Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

quinta-feira, dezembro 30, 2010

Keskecé

A chuva lava o chão, o rio leva a folha, a mãe arrasta o filho, o ônibus não para no ponto. A nuvem é barbaramente retalhada por um avião. O vento varre o papel, o ano chega ao fim, o despertador sequestra o sonho, o moribundo dá seu derradeiro suspiro na mesa cirúrgica enquanto os ponteiros circulam o relógio comunicando que não há retorno. Eu penso em tudo que passa, e tudo passa por mim como se eu fosse peneira. Ou como se eu fosse esponja, porque peneira passa, esponja retém. Talvez meus poros estejam dilatados demais, talvez minha alma esteja dilatada demais, talvez coisas demais passem por minha cabeça.

Só sei que tudo passa. E essa porosidade dolorosa também vai passar um dia, porque um dia até a vida passa.

E eu, passarinho. Que tomou pedrada, mas ainda assim, passarinho.

terça-feira, dezembro 28, 2010

Bitocão

Há dois motivos para você beijar seu cão à francesa ao menos três vezes ao dia:


  1. Descobrir se ele assaltou a lixeira;
  2. Em caso afirmativo, descobrir (pelos temperos impregnados no bigode) o que tem em casa pra comer.
Hoje, por exemplo, descobri que pessoal de casa almoçou bacalhau. A Bibi estava com um hálito altamente característico, com um discreto acento de azeite extra virgem, batata e brócolis. Mais um ano com um cão em casa [fazendo tudo ao contrário do que eu sempre preguei], e eu rasgo meu diploma de veterinária.

sábado, dezembro 25, 2010

O sax mora ao lado

Certa vez publiquei um artigo no jornalzinho do meu condomínio para tentar sensibilizar os condôminos a serem mais tolerantes com os animais de seus vizinhos. Minha vontade era dizer que nós, que não temos filhos, já somos obrigados a suportar os seus [filhos], então nada mais justo que vocês, que não têm animais, suportem os nossos [peludos], mas eu tive que ensaiar uma saída mais diplomática para este já tão controverso tema da tolerância interespecífica condominial. Só me restou apelar pro drama dos velhinhos  solitários que têm nos animais o único elo com o mundo [lá] fora do apartamento. Mal sabia que, em pouco tempo, eu também me tornaria uma dessas pessoas solitárias que só saem de casa para trabalhar e passear com o cachorro e que, graças a isto, não perderam definitivamente a capacidade de articular frases tolas e saudações lacônicas (como 'dia, 'noite e 'brigada) na presença de outros humanos. 

A peludoterapia intensiva é um veneno e tanto contra a solidão e os terríveis sintomas da agorafobia subclínica.

Pois foi graças ao meu cão, que pacientemente leva-me todos os dias a passear, que eu conheci um desses velhinhos solitários legítimos, que tem em seu pinscher de quilo e meio um excelente facilitador de conversas sobre os tempos em que esculpia coisas belíssimas e teve uma linda pousada em Ouro Preto, toda decorada com amor e seu suor de escultor, profissão que lhe custou algumas artroses ("tá vendo?") e o orgulho de ter uma linda escultura na Lagoa Rodrigo de Freitas. Nos dias em que não o encontro, sonho com suas histórias.

Foi graças ao meu cão, que faz o que pode para me expor a uma réstia de luz celeste, que descobri que o saxofonista do F, que toca as mais belas canções que um saxofone consegue pronunciar, teve o coração partido e nunca mais se recuperou, e agora, só pra se vingar deste mundo cão, passa os dias a tocar dolorosamente músicas que fariam partir o coração de qualquer pedra, mesmo daquelas que não entendem nada de música, como eu.

Graças ao meu cão, que faz o maior sucesso com todas as crianças do condomínio (a ponto de uma delas ter me proposto uma troca chocante, o cão dela pelo meu, proposta da qual gentilmente declinei, pois é importante ser sempre gentil com os menores de seis anos porque eles realmente não sabem o que dizem ou fazem), que eu comecei a me relacionar melhor com os pequenos. Eu já cheguei a pensar que só seria capaz de tolerar crianças consanguíneas ou as de amigos que eu amo muito, mas meu cão me ensinou que todo filhote é digno de amor e respeito, e que todas as criaturas são, em última instância, filhotes de alguém - até mesmo os políticos, os traficantes, as pessoas que odeiam animais e outros tipos que, no período a.B. (antes da Bibi), eu aniquiliaria na ponta da unha se fosse um gigante de 100 metros de altura.

