Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

segunda-feira, junho 01, 2009

Garoto

Hoje fiquei engarrafada ao lado de um outdoor que me lembrava da iminência do Dia dos Namorados, uma data mera e irritantemente comercial que, além de vender flores e outras coisas cafonas quando fora de contexto, só serve pra deprimir o contribuinte declaradamente solteiro e sozinho. Ou veladamente solteiro e sozinho, porque o pior sozinho é aquele que está acompanhado. No meu aipode, tocava a faixa "Garotos", do Leoni. Então, porque eu sou capaz das associações mais criativamente inusitadas, subitamente caí em depressão.

Tentei lembrar das desculpas que ele dava pra desaparecer numa sexta à noite. Estava numa reunião, estava numa ponte aérea, estava morto-cansado-e-dormindo, esqueceu o celular no trabalho, o celular caiu num rio, dormiu na casa da mãe. A mãe às vezes confirmava, às vezes não; às vezes sentia pena de mim, às vezes não. E eu notava - porque eu não podia deixar de reparar - que ele chamava todas as mulheres de "minha linda". Tirando sua própria mãe, eram todas "suas lindas", sem exceção: da faxineira à gerente do banco. E eu perguntava, intrigada: mas você acha que ela é linda mesmo ou tá de sacanagem? Na verdade, eu queria dizer: "você tem de seduzir todas as mulheres do mundo na minha frente ou tá só de sacanagem com a minha cara?". E ele dizia que era mania, e mania é coisa contra a qual não se luta, sobretudo se é uma mania que não faz mal a ninguém. Embora se julgasse esperto, perto de uma mulher, ele era só um garoto. E eu fui louca por ele assim, sabendo que ele era só um garoto; e sabendo que ele nunca seria só meu. Fui louca por ele a minha vida inteira e confesso que não estava preparada pra viver sem ele.

Às vezes eu sinto tanta saudade que me sinto deslocada. É como se a vida fosse uma festa onde eu só vim parar de penetra.

Às vezes eu acho que Deus é um puto escroto.