Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

domingo, março 22, 2009

In vinus, post-it.

Cai o rei de espadas, cai o rei de ouros, cai o rei de paus, cai, não fica nada.

Meu celular está desligado desde ontem. Descobri pela enésima vez que odeio celular com todas as minhas forças. E não é só celular que eu odeio: odeio as operadoras de celular, odeio suas mensagens não solicitadas de promoções, odeio seus serviços capengas. Odeio odiar sozinha, porque odiar sozinha é premissa das pessoas desagradáveis.

Tinha um tempo que eu não ia a um mega show na apoteose. Fui ao RadioHead na sexta, u-hu,. Eu me senti vinte anos mais velha que no show do A-Ha, há vinte anos e tal. Deve ser natural se sentir vinte anos mais velha vinte anos depois, mas eu me senti uma merda, sobretudo quando eu não entendi a banda do meio. Porque teve uma banda no meio que ninguém entendeu: nem a galera de 18 anos, nem a galera da terceira idade. Então os mega-concertos agora unem as tribos etariamente díspares pela ignorância. E o chope a cinco reais reune todas as ignorâncias. O etilismo é uma benção, esqueçam a ignorância.


A propósito: eu vi a banda do meio no palco: parecia uma instalação, mas eram pessoas tocando algo parecido com música eletrônica. Algumas pessoas curtiram, eu vi com esses olhos que a terra há de comer, mas ainda assim eu continuo sem entender a modernidade.

Semana que vem, eu viajo.

Passarei 3 semanas entre o Chile e Peru. Vou dar um pulinho de 3 dias no umbigo do mundo, que eles chamam de Ilha de Páscoa, mas tem muito homem primitivo que ainda gosta de chamar de Rapa Nui. Eu, como homem primitivo que sou, chamo de Rapa Nui. O umbigo do mundo. Gosto muito de umbigo, eu sou uma pessoa que gosta muito de umbigo. Não do próprio umbigo, mas de umbigos outros. Daqui a 10 dias, estarei no umbigo do mundo. Eu acho que o umbigo do mundo é um lugar bacana. É caro pacaceta chegar lá, mas eu estou com a sensação de que este umbigo valerá a pena. Depois eu digo.

Alguém aí toparia fazer essa viagem comigo? Tudo o que você precisa pra isso é de:

1) tempo;
2) dinheiro.


Quem tem tempo e dinheiro, tem tud0. Foda-se a saúde. Foda-se o amor. Pra ir ao umbigo do mundo, você só precisa de tempo e dinheiro. Obrigada, funcionalismo público, pelas férias remuneradas de 30 dias por ano. Obrigada, traduções, que eu odeio fazer, mas pagam o umbigo do mundo. Porque nem sempre tempo é tudo: às vezes dinheiro também tem seu valor. Cada um sabe o ponto do planeta que ainda pode ir. E o hotel onde pode se hospedar.

Eu acho que gente deve ir em todos os lugares onde ainda não foi. O mundo só fará sentido depois de completamente explorado. Não existe humanista teórico. Todo humanista viajou mundo afora, e foda-se muito quem quiser ser humanista sem ter viajado. Você pode parar de comer carne se quiser, você pode ser orgânico se quiser, mas pra ser humanista de verdade, tem que ser um pouquinho burguês e explorar o planeta. O mundo ainda é premissa exclusiva daqueles que podem comprar uma passagem, não adianta.

A teoria sem prática é como uma punheta que nunca ejacula. Sem cabimento.

Postei, pronto. Nunca mais voltarei aqui, terei contato zero com esta realidade.

Aliás, a realidade é premissa daquilo com que temos contato. O umbigo do mundo não é a realidade de ninguém, porque quase ninguém tem contato com ele. Mas ele está lá, no meio do Pacífico: às vezes calmo, às vezes furioso, mas nunca deixou de exisitir: desde que o mundo é mundo, desde que o mundo tem umbigo.

Aquilo que a gente não pensa, simplesmente não existe: e esta ignorância é a coisa mais triste.