Graças à Bibi, se eu hoje tivesse que escrever um texto para sensibilizar as pessoas a tolerarem os animais de seus vizinhos, seria obrigada a escrever uma autobiografia para provar que os animais podem fazer com que nós enxerguemos melhor o próximo e escutemos - com ou ouvido interno do coração - o que os outros realmente têm a dizer com suas palavras, seus gestos e sua música.

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Jogado no lixo


Jogado no lixo
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Hoje abandonaram esta gracinha de buldogue francês no IJV. Tem problemas na coluna e precisa de cuidados. Se houver quem fique com ele, há chances de ser operado de graça por nossa equipe, mas sem um responsável pelo pós-operatório, bastante longo e complexo, isto seria inviável porque não há estrutura na prefeitura para isto.

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Plantão Médico Homeopático



"If this doesn't cure him, I don't know what else will." UAHUHAUHAUA!

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Juntando escovas


Juntando escovas
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Eu e Bibi escovamos os dentes na mesma pia, mas temos escovas e pastas de dente diferentes. A pasta dela custa quase 30 reais, ao passo que a minha não passa de cinco. Taí, pra mim, a principal diferença entre cães e pessoas: o preço da pasta de dente.

Banho de lua


Banho de lua
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E ainda tem quem reclame da vida...

Rio lindo


Rio lindo
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domingo, dezembro 19, 2010

Querido Papai Noel,

Eu sou cachorro, por isso vou direto ao assunto: quero bolinhas neste Natal. Tantas quantas o senhor consiga carregar em seu saco. Bolinha é uma coisa que eu gasto muito, porque minha mãe tem mania de jogá-las longe, e eu tenho o dever canino de buscá-las aonde quer que estejam. Muitas vezes, porém, elas se escondem de mim no meio da vegetação, e aí eu não consigo encontrá-las. Farejo e sei que elas estão por ali, naquele pedaço de mato específico, mas minha mãe não tem paciência de me esperar encontrá-las, o que às vezes só ocorre no dia seguinte, então saca da bolsa uma nova bolinha que invariavelmente acaba perdendo de novo (por causa dessa mania humana de jogá-las longe).

Ah, ela está aqui ao lado me pedindo pr'eu acrescentar que tenho sido um bom cachorro, peludoterapeuta exemplar e sabujo dedicado à busca e salvamento de bolinhas destrambelhadas.

Fui, digo, "au". E feliz Natal, o que quer que seja isto.

sexta-feira, dezembro 17, 2010

13 desculpas para não sair de casa depois das 23h numa sexta para uma festa num sebo em Copacabana

  1. Um mosquito picou minhas pálpebras e eu não consigo mais abrir os olhos. Tateei a casa toda, mas não consegui encontrar a porta.
  2. Meu cachorro comeu minha monografia e eu não tinha backup. A defesa é amanhã.
  3. Hoje minha avó faria 100 anos, e eu estou há 10 preparando uma festa surpresa pra ela. Vai que ela aparece.
  4. A partir de amanhã eu voltarei a acordar às 4h30 pra correr, então já é hora de naná o meu nunu.
  5. Li no twitter dum traficante que hoje vai ter terror no Rio. Ouviu esse barulho? Acho que explodiram uma granada na frente do meu prédio. (Ih, a porta da garagem está soterrada. O elevador caiu no poço.)
  6. Trocaram meu soro por vaselina. Não estou me sentindo muito bem.
  7. Estou tentando comprar um Ipad pela internet. Assim que conseguir, te ligo.
  8. Estou tentando comprar ingresso pra Amy Winehouse pela internet. Assim que conseguir, te ligo.
  9. Estou tentando comprar uma passagem  promocional pra Salvador no carnaval. Assim que conseguir, te ligo.
  10. Meu cachorro latiu quando eu estava quase saindo, e ele nunca faz isso. Talvez isto seja um sinal.
  11. Meu cachorro comeu minha chave de casa. Talvez isto seja um sinal.
  12. Meu cachorro não comeu nada estranho hoje. Talvez isto seja um sinal clínico.
  13. Pensei em treze desculpas para não sair de casa hoje, e treze é um número macabro. Talvez isto seja um sinal.

quarta-feira, dezembro 01, 2010

Há sempre flores por aí


Há sempre flores por aí
Originally uploaded by Van-Or