teria feito minha última ligação, desta vez pra horrorizar a mocréia do centro cirúrgico, dizendo que antes de sair por aí perguntando sobre laços de parentesco, ela deveria exercer melhor seu ofício e aprender a informar corretamente, como se fosse uma pessoa de verdade, o que está acontecendo com os pacientes que desceram há tantas horas praquele lugar frio e assustador, onde todo mundo fica inconsciente e com a bunda de fora. Mas foi só ver a pequena chegar bem, sem cara de atropelada que, aliviada, descansei minhas armas.
A agressividade, muitas vezes, é só uma forma ridícula de demonstrar sofrimento.
Cuma? Ahn? Operada? É? Ahn? Atropelada?!? Quê? Não pode visitar?
É ruim de não, heim!
Lá fui eu praquele hospital que me inspira os piores rosnados, pronta pra matar ou morrer. Eu ia ver a Cora e foda-se. Não é todo dia que uma pessoa querida é atropelada e, pior, operada de emergência no meu hospital-desafeto preferido! Eu e minha bike chegamos ao flat service em 20 minutos. Saí de casa tão rápido que esqueci os documentos. Quando vi a fila do INAMPS pra identificação de visitantes na portaria, pensei: só falta agora esses trogloditas não me deixarem subir porque eu esqueci uma maldita carteira de identidade. Como conheço aquilo lá de tantos outros carnavais, cerrei os punhos, estufei o peito e disse, na minha vez: "Meu nome é Vanessa Ornella e tenho cadastro aí nesse sistema como visitante e acompanhante. Vou no quarto tal, para ver a paciente tal." Acho que cheguei tão marrenta, que o pobre do atendente teve medo de contrargumentar, e apenas imprimiu uma etiqueta com meu prenome, dizendo: "Da próxima vez, senhora, traga uma identidade, tá?". Ele foi fofo. Rosnei que tá e subi, me mijando de rir. Foi a primeira carteirada sem carteira de que tenho notícias.
No quarto, a Heliana (que acompanhou a Cora desde o início do perrengue) pedia que eu ligasse pro centro cirúrgico a toda hora para ter notícias da paciente. A primeira foi tchan, a segunda foi tchun e, na terceira, a fulana do centro cirúrgico, que a essa altura estava farta de repetir a ladainha padrão do "este é um procedimento demorado, senhora, e não há previsão de horário para o término", resolveu rodar a baiana pra cima de moi!:
-- E a senhora por acaso é alguma coisa dela?
-- Por acaso eu sou (minhas mãozinhas já de prontidão, na cintura).
-- É o quê?
-- Amiga, ué!
Tenho a impressão de que a fulana, furiosa por der dado informações altamente confidenciais (a-han!) a estranhos, anotou em seu caderninho da Hello Kitty: "naum dar nunka maixxx informaxaumxxxxzsççç para pezxxssçoas ki naum sexjgam da familha du paxxchssçienti."
Minha sorte de não-familiar-angustiada (quem disse que é preciso ser da família pra ter o direito de se preocupar?) é que, poucos minutos depois dessa ligação, entra o cirurgião no quarto, já com sua roupinha de passear pela rua, dizendo que a cirurgia tinha acabado e tinha sido um sucesso. Ufa!
Entre a saída do médico e a entrada da Cora, passaram-se poucos minutos. Se eu tivesse tido tempo pra sentir tédio, teria feito minha última ligação, desta vez pra horrorizar a mocréia do centro cirúrgico, dizendo que antes de sair por aí perguntando sobre laços de parentesco, ela deveria exercer melhor seu ofício e aprender a informar corretamente, como se fosse uma pessoa de verdade, o que está acontecendo com os pacientes que desceram há tantas horas praquele lugar frio e assustador, onde todo mundo fica inconsciente e com a bunda de fora. Mas foi só ver a pequena chegar bem, sem cara de atropelada que, aliviada, descansei minhas armas.
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A agressividade, muitas vezes, é só uma forma ridícula de demonstrar sofrimento.
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