Coisas estranhas que saem do nariz da gente
O pior já passou e agora eu não só consigo respirar pelo nariz, como posso dormir deitada, um luxo que pouca gente valoriza. Meus principais cuidados pós-operatórios no momento são o antibiótico e uma faxina nasal com soro fisiológico várias vezes por dia.
No início, quando o dreno saiu e tudo ainda doía muito, eu tinha entendido que era pra pingar umas gotas em cada narina, só para dar uma hidratadinha no narizinho sofrido. Como esses parcos cuidados deixaram meu nariz completamente obstruído em poucas horas, tive de voltar à clínica para uma desobstrução mecânica, ou seja, uma catação de meleca ambulatorial. Eu tentava não olhar pro lixo que o médico ia tirando de minhas narinas com um aspirador e uma pinça para não ficar muito impressionada, mas quando ele tirou uma massa do tamanho de uma bola de ping-pong friável de uma das minhas narinas (o que deixou minha cabeça leve a ponto de eu achar que tinha perdido massa encefálica), eu comecei a achar aquilo tudo meio repugno-angustiante. Quanto lixo pós-cirúrgico cabe em uma pessoa, afinal?
Meu médico, que estava em débito comigo porque marretou meu crânio e permitiu que me mandassem pra casa só com tylenol, contou-me uma história assombrosa, visando ao meu entretenimento durante o ato nada gostoso de afogar meu nariz em soro profuso. Ele disse que um de seus pacientes, 2 meses depois da cirurgia de desvio de septo, perguntou se já estava de alta prum rala-e-rola porque tinha uma gatinha na cola dele, e coisa e tal. O doutor disse que claro, sim-sim, apenas evite emoções fortes no nariz, então lá se foi o gajo com a gatinha prum restaurante bacana exercitar suas manobras de sedução. No meio do jantar, o rapaz sente uma coisa se avolumar na garganta, tosse e expele um feio e espantoso alien castanho, entre seco e molhado, que voou até seu prato com toda a pressão. Se o prato não estivesse vazio, talvez a mega-master-meleca assombrosa tivesse ficado presa entre um ravióli e outro, mas como não havia nada que parasse o monstro, ele continuou sua trajetória até o decote da menina, que não conseguiu segurar o engulho - e depois o choro - no salão lotado de um daqueles restaurantes de Ipanema onde tudo se vê e tudo se repara. Pronto, fim de romance. Aquele príncipe encantado seria pra sempre um sapo cuspidor de meleca.
Eu não sou de me impressionar com besteira, mas entendam que eu tinha acumulado o assombro do relato com o assombro da limpeza nasal que o médico me fazia, de forma que antes de sair do consultório, eu perguntei, angustiadinha:
- Doutor, e como eu faço pra que isso (de um dia cuspir uma meleca) não aconteça comigo de jeito nenhum?
- Faça suas limpezas direitinho, 3 vezes por dia, com bastante pressão, bastante volume, enfiando soro numa narina pra sair pela outra até sentir o gosto salgado do soro na boca.
Um lado meu quer ser normal e portanto tem feito a limpeza direitíssimo: 500 ml de soro por lavagem, com a pressão de um lava-jato. Do jeito que eu faço, não fica nada, nem vestígio de olfato. Estou drenando os odores do mundo.
Meu lado ostra Freddy Krueger, no entanto, tem muita vontade de cultivar uma pérola gosmenta desse porte só para soltá-la na hora certa do estresse alarmante, exatamente como fazem os gambás com suas glândulas adanais e os porcos espinhos com seus cabelos espetantes. Seria minha arma secreta num assalto, por exemplo:
- A bolsa, tia! Passa essa merda logo, porra!
- Gloooobit pluc zapt. (sonoplastia da meleca voando direto pro olho do bandido e eu fugindo, rápida como um raio, da cena do crime)
Pelo sim, pelo não, faço minhas faxinas, mas prefiro não entender os pormenores da anatomia da cabeça humana. Pelo menos assim, eu sempre ficarei na dúvida se minhas rajadas de soro deixaram ou não algum soldado morto para trás.
PS: É muito promíscua essa relação do nariz com a boca, da boca com o olho, do nariz com o ouvido. Acho um pecado a gente deixar esses órgãos todos se comunicarem e não conseguir sentir o gosto da música ou a música dos cheiros. Se Deus não tivesse descansado no sétimo dia, talvez todos nós fôssemos sinestésicos.
