Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quarta-feira, abril 22, 2009

A vida que segue, parte II

Ai, vamos deixar de hipocrisia: eu adorei minhas férias, mas apenas na mesma medida que adorei voltar pra casa. No avião em vias de pousar no Galeão, eu cantarolava o samba do avião e tinha vontade de gritar pra todos os chilenos a bordo: ISTO SIM É QUE CIDADE, HEIM? Por acreditar que isto poderia causar alguma sorte de incidente diplomático desnecessário, até porque os chilenos são maneiros pra caramba, eu deixei pra lá. Fiquei só no humming: "A minha alma ahn-ahn...".

Eu não sei exatamente porque esse fenômeno da ingratidão turística se abateu sobre mim justo este ano. No ano passado eu também fiquei felizinha de voltar pra casa, mas não foi assiiiiim, uma felicidade tão forte, uma emoção tão grande. Eu senti pena de deixar o Ken pra trás, minha irmã, enfim: eu saí de Nova York apegada. E o que acontece é que, desta vez, não tinha santo que me mantivesse apegada aos últimos três dias infernais da viagem, e isso porque eu, incorrendo em um erro logístico imperdoável no fechamento dos vôos, aceitei passar menos de 24 horas em Cusco (voltando de Puerto Maldonado), depois menos de 24 horas em Lima e, em seguida, menos de 24 horas em Santiago antes de voltar pro Rio.

De tal forma que, nas últimas 72 horas da viagem, eu só conseguia pensar no Rio. O Rio se tornou o grande objetivo dessas últimas horas, uma linha de chegada de maratona, o lugar onde eu receberia minha medalha de turista maluca.

Desculpem o desabafo, mas eu só estou dizendo essas coisas desagradáveis pra vocês aprenderem com os meus erros: não vale a pena passar menos de 24 horas num lugar, ou melhor, em 3 lugares seguidos, sobretudo em dias consecutivos. Aliás, maratona é coisa pra se correr sem mochila. Maratona de mochilão não pode, minha gente! Em 21 dias, eu tomei 10 vôos, fiz duas viagens longas (de 7 horas) em ônibus, 3 viagens curtas em carro e duas de média duração em barcos. Uma meia maratona tem 21km, mas essas férias equivaleram -- numa boa! -- a uma maratona inteira: os 42kg completos, de mochilão nas costas e ar quase sempre rarefeito. É natural que eu esteja mal humorada e exausta, mas isso vai passar, se Deus quiser, porque a vida segue! A gente aprende com os próprios erros e se torna um ser humano melhor eventualmente. EVENTUALMENTE!

Hoje fiz um spazinho doméstico básico pra tentar me agradar: depilação, esfoliação, hidratação, limpeza de pele... só que está um pouquinho foda me agradar neste momento. Talvez eu precise atirar uns pratos na parede, socar umas almofadas ou correr do Leme ao Pontal. Tou com muita energia raivosa, preciso liberar um grito. Ou então preciso sambar, suar, tomar a verdadeira caipirinha e então me perdoar pelos meus enganos. Eu tenho que me convencer de que não dá pra abraçar o mundo com as pernas. Vanessa Ornella, minha filha: não dá! Se eu só tenho 30 dias de férias por ano, preciso aceitar a dura realidade de que não dá pra encaixar todo um continente nesse período. É difícil, gente. Porque, façam as contas comigo: se eu só puder conhecer dois lugares novos por ano (passando 15 dias em cada), até o final da minha vida útil como carregadora de mochila eu só terei conhecido mais 26 lugares novos no planeta. E aí, que eu faço pra conhecer os 974 restantes? Viro kardecista e passo a torcer ansiosamente pelo advento das próximas vidas e viagens?

Pouco me resta a fazer além de implementar o plano B: sair com a galera, sambar e beber a verdadeira caipirinha. Talvez esse momento ócio não raivoso me renda algum insight, mas por enquanto estou desanimada. Acho que estou precisando é namorar. Um namorado bacana, numa hora dessas, diria: "Chegue aqui, neguinha, me dê um cheiro e deixe de besteira." Com sotaque baiano, que é o mais relaxante de todos.

É isso. Estou precisando de um namorado baiano. Ou um que faça bem o sotaque baiano e tenha preguiça de viajar que nem um maluco. Um namorado que goste de ficar paradinho no mesmo lugar de vez em quando, só pra me ancorar. Tô muito solta na vida, gente: voei 10 vezes em 3 semanas, e isso é muito errado!

É isso aí: tô precisando namorar. Tenho preguiça só de pensar nas etapas que se seguem doravante (sair, ver gente, conhecer, experimentar, filtrar, eliminar, classificar, ter paciência, paciência, paciência), mas tudo bem. Se eu fiz essa maluquice toda nas férias, estou mais do que apta a correr a meia de Buenos Aires e arrumar um namorado. Que a terra não me pese.