Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

segunda-feira, julho 30, 2007

Congonhas is so tough!

Hoje voei do Rio a Congonhas, pouco tempo demais da tragédia. Meu assento de retardatária era um corredor, veja só, mas, ao procurar meu lugar, eis que havia uma mocinha nele sentada. Ela espremia as mãos, nervosa, na expectativa silenciosa de que eu não me incomodasse de sentar na janela ou no assento entre a janela e o corredor, e eu não poderia desejar coisa outra que não isso. Não consigo decepcionar mocinhas nervosas, e este é meu lado mais homem. Pois então sentei na janela, deixando-a à vontade no corredor, bem longe do assento que transmitiria, mais rapidamente, imagens de um desastre que porventura ocorressse, embora eu realmente não contasse com isso.

Conversamos o tempo todo, do Rio à São Paulo. Não sou dada a conversas aéreas, pois, quando vôo, posso estar voando para a eternidade, então não gosto de banalizar a iminência da tragédia. Mas ela era A psicóloga da equipe masculina campeã de futsal do pã, e eu não podia deixar de entrevistá-la e drená-la com minhas perguntas de pã-fã, mesmo com todo o compromisso que tenho com o imprevisto trágico. Seu nome era Melissa, e fizemos um rapport único no momento em que o avião cambaleou, tremelicou e chacoalhou entre o céu e Congonhas: ninguém, mais do que nós, naquele vôo, pensou (com um sorriso nos lábios): "É agora, fudeu galera, lá vamos nós para o vale da morte, valeu tudo, valeram todos e fodam-se os dinamarqueses!"

Chegamos, por milagre, e trocamos e-mails. Ela prometeu me ensinar um truque infalível pra melhorar a auto-estima, e eu, bem... eu não prometi nada, o que é típico meu. Em troca, escrevi este post: coisa de sobrevivente.

E seguimos, sobrevivendo e brindando à vida, esse clube fechado que aceita uns e não outros.

domingo, julho 29, 2007

When the token falls.


Tenho dormido muito pra tentar sonhar com você. Pra ver se você me aparece num sonho dando notícias de como está nesse novo lugar: se aí faz frio, se parou de doer, se o pé desinchou. Durmo 14 horas seguidas, às vezes, mas é um sono pesado, sem sonhos; e, quando acordo, fico extremamente decepcionada de não ter te visto nem uma vez. Até com a Anny já sonhei -- ela era um filhote redondo que mordia e puxava minha calça jeans com os dentes bem fininhos --, mas eu te procuro por todos os cantos nesse labirinto que é meu cérebro -- ou meus sonhos ---, e nada de te ver.

Estou com um medo inédito de ter te perdido pra sempre.

sábado, julho 28, 2007

Heliana se grafa com agá!


Heliana se grafa com agá!
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Eu, a aniversariante e os óculos novos.

Já é aniversário da Heliana!


Já é aniversário da Heliana!
Originally uploaded by Van-Or
Mas meus presentes não param de chegar, hahaha! Quem mandou esta garrafa mágica que veio sem cartão?

sexta-feira, julho 27, 2007

Alguém viu, alguém sabe?

Estou tentando lembrar onde eu usei, guardei ou eventualmente perdi os óculos que estou usando na foto acima. Eles são pobrinhos, mas muito limpinhos; a gente quase não se via, mas muito se amava, especialmente depois que eles ficaram quase tão cegos quanto eu.

O grande porém é que eu mandei fazer umas lentes um pouco mais caras do que eu poderia PARA ESTA ARMAÇÃO! Como é velha, e coisa velha some das lojas e só reaparece nos brechós décadas depois, quando minhas lentes caras também já terão se tornado uma piada, peço, imploro de joelhos e rastejo, se necessário, por alguma dica, lembrança ou informação que possa me levar ao paradeiro dessa budenga.

Por favor, não reparem na gordura do meu pescoço na foto, porque o ângulo, definitivamente, não favoreceu. Concentrem-se nos óculos, nos óculos!

É de famiglia

Dida, minha tia madrinha preferida, chega em minha casa esbaforida, como se alguém a seguisse. Na verdade, ela disse: "Tem alguém me seguindo de Niterói até aqui." Sendo "aqui" o cu de Botafogo, o que é conceitualmente longe de Niterói. E eu, que era só uma criança de 12 anos que nada sabia da vida, apenas perguntei: "Mas, Dida: será que o cara não te seguiu porque você está com o peito de fora?".