No início, quando o dreno saiu e tudo ainda doía muito, eu tinha entendido que era pra pingar umas gotas em cada narina, só para dar uma hidratadinha no narizinho sofrido. Como esses parcos cuidados deixaram meu nariz completamente obstruído em poucas horas, tive de voltar à clínica para uma desobstrução mecânica, ou seja, uma catação de meleca ambulatorial. Eu tentava não olhar pro lixo que o médico ia tirando de minhas narinas com um aspirador e uma pinça para não ficar muito impressionada, mas quando ele tirou uma massa do tamanho de uma bola de ping-pong friável de uma das minhas narinas (o que deixou minha cabeça leve a ponto de eu achar que tinha perdido massa encefálica), eu comecei a achar aquilo tudo meio repugno-angustiante. Quanto lixo pós-cirúrgico cabe em uma pessoa, afinal?
Meu médico, que estava em débito comigo porque marretou meu crânio e permitiu que me mandassem pra casa só com tylenol, contou-me uma história assombrosa, visando ao meu entretenimento durante o ato nada gostoso de afogar meu nariz em soro profuso. Ele disse que um de seus pacientes, 2 meses depois da cirurgia de desvio de septo, perguntou se já estava de alta prum rala-e-rola porque tinha uma gatinha na cola dele, e coisa e tal. O doutor disse que claro, sim-sim, apenas evite emoções fortes no nariz, então lá se foi o gajo com a gatinha prum restaurante bacana exercitar suas manobras de sedução. No meio do jantar, o rapaz sente uma coisa se avolumar na garganta, tosse e expele um feio e espantoso alien castanho, entre seco e molhado, que voou até seu prato com toda a pressão. Se o prato não estivesse vazio, talvez a mega-master-meleca assombrosa tivesse ficado presa entre um ravióli e outro, mas como não havia nada que parasse o monstro, ele continuou sua trajetória até o decote da menina, que não conseguiu segurar o engulho - e depois o choro - no salão lotado de um daqueles restaurantes de Ipanema onde tudo se vê e tudo se repara. Pronto, fim de romance. Aquele príncipe encantado seria pra sempre um sapo cuspidor de meleca.
Eu não sou de me impressionar com besteira, mas entendam que eu tinha acumulado o assombro do relato com o assombro da limpeza nasal que o médico me fazia, de forma que antes de sair do consultório, eu perguntei, angustiadinha:
- Doutor, e como eu faço pra que isso (de um dia cuspir uma meleca) não aconteça comigo de jeito nenhum?
- Faça suas limpezas direitinho, 3 vezes por dia, com bastante pressão, bastante volume, enfiando soro numa narina pra sair pela outra até sentir o gosto salgado do soro na boca.
Um lado meu quer ser normal e portanto tem feito a limpeza direitíssimo: 500 ml de soro por lavagem, com a pressão de um lava-jato. Do jeito que eu faço, não fica nada, nem vestígio de olfato. Estou drenando os odores do mundo.
Meu lado ostra Freddy Krueger, no entanto, tem muita vontade de cultivar uma pérola gosmenta desse porte só para soltá-la na hora certa do estresse alarmante, exatamente como fazem os gambás com suas glândulas adanais e os porcos espinhos com seus cabelos espetantes. Seria minha arma secreta num assalto, por exemplo:
- A bolsa, tia! Passa essa merda logo, porra!
- Gloooobit pluc zapt. (sonoplastia da meleca voando direto pro olho do bandido e eu fugindo, rápida como um raio, da cena do crime)
Pelo sim, pelo não, faço minhas faxinas, mas prefiro não entender os pormenores da anatomia da cabeça humana. Pelo menos assim, eu sempre ficarei na dúvida se minhas rajadas de soro deixaram ou não algum soldado morto para trás.
PS: É muito promíscua essa relação do nariz com a boca, da boca com o olho, do nariz com o ouvido. Acho um pecado a gente deixar esses órgãos todos se comunicarem e não conseguir sentir o gosto da música ou a música dos cheiros. Se Deus não tivesse descansado no sétimo dia, talvez todos nós fôssemos sinestésicos.
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