Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sexta-feira, julho 11, 2008

Respirar para não pirar

Ainda estou tentando entender. Estou tentando decidir se sofro de tensão pré-trans-pós menstrual ou estresse pré-trans-pós traumático empático. Falei pra minha joelhaço dia desses:
- Cheguei ao fim da linha: estou refratária à psicoterapia. Não consigo falar, não posso mais ler jornal, não posso mais ouvir notícia alguma. Mas eu ainda consigo escrever. Será que posso me tratar por email?

Minha joelhaço acha que eu sou muito má comigo mesma, então para provar que eu ainda me gosto, me defendo e me trato, resolvi buscar uma nova alternativa para cuidar do meu tão adoecido corpo-e-mente: o MARP.

Não me perguntem o que é o MARP, eu procurei esta resposta na internet e só encontrei definições vagas e vagamente esotéricas. Existe todo um mistério em torno dessa técnica francesa de morfoanálise e reajuste postural. Segundo minha mãe, que já tratou algumas dores de coluna no consultório de Teresinha Schulz, mãe da minha querida Wal, o MARP funciona, e funciona milagrosamente. "Milagrosamente?", eu quis entender. "Sim, é um milagre porque eu não sei como funciona. Eu simplesmente deitava lá, ela me colocava numa determinada posição, eu dormia e, quando acordava, u-hu: estava sem dor."

Ora, se a gente dorme mal e acorda bem, é tudo o que eu quero pra mim agora! Afinal, estou com mais dores do que posso aguentar, e são dores tão profundas que eu nem consigo localizá-las. Talvez a dor do pé, mas essa é a que me dói menos. As outras dores, profundas, misteriosas, que me fazem chorar no ônibus quando ouço a conversa animada de criancinhas sobre o que querem ser quando crescer, estas dores sim, precisam de mágica pra sumir.

Como a Teresinha agora mora em Porto Alegre, recorri Àquele que Tudo Sabe para descobrir um MARP-terapeuta no Rio, e encontrei a Liana. Fui lá esta semana e expliquei que não consigo mais falar, que preciso ser tratada pelo toque. Na verdade, como sou cética, eu queria dizer: preciso ser tratada por uma varinha de condão, mas se alguém perguntar, eu nego! Ela parecia entender exatamente o que eu dizia, embora eu tenho chorado muito e dito quase nada, e logo me pediu pra tirar a roupa e deitar num colchonete sobre o chão, onde me cobriu com uma manta macia e quentinha. Com a voz suave, me orientou a fazer a respiração em 3 estágios - ventre, costelas, alto do peito - e foi me esticando daqui, me articulando de lá, tudo muito suave, tudo muito gostoso, até que eu dormi com o rosto melado de lágrimas e filtro solar. Quando eu finalmente acordei e me pus de pé, ela perguntou como eu me sentia. Parei um pouco para pensar na resposta, consultei meus universitários internos e disse:
- Alta.

Ela sorriu e pediu que eu voltasse na semana seguinte. Saí tão leve, alta e contente que, por um instante, fui invadida por uma maré de otimismo. Oxigênio demais deixa a gente otimista. Respirar, aparentemente, é um verdadeiro veneno contra o pessimismo.

Fiquei tão polyanna depois da Liana que fui, dias depois, a uma dessas lojas onde tudo é verde mas o lixo não é reciclado. Queria comprar uns chás, uns aromas, uns patuás, sabe? Me deu um acesso de viadagem consumista. No caixa, encontrei o folheto publicitário de um professor de... algo muito vago e difícil de compreender para um não-iniciado como eu, mas que parecia ter algo a ver com meditação. Dei uma olhada no currículo do mancebo e vi que ele fez curso de não sei o quê na Índia, aprendeu a ser instrutor de não sei mais o quê na França, e a lista de países estrangeiros por onde estudou não terminava. Pensei, lá com meus botões, só pra perceber que eu ainda preciso respirar muuuuuito!, que esse cara tinha feito a proeza de dar a bunda pelos quatro cantos do mundo. Então meu superego perverso me sorriu: ainda bem que eu não sou má só comigo mesma. Enfim, uma boa notícia.