Na verdade, minha tia-madrinha sempre foi muito míope. E sempre andou, sem querer, com o peito muito de fora do top de lurex.

O pior cego

Dizem que o pior cego é aquele que não quer ver. Então, o pior cego sou eu.

Passei numa ótica popular pra pegar minhas novas novas lentes. Experimentei e disse, no ato: "Trata-se de um engano: estas lentes estão distorcendo a realidade completamente." O atendente, coitado, apenas um vendedor fantasiado de jaleco e munido de algum conhecimento em optometria, mas nenhum em psicometria, disse: "Mas é exatamente o que seu médico pediu." E eu, mãozinhas indignadas na cintura, bufei: "Pois ele vai se ver comigo, e é ness'instante!"

Fui lá pro consultório, cantando pneu. "Ora, veja só: estas lentes estão completamente erradas!" E ele, depois de conferir: "Mas olhe só, que estranho: estão completamente certas." E, diante de minha expressão confusa, continuou: "O que te causou estranheza?" Eu, claro, disse a verdade: "Ora, estou vendo coisas demais. Mais do que preciso enxergar. Agora eu consigo até ler placas com nomes de ruas!" "E antes dessas lentes, isso não te fazia falta?". Dando-me por vencida, pois diante de tal argumento eu perderia até pro DETRAN, e quem perde pro DETRAN perde pra tudo, eu apenas suspirei pra dentro: "Queria que o mundo fosse TODO menos nítido."

E meu oftalmo, que é um fofo, sorriu, fingindo não perceber minha malcriação existencialista, e se despediu dizendo: "Se em uma semana você não se adaptar ao mundo, venha aqui que eu te adapto a ele."

Odeio admitir, mas bom mesmo é enxergar pouco. O que eu preciso mesmo é das lentes antigas.

Volver un'altra volta

Thank you, Almodovar.

quinta-feira, julho 26, 2007

Atimia


Atimia
Originally uploaded by Van-Or
Às vezes penso que o tempo que ficou pra trás passou rápido demais; e que o futuro nunca chegará. Seria o presente um limbo?

terça-feira, julho 24, 2007

Volvér - Estrella Morente




VOLVER
Carlos Gardel
Alfredo Le Pera.

Yo adivino el parpadeo
de las luces que a lo lejos
van marcando mi retorno...
Son las mismas que alumbraron
con sus palidos reflejos
hondas horas de dolor..

Y aunque no quise el regreso,
siempre se vuelve al primer amor..
La vieja calle donde el eco dijo
tuya es su vida, tuyo es su querer,
bajo el burlon mirar de las estrellas
que con indiferencia hoy me ven volver...

Volver... con la frente marchita,
las nieves del tiempo blanquearon mi sien...
Sentir... que es un soplo la vida,
que veinte años no es nada,
que febril la mirada, errante en las sombras,
te busca y te nombra.
Vivir... con el alma aferrada
a un dulce recuerdo
que lloro otra vez...

Tengo miedo del encuentro
con el pasado que vuelve
a enfrentarse con mi vida...
Tengo miedo de las noches
que pobladas de recuerdos
encadenan mi soñar...

Pero el viajero que huye
tarde o temprano detiene su andar...
Y aunque el olvido, que todo destruye,
haya matado mi vieja ilusion,
guardo escondida una esperanza humilde
que es toda la fortuna de mi corazon.

Estrelas


Tu*, a quem eu tantas vezes já recomendei não acumular estrelas, pois não poderias carregá-las contigo, vejas só: levou-as todas em teu bolso nesta noite triste. Que faças boa viagem, meu Grande Pequeno Príncipe, e que tantas estrelas não te pesem nada. Você está grafado em letras de ouro na minha memória poética.

Minha nova profissão, a partir de hoje

Virei dramaturga! Uma peça que escrevi em 2005, com o Michele Caetano, estréia hoje à noite em Porto Alegre. Deu no Zero Hora! Desejem-me merda, muita merda, merdão demais. Eu mereço, né?

PS: Como a coisa não tá fácil pra ninguém, continuo respondendo como veterinária, tradutora, professora de inglês, baby sitter, guia turística, dona de pensão "Chez Mére Joanne", dog walker, GO, go-go dancer, passista de samba e mixologist. E chega, pelo menos até a semana que vem!

Dogs can talk too!

A diferença é que eles têm a voz um pouco mais grossa.

segunda-feira, julho 23, 2007

Gatos que falam e acontecem.

