Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

domingo, agosto 17, 2008

Como iniciei minha carreira no teatro infantil

Como já andei dizendo por aqui, minha mãe quis montar uma pecinha teatral para a festa de 6 anos de meu sobrinho, em agosto. Apesar de termos recebido todos os sinais de que seríamos um total fracasso de público e crítica, pois não somos pessoas de teatro nem nunca fizemos qualquer trabalho de corpo e voz, minha determinada mamma tocou o projeto, fez figurinos e cenários com meu pai e, no dia 2 de agosto de 2008, fizemos nosso début no teatro infantil.

Confesso que engrossei o coro dos pessimistas e dirigi-me ao palco como quem dá-se ao carrasco. Houve um determinado momento, na fase ensaiatória, em que até meu infante sobrinho, o maior beneficiário de todo nosso esforço, tentou convencer sua avó de desistir, dizendo que seus amiguinhos não curtem teatro tanto assim. Minha mãe parecia refratária a todo tipo de obstáculo e manteve-se firme e forte na tarefa de adaptar o texto original diariamente, não só para que a peça durasse no máximo 20 minutos (condição sine qua non para que as crianças não dormissem), como também para reduzir a quantidade de personagens em cena, porque toda peça infantil parece ter pelo menos 100 personagens, entre árvores que ficam paradinhas, nuvens e estrelas que mudam de lugar e outros desperdícios de figurino que chegam a ter uma fala ou duas.

Meu pai, o Astronauta, claro, foi a principal atração da peça. Ele caiu no Planeta dos Brinquedos porque sua nave apresentou algum tipo de defeito, e eu, a Boneca leviana, roubei uma peça de seu foguete para que ele não voltasse nunca mais pra Terra. Eu não fiz por mal, claro, só queria o bem do Astronauta, porque no planeta dos brinquedos todo mundo é super feliz e animado o tempo todo, mas as crianças não queriam saber: era só o Astronauta entrar em cena para que todas gritassem que a peça do foguete estava na minha bolsa, na bolsa da Boneca!, e aí o Astronauta dava ouvidos às crianças, esquecia sua fala e meu irmão, o contra-regras, nos cantava algum gancho, lá do fundo do palco, e nós seguíamos adiante.

Nosso índice de acerto de falas deve ter esbarrado em 10%, o resto foi puro improviso.



A Boneca e o Palhaço, brinquedos super animados no Planeta que nunca fica triste.


Meu sobrinho, O Cara, de bermuda laranja, super feliz de ver o avô em cena.



O Palhaço e a Boneca planejam manter o Astronauta para sempre em seu planeta animadinho. O Astronauta, leviano por sua vez, também tinha planejado roubar as pedras do sorriso do planeta dos brinquedos. As pedras do sorriso são uma espécie rochosa de prozac, uma kriptonita da alegria, e o Astronauta pensou que poderia ficar bem rico e famoso se conseguisse vendê-las na Terra. Eu compraria. Quem não compraria?



No final, tudo se resolve: os brinquedos devolvem a peça do foguete e o astronauta confessa que foi bem canalha quando pensou em roubar as pedras, e todos vivem felizes para sempre, cada qual em seu planeta.

Atenção para o figurino do Astronauta: por baixo do uniforme de apicultor, tem óculos de armação em neon azul piscante; por fora, um cinto cheio de ferramentas para consertar o foguete e uma mangueira de máquina de lavar roupa, pro Astronauta poder respirar em atmosferas hostis. Eu quero uma roupa dessas.