Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quinta-feira, agosto 21, 2008

Great Adventure

Ontem eu, Ken, minha irmã e amigos fomos de van ao Great Adventure, um parque de diversões em New Jersey, a 2 horas de Manhattan. Para isso, a Sima, amiga da minha irmã, passou a noite da véspera cozinhando nosso piquenique; dormimos todos na casa delas, no Brooklyn, para não perder nem um minuto na linha L do metrô. A idéia era partir às 8h30, mas acabamos saindo de lá com 4h30 de atraso.

Eu sou brasileira, gente, vocês sabem que eu estou acostumada com atraso, mas uma coisinha modesta assim de 15, 20, 30 minutos, nada tão sofisticado quanto um atraso de 4 horas e meia. Quatro horas e trinta minutos, mermão, nesse calor da porra, conseguiu me deixar ligeiramente irritada. Sorte que eu tinha tudo sob controle: como estou de férias, eu me proibi de me aborrecer. Então eu fiquei a tarde toda num estado de completa ausência mental, pois todos os meus neurônios estavam ocupados barrando a irritação nas minhas sinapses. Desta forma, foi apenas natural que eu topasse (sozinha, sem meus neurônios) passar 2 horas na fila para passear por 15 segundos na montanha russa do Super Homem.

A gente, que é de fora, acha que cada brinquedo tem um nome de super herói para facilitar o encontro das pessoas, tipo: ó, se alguém se perder, a gente se encontra na frente da montanha russa do Batman! Mas não é apenas isso: um filho da puta dum engenheiro cretino queimou a mufa pensando como poderia fazer um brinquedo que simulasse o vôo do Super Homem, e pra isto ele incluiu 3 loopings, uma subida ao céu, algumas descidas ao inferno, e tudo isso com o contribuinte de barriga pra baixo, porque em rio que tem piranha, super homem não voa de costas. O resultado de tanta engenharia é invariavelmente uma coisa que pode te matar se a trava abrir durante o passeio (ou vôo), e foi no momento desse clique (da trava de segurança fechando) que eu despertei de meu estado de ausência mental e gritei, chorei e implorei pra me tirarem dali, mas acho que gritei em português, porque a mocinha da trava simplesmente acenou goodbye, e tudo o que me lembro foi que eu me fodi de verde e amarelo. Durante o vôo, vi chicletes, moedas, dentaduras, óculos e outras coisas que os super heróis anteriores deixaram cair pelo caminho. Tentei localizar com minha super visão ultra-power onde eu tinha deixado cair meu juízo, mas aparentemente eu o perdi há anos (e anos-luz daqui).

Depois dessa atração, eu entrei em mais duas filas e consegui ir a apenas mais uma montanha russa, porque a do Batman quebrou a 10 pessoas de nós, quando faltavam apenas 15 minutos para o parque fechar. Foi muito frustrante, mas, como eu disse, estou proibida de me aborrecer, então passei o resto da noite em estado de completa ausência mental.

Não tenho mais idade para essas coisas. Devo ter perdido a juventude num desses vôos da vida.

Super flash
Chegamos no parque às 15h e saímos quando fechou, às 22h, mas mesmo assim poderíamos ter ido a pelo menos mais 4 brinquedos se tivéssemos comprados um passe super flash, que é uma mania americana de comer fila. Todo mundo paga 25 dólares pra entrar no parque, o que é um pequena fortuna por si só, ainda mais se somada aos pedágios, estacionamento e combustível, mas aqueles que pagarem apenas 25 dólares a mais podem entrar na fila na frente de todo mundo. Eles anunciam assim mesmo: pra que ficar na fila se o super flash te passa na frente de todo mundo? É ou não é cretino? E quando eu digo todo mundo, estou falando de centenas de pessoas, 2 horas de fila ou até 3 horas, se houver muita gente com o tal passe da esperteza. É muita cara de pau passar a fila na frente de tanta gente se não for caso de vida ou morte.

Expliquei pra galera que isso nunca funcionaria no Brasil, porque os comedores de fila pagantes, se não fossem fisicamente incapazes, seriam hostilizados (se homens, seriam chamados de todas as variações de "viado"; se mulheres, seriam chamados de toda variação possível de "gorda" e, se fossem magras, de todas as variações possíveis de "perua"). Aparentemente, no entanto, isso aqui é normal. Senti-me sob a obrigação moral e cívica de hostilizar, eu mesma, os portadores do flash pass, sobretudo as crianças, porque as crianças ainda podem aprender. Então, quando eram meninos, eu os chamava de "futuros presidentes dos estados unidos", e quando eram meninas eu as chamava de "futuras ex-primeiras damas traídas e publicamente humilhadas", que parece ser uma mania nacional cada vez mais em voga por aqui. Pra minha grata surpresa, os clientes do passe comedor de fila eram sempre americanos nativos, mas poucos entendiam minha hostilidade, o que comprova que Michael Moore nem sempre está errado e que há esperança para o mundo se os EUA forem domesticados a contento (e a tempo).

A grande hostilidade

Mas a maior hostilidade de todas foi uma coisa que aconteceu com uma contribuinte acima do peso que tinha passado 2 horas na fila do super homem um pouco antes da gente. Em sua vez de sentar no carrinho, a trava não fechou. Todo mundo estava travadinho naquele carro, menos ela. Aí a mocinha do parque, que já tinha tentado espremer a trava sobre a barriga da cliente, chamou um rapaz, que veio com uma ferramenta enorme pra acudir. Eu achei super fofo porque pensei que ele ia ajustar o assento para fazer caber a garota. Pro meu choque e horror, no entanto, ele usou a ferramenta para abrir a trava, ejetando de lá a garota e dizendo algo como "sinto, m'am, mas você é grande demais para este brinquedo". OK, tudo bem, não vou mentir pra vocês: a garota era obesa! Mas por que diabos não avisaram pra ela no início da fila, assim como eu fui avisada em relação à minha bolsa (que eu precisei pôr num locker antes de voltar pra fila), que a trava não trancaria sobre sua barriga? Primeiro neguinho super size geral, oferecendo 5 litros de coca a mais por apenas 50 cents, e depois vão barrar no Great Adventure, na frente de 500 pessoas, como se aquilo fosse o palco de um espetáculo triste? Ah, não, achei um great desaforo! Mas como disse, não consegui nem me aborrecer, porque afinal estou proibida.

Resumo da ópera: se você não tem o dia todo pra mofar numa fila; se você tem um bom livro pra ler; se você já passou dos 25 anos; se você tem um lugar melhor pra enfiar seus 25 dólares... o great adventure é uma great bosta.