Eu chorei com o que fala "Mamã". E com o que faz "yeah, yeah, yeah." E passei mal com o gato chinês que fala mil coisas, sei lá. Este vídeo só reforça minha tese de que há basicamente três tipos de gatos, de acordo com o miado: gato-mau, gato-mel e gato-mingau. :o)

Agora eu sou pink!


My Moto
Originally uploaded by Joel´s
Eu e o pink que eu ganhei dos meus amigos.

Foto descaradamente roubada do Flickr do Joel. ;o)

domingo, julho 22, 2007

Parque Lage


MMS
Originally uploaded by Van-Or
Num domingo de verano sem café da manhã, mas com um jardim florido de amigos.

Pão-de-Açúcar


MMS
Originally uploaded by Van-Or
Lu, Nick e Caldeira em tour pela Cidade Maravilhosa

35 and life has never been better.


Allegria
Originally uploaded by Van-Or
Tenho essa sensação dia sim, dia não, OK, mas ontem estava forte demais. Pena que aniversário é só uma vez por ano!

Os 35 no Trapiche Gamboa

LUP, Vivi, Monica L e eu no convescote trapichano gamboense, inaugurando os próximos 35 e O LINDO CELULAR PINK QUE MEUS AMIGOS ME DERAM, U-HU! :o)))))))))))))))

sábado, julho 21, 2007

A Mineira


A Mineira
Originally uploaded by Van-Or
Lu Pordeus garimpando seu ouro no Khanta.

sexta-feira, julho 20, 2007

Flores do Lau


Flores do Lau
Originally uploaded by Van-Or
Eu amo fazer 35 anos. Feliz dia do amigo a tutti!

35 and life goes fucking on.

Há uns dez anos, eu tinha certeza absoluta de que jamais chegaria aos 28, pois tinha certeza absoluta de que o mundo acabaria no ano 2000. Passei a vida inteira ouvindo essa merda, mas nã: o mundo não acabou no ano 2000, pra muito de meu alívio e decepção.

Depois, eu tive certeza absoluta de que jamais chegaria aos 30 -- porque a vida de uma pessoa que vive dez anos a mil invariavelmente acaba aos trinta (e três) --, mas cheguei aos 30 com uma mega festa psicodélica hiperbólica significativa, humores bipolares, extâses vulgaris e tudo. Tudo que uma balzaca tem direito, e isso não é cousa pouca.

Houve um tempo em que eu achei que estaria casada e com três filhos aos 30 e poucos, mas agora eu faço 35 -- um marco inexorável entre trinta e poucos e trinta e muitos -- e constato que nunca estive perto de casar, nem tampouco de ter filhos.

Começo a achar que o roteiro que escrevi pra minha vida tem algum tipo de falha séria. Amanhã eu faço uma revisão, mas até lá, feliz aniversário pra mim: 35 é metade do mínimo que eu quero viver, e eu tenho pelo menos 35 anos pela frente. Vamos que vamos.

quinta-feira, julho 19, 2007

35? 178? 10.400? Non voglio più vivere!

Estou me sentindo uma alcachofra: metade fibra, metade coração.

Bendito é o fruto, aleluia irmão!

Previsão do tempo para os próximos 3 dias: céu parcialmente nublado, com festas e bebedeira por todo o período. Pancadas de choro, suor e cerveja no fim da tarde, com episódios isolados e alternantes de euforia e depressão.

FELIZ ANIVERSÁRIO, IL HOBBO!

quarta-feira, julho 18, 2007

36 ciclos


36 ciclos
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"Se possuo um lenço de seda, posso amarrá-lo em volta do pescoço e levá-lo comigo. Se possuo uma flor, posso colhê-la e levá-la comigo. Mas tu não podes levar as estrelas." (St Exupéry) Você sempre me dá um sentido novo à palavra céu. Feliz aniversário, sol.

Post removido pela autora

terça-feira, julho 17, 2007

TERRORISTA, PRA QUÊ?!?

Menos de um ano após a queda do vôo da Gol no Mato Grosso, dois acidentes aéreos em Congonhas acontecem num intervalo de 24h: uma aquaplanagem sem vítimas e, agora, pro meu choque e horror, um avião da TAM com 174 pessoas desliza direto pela pista, invadindo um galpão cheio de funcionários. O noticiário da Band diz que não deve haver sobreviventes. E que a pista onde ocorreram os acidentes -- "tragédias anunciadas" -- foi recentemente liberada, apesar dos graves problemas técnicos, para atenuar o apagão aéreo.

Com governantes incompetentes como esses, quem precisa de terrorista no Brasil, meu Deus?!? Que dor! Que horror, que tragédia! Eu não acredito que isto está acontecendo neste país. Eu cresci acreditando que Deus é brasileiro, e agora isto! Estou em estado de choque.

The fish from Ipanema


The fish from Ipanema
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Tainha miúda.

segunda-feira, julho 16, 2007

Seguro de vida

Fiquei chocada: fiz um seguro contra roubo, uso indevido, etc do meu AMEX e acabo de receber em minha casa uma apólice de seguro de vida, que dá à minha família 1o mil e 400 reais caso eu sofra morte acidental em conseqüência de crime. Agora não sei fico tranqüila ou magoada por ter minha cabeça a prêmio tão baixo. Neguinho resolve fazer uma coisa banal, como pedir pra pagar 4 reais por mês pra se precaver de algum furto ou malandragem com seu cartão, e descobre que a vida não vale nada.

Preciso fazer um estoque de tarja preta, que a coisa tá ficando estranha.

domingo, julho 15, 2007

Quote of the day

"A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional."


Obrigada, Nelson, que não é Rodrigues, mas entende as mulheres como poucos.

sábado, julho 14, 2007

Renato Russo, o show.


Renato Russo, última semana
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Hoje é o último dia. Vale super à pena, mesmo pra quem nunca curtiu Legião: há momentos no espetáculo em que a gente se sente geração coca-cola total e até esquece que é teatro, e não um show da banda que acompanhou o crescimento de mulheres e homens de trinta e tal.

Só maixx exxa, e xxxega!

Separação
Vinicius de Moraes

Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles.
Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação.

Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de seccionar aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.

Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias - um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.

De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde...

(in Para viver um grande amor (crônicas e poemas)


Obs: sem sacanagem e sem querer suscitar a terceira guerra mundial entre os sexos: se não fosse o Poetinha, eu ia achar sinceramente que os homens são desprovidos de sentimentos, mas em compensação, ó: eles fazem contas e têm um estoque invejável de pára-quedas. Pronto, falei.

PANTRIOSTISMO

Eu amo o Galvão, porque ele é Bueno. Um beijo, Galvão! Agora, gente, eu vou passar a usar um pouco ou bastante do miguxês, que é um dialllletotot que nenhum tabajara transl,ator consegue traduzir da nossa léééééngua pra outras, assim, mais frias e calculistas.

(Eu já disse aqui que tô na ême total? nã? Então tô dizendis agora. Amanhãna, domingo 15, eu melhoru: sexta 13 e sábado 14, pra mim, são foda. Eu sou uma criatura mística e rústica. Eu acredito em gnomos, pô!)


Este brógui não pode ser trasduzido!!! Aqui se fala o vanorlês, unna ixpéxie de miguxês com ingrês q'é o catiço! Quem não nfala muito =portugoise, aqui, se ferra. Vive le Pã! Vive le miss! Vive le mise en place! Vive le silicon! Vive la France et le Monsieur Galvon Bueneaux. Il est trés, ma trés bueneaux. Ou beaux, tanto faz. Em miguxês, tanto faizzzz. U-hu, roquenrrrol.

sexta-feira, julho 13, 2007

Fossa abissal

Tô na merda. Tô na merda. Tô super na merda. Já vou logo avisando: amanhã não acordo cedo pra correr mas nem a carajo! Chega de praticar esporte! Ah, praticar esporte pra quê? What's the mother fucking point? Só porque o Rio está sediando o Pan eu agora tenho de ser maratonista? Ah, não, quer saber? Eu não quero fazer mais nada que exija que eu saia da cama a partir de amanhã. Da cama ou do sofá, onde eu cair primeiro.

Alguém aqui conhece algum vinho-delivery que funcione de madrugada na zona sul da cidade do Rio de Janeiro? Se conhecerem, por misericórdia, escrevam pra mim, que enquanto houver vinho... (que porra é essa agora que eu tou bebendo?)... cabernê sovinhon (é assim que se fala!)... há esperança. Estão todos proibidos de me telefonar, porque eu estou muito, mas muito mal humorada, OK? OK. Até o dia 19, quando eu farei limpeza de pele e -- ah, eu tô maluca!!! -- cortarei o cabelo até não restar nada, nadinha!

Não quero conversar! Obrigada por existirem, mas eu não quero conversar: estou na merda e estou furiosa. Mas ainda estou atenta aos e-mails.


PS: NOSSA SENHORA PROMETEU, NÃ! AD-BOM-SENSO, bom-sensinho: achei que tivéssemos passado dessa fase!

How insensitive




Hoje dia de bossa nova, bossa velha, todas as bossas.

Lola, você está aí?

Há tempos que acompanho, na lista de países onde tenho leitores, o crescimento das visitas australianas. Lola, querida, é você? Estou sem teu telefone e e-mail. Perdi o da Isa, um horror, perdi um monte de coisas importantes. Pra você ter uma idéia, eu quase me perdi! Dormi no ônibus da Central pra Mangueira e atravessei um portal surrealista pro Encantado. Por sorte, todas as pessoas por lá falavam e compreendiam o português. Não sei se você ainda está na Austrália e, neste caso, se esses assuntos mundanos te aborrecem, mas ando morta de medo de cair num distrito miguxês -- um dialeto angustiante que as pessoas começam a usar com oito exclamações, depois três érres no lugar de dois, cinco ésses no lugar de um cedilha, e aí fudeu: pra voltar a falar a nossa língua-morta corretamente é um sacrifício! -- e não conseguir me comunicar com minha própria gente.

Lola, se for você daí, da Austrália, será que dá pra me escrever? Eu não sei se já te falei, mas perdi seu e-mail e todos os seus telefones. E se você, por acaso, estiver na Austrália, eu sei que fica meio fora de mão, mas é que eu vou comemorar meu aniversário várias vezes, entre os dias 19 e 25. Ia ser bonzão se você pudesse participar de alguma dessas festinhas. Estou com saudades, querida, mas estou torcendo pra você não voltar por enquanto, porque já que mudei tanto os meus itinerários de férias, quem sabe eu não piro e dou um pulinho aí em Sidney?

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Linger girl


Não era sua intenção entrar naquela loja. Talvez tenha sido subliminarmente induzida por alguma propaganda em lata de leite ou entrelinha de jornal, mas o fato é que, enquanto terminava de prestar contas com o chefe pelo celular, ela entrou naquela lojinha no Centro da Cidade.

Tudo ali lhe parecia familiar: roupas idênticas a umas que teve, um pingente como o que seu pai lhe dera (e ela passou anos achando que era um brilhante, até descobrir que era vidro e se quebrou), sapatos e bolsas como as que usou na faculdade até acabar. Desconfiadíssima, perguntou se aquilo ali era um brechó, pois estava assombrada de ver como o estoque da loja parecia o acervo dum museu de sua própria história natural. A vendedora negou, claro, mas que loucura a dela! A loja tinha acabado de abrir e ela era a primeira pessoa a entrar. Deu mais uma olhada ao redor e viu um porta-retrato igualzinho ao que ela uma vez fez num workshop de mosaico. E adivinhem se o cachorrinho na foto não era (ou podia perfeitamente ser) seu beagle bicolor, foragido há 20 anos! "Este cachorro aqui da foto... você saberia me dizer se está vivo e aonde?", perguntou quase trêmula à vendedora, que só sorriu, sem jeito, dizendo que aquela era simplesmente uma foto recortada de uma revista qualquer. Ah, ela não tinha como saber.

Desconcertada por ter encontrado numa simples butique de rua vários sentimentos e sensações em que há tempos não esbarrava, vasculhou as araras atrás de uma boa desculpa pra entrar na cabine e, enfim, agir como uma pessoa normal, e não uma psicótica que reconhece o cachorro do mostruário. Para seu choque e horror viu pendurado, entre um cabide e outro, um vestido de tafetá com mangas balofas e saia balafonê. Sem brindadeira: era i-gual-zi-nho ao que foi obrigada a usar em seu aniversário de 15 anos. Irritada com aquele eterno retorno todo, arrancou o vestido da arara e vestiu-o com fúria na cabine (só não pôde fechar o zíper, porque ela tinha engordado uns 15kg de seus 15 anos pra cá). Sua imagem magrela no espelho a olhava com ironia, mãozinhas abusadas na cintura:

- E aí? Você não vai mudar não, é?

- Escuta aqui, sua fedelha: eu mudei, tá! Mudei muito! Iiih, nem vou perder meu tempo com você, porque eu mudei tanto, mas tanto!... que nem entro... nesta merrrrrrda desse vestido cretino... que eu vou picar em pedacinhos, só pra fazer sua cara pilantra sumir da minha frente!

- Ó, fala baixo, senão a moça ali fora vai achar que você tá louca. E deve 'tar, né? Pra não querer mudar! Pra ficar aí, toda congelada e parada no tempo, fazendo as merdas de sempre, insistindo nos mesmos erros... (e revirou os olhos, requebrando os quadris displicentemente por sua parte da cabine).

Mas aquilo era demais: seu alter ego adolescente estava a lhe dar lições! O pior é que ela sabia o porquê. Há 20 anos não se via tão de perto, mas em muitos aspectos era exatamente a mesma. Sem mais dizer, ficou de costas pra pirralha do espelho, pra não lhe dar na cara até sangrar, arrancou o vestido e foi ao caixa pagar seus pecados. Pagou em dez vezes sem juros, lógico.

Chegando em casa, juntou o tafetá a algumas fotos antigas e ao brilhante partido, cortou uma mecha do próprio cabelo, encharcou tudo no Anaïs Anaïs mofado do armário e ateou fogo naquilo que, àquele momento, representava sua pior inimiga: a menina perdida que se recusa a virar uma mulher de verdade, do tipo que perdoa o pai, perdoa a mãe, manda os bofes que a engambelam à puta que los parió e vai viver sua vida sem ficar de quiquiqui e nhenhenhém, que quem faz fuim-fuim pelos cantos é rato, e não gente. E de rato, pra ela, já bastava seu signo no horóscopo chinês.

quinta-feira, julho 12, 2007

Saneamento básico


Saneamento básico
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Ê, vidão!

Screw driver


Screw driver
Originally uploaded by Van-Or

But drink it up first!

Cinema na praia


Cinema na praia
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Vivo Open Air


Vivo Open Air
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quarta-feira, julho 11, 2007

O milagre do papa II

Em 2003, graças a um milagre do Papa, eu encontrei meu amigo de infância, Fábio Pareto, na piazza lotaça de São Pedro, em pleno benção papo-dominical. Esta semana, graças a um segundo miracolo do véio Papa (não este, que é cretino, mas o outro) e, OK, Àquele Que Tudo Busca e Acha, o Renato André -- meu amigo dos anos dourados da adolescência em Miguel Pereira, época em que andávamos de mobilete com o Kid Meleca, bebíamos keepcool achando que era fortíssimo, pulávamos carnaval em clube e fumávamos (ou fingíamos que fumávamos) cigarro mentolado escondidos dos pais -- me reencontrou depois de 5 longos invernos. De lá pra cá, ele casou e descasou, arrumou um labrador chamado Simba, deu a volta ao mundo e acabou parando na Espanha.

Adivinhem onde eu vou passar as férias deste ano! Obrigada, blogger! Obrigada, gúgol! Obrigada, Deus! E foda-se, AdSense: estou tão feliz com todos estes acontecimentos recentes, que te deixo vender suas medalhas religiosas, bíblias, CDs de música gospel e retiros espirituais evangélicos aqui. Viva o Papa João Paulo II!

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Meu aniversário vem aí, la la lá ra ra rá!

No dia 20 de julho, dia do amigo, dia da amizade, dia de Santos Dumont, eu comemorarei 35 invernos. Seriam 35 primaveras se eu tivesse nascido em setembro ou no hemisfério norte, mas eu sou mais eu, mais canceriana e latinoamericana assim, cachaceira irreversível, com uma lista absolutamete etílica de presentes de aniversário que vocês podem acessar aqui.

Quem daqui não passa pelo drama de ser careta (no sentido saudável, forte e bem disposto da palavra-não-pejorativa) e ganhar da firma, todo santo Natal, uma garrafinha linda de whisky ou Irish Cream que nunca tem ocasião pra ser aberta? Eu sei como é isso, minha gente, ou melhor, fico só imaginando o horror que não deve ser isso! E eis-me aqui, benevolente e disposta a ajudar vocês a liberar um espacinho nesse disputado armário de entulhos que todos vocês mantêm naquilo que foi projetado originalmente pra ser um quartículo de empregada, mas que nunca mais viu uma que dorme no emprego desde o final do Milagre Econômico, há décadas.

A propósito: não só vou comemorar meu aniversário, como vou comemorar quatro vezes, uma pra cada grupo principal de amigos -- que são três (os melhores, os do meio e os piores, ha ha ha, tou brincando) --, e uma só pros furões, que nunca vão a comemoração alguma em julho porque têm filhos, viajam nas férias e são chatos pra caceta. Obviamente, este não é o caso de ninguém daqui, mas o recado está dado, anyway. Se tem coisa que eu não suporto é gente chata pra caceta que falta às minhas festas de aniversário. Eu não tenho culpa de ter nascido em 20 de julho, no melhor dia do ano. Reservem as noites de 20 e 21 pra mim, que ainda não sei o que vou fazer, mas vou fazer e foda-se.

terça-feira, julho 10, 2007

Por que somem os blogueiros?

Olney, este post-dedicatória é pra você, que passou por aqui há alguns dias e observou que eu não escrevo nada desde 02 de julho de 2007, exatos 18 dias antes do meu aniversário. Porque você gosta de mim e a recíproca é verdadeira (eu tenho uma queda muito forte por gente que gosta de mim, embora meu forte mesmo seja por gente que não gosta muito de mim, mas quem mandou eu nascer mulherzinha canceriana, lationamericana e de auto-estima e estatura mediana, que gosta muito de fulano, mas ciclano é quem me quer?). Eis aqui uma singela lista de justificativas rasas pro sumiço eventual de um blogueiro de seu próprio blog:

1) Paixão carnal: a criatura que bloga eventualmente arruma um parceiro para ensaiar a complicada dança do acasalamento, embora isso seja muito raro hoje em dia por causa, EXCLUSIVAMENTE, do efeito estufa (está difícil elaborar agora, mas um dia eu prometo que explico);

2) Virose: o blogueiro, indivíduo naturalmente esverdeado pela luz de escritório, de vez em vez sucumbe a um vírus semi-letal que só se propaga em ambientes climatizados à temperatura e semelhança da primavera na Sibéria.

3) Carnaval em Salvador (ou qualquer outro evento que envolva bebedeira pesada): o animal blogante, quando dá de beber, não bebe apenas: se afoga. As bebedeiras que resultam em coma alcóolico normalmente afastam o blogueiro do ar por alguns dias, mas não muitos, porque quanto maior a enfiada de pé na jaca, maior a necessidade de escrever sobre elas.

4) Trampo: como quase todas as pessoas, o blogueiro tem contas pra pagar. Às vezes, eu finjo que nem é comigo e vou deixando acumular, mas tem horas que o saldo devedor chega a um nível tão insustentável de malcriação (dívidas são criaturas vermelhas extremamente malcriadas, que ficam enfiando o dedo no nosso nariz e dizendo, com a mãozinha na cintura: "E aê, minha filha, pode ser ou tá difícil?"), que a criatura blogadeira aceita -- contrariada -- todo o tipo de frila com prazos suicidas, sempre pra anteontem.

4) Festa da Luciana Pordeus (FLUP): evento off-FLIP (graças ao Pai Sagrado, que Pordeus sabe o que faz!) sediado no QG dos Pordeus Caldeira Brant, com a presença luxuosa de algumas (muitas!) das minhas pessoas favoritas, que passaram quatro dias sob o mesmo céu estrelado, contando "causos" impagáveis à mesa de mimos mineiros e temperos maternos sem par, com direito à sinfonia de pássaros e rosnados destemperados de um cachorro que ficou de quatro por mim e vice-versa (bem, ele já estava de quatro -- quem se humilhou pelo ser amado, pra variar, fui eu).

Porque eu ainda estou movida pela emoção do encontro e pela tristeza da despedida, prefiro narrar os melhores momentos através de algumas fotos que falam mais do que mil posts de mea culpa. Como o bom filho à casa torna, cá estou novamente, mas sonhando com a próxima FLUP.




Carolina (clone vocal da mãe, Heliana), Scooby e eu, na praia do Scooby (partidão, partidão!): os viralatas se entendem, se amam e beijam.

Aldo, Monica L, moi et Pordeusinha no blecaute de Paraty: graças ao nosso brilho próprio, a FLIP, FLOP, FLUP seguiu a todo vapor.

Comemos e bebemos tanto na casa da Pordeus que, ao final desta refeição, especificamente, tivemos de jogar boliche com as rolhas de champagne, que ocupavam muito lugar no espaço. Em um determinado momento, lembro-me vagamente de ter bebido champagne (ou bourbon, ou vinho, ou licor de banana, ou todas as anteriores) com absinto. No dia seguinte, lá estava eu de manhãzinha, impávido-colosso, de tênis de corrida, pronta pra limpar meu sistema etílico de todo sangue ou vice-versa.


Juca, a papagaia que parece fofa, mansinha, etc e tal, até porque dança na boquinha da garrafa e tem uma CDeteca infantil de matar de inveja a Sasha-da-Xuxa, mas que quase amputou meu dedo nessa de "dá o pé, louro". Jamais confiem em uma criatura sem pêlos, por mais letrada, dançante, colorida e eloqüente que seja! Esses atrativos são pura armadilha pra deglutição de dedos distraídos.

Eu e meu novo namorado canino de personalidade tímida e reservada, o Lao (eu tenho atração pelo nome e por machos de difícil trato). Na foto, ele me paquera -- sem que eu perceba muito --, e até mesmo ignora o fato caninamente relevante d'eu ter um pedaço de torresmo nos lábios. É assim com os machos tímidos: a gente joga a isca e um dia eles caem. Há de se ter paciência (e haja torresmo!).


Heliana, eu e Luciana no passeio de barquinho de domingo: os dias podiam ser sempre assim!

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segunda-feira, julho 02, 2007

O que é de Adalat?

Descobri um joguinho de carteado feito sob medida pra puxar assunto com gente estranha. No momento, não me ocorre o nome do joguinho, mas é coisa bem bolada, típica de americano: vem numa caixinha vermelha com um baralho, e cada uma das mil e quinhentas cartinhas traz uma pergunta instigante que motiva as pessoas mais lacônicas a manifestarem suas opiniões sobre um determinado assunto, como: O que você perguntaria ao Allmighty se tivesse a oportunidade?

Obviamente, minha resposta a esta pergunta é impublicável, até porque não quero dar mole pro AdSense. No entanto, a lembrança desse joguito me ajudou a atravessar mais este jantar de segunda-feira em famiglia. Depois de ouvir passivamente, pela terceira fucking vez, todas as histórias do final de semana (geralmente eu protesto quando o causo é repetido, mas hoje estava passiva), minha mãe perguntou: "E aí, e você: o que conta de novidade?". Estou cheia de novidades que não tenho condições de compartilhar com a minha mãe, porque por mais que eu seja velha o bastante pra lhe dizer tremendos horrores, as mães nunca são velhas o bastante pra ouvir. Foi então que me ocorreu uma pergunta maluca, instigatória & mudatória de assunto: "Vocês se lembram daquele cachorrinho que apareceu lá em Miguel quando a vovó começou a tomar remédio pra pressão? O Adalat? Pois eu estive pensando... o que é de Adalat?..."

Aí aconteceu uma verdadeira revolução em nosso jantar de segunda: minha mãe e meu pai tentaram se situar no tempo e no espaço, tentaram lembrar dos cães que vieram antes e depois do Adalat -- Azambuja, Jipe, Chumbinho, Petisco e Fuscão -- e eu ia dizendo que sentia saudades de todos, que eram todos bonzinhos, ao passo que meus pais, pessoas mais realistas e rancorosas que eu, punham-se a listar as pessoas que foram mordidas, encurraladas, ameaçadas e até desonradas pelos cachorros de minha avó -- gente famosa, gente anônima, gente da família e, às vezes, até um ladrão ou outro --, e eu seguia dizendo que eram todos bonzinhos, mas nenhum tão bonzinho quanto o Adalat, coitado, que chegou à vila cheio de sarna e ainda pingando a óleo queimado de mecânica de autos, e na ocasião não tinha pêlo algum, era muito humilde, coitado, mas em poucos meses ficou dourado e vistoso, e depois disso... o que será que aconteceu com o Adalat, mein gott!

Quando um cachorro morre, a gente lembra. Quando um cachorro foge, a gente lembra. Quando um cachorro se suicida, a gente raramente esquece. Mas o Adalat, coitado... ninguém lembra o que aconteceu com ele. A hipertensão da minha avó passou, e ele também. Levantei a suspeita de termos esquecido que ele existia, afinal ele era tão bonzinho e humilde, quase não latia, quase não pedia comida... E ficamos todos pensativos -- o que catalizou o fim do jantar --, tentando buscar, lá no fundo da memória, alguma pista, alguma dica do que teria acontecido com o pobre Adalat. Teria ele sido esquecido no canil, sem água e sem comida, e porque ele não tinha voz nem ousadia pra se queixar de coisa alguma, teria ele morrido à míngua no claustro sem que nos déssemos conta? Mesmo achando isso improvável numa família que gosta tanto de bicho quanto a minha, não pude conter um calafrio me percorrendo a espinha só de imaginar a cena: a gente entrando pé ante pé no cantinho que chamamos de canil -- mas que é só um canto atrás da casa, com portão, onde se guarda o botijão de gás e algumas plantas, e onde prendemos por alguns instantes nossos peludos quando tem visita pentelha com paúra de cachorro --, descobrindo entre as folhas secas aos pés da azaléia, para nosso choque e horror, um esqueletinho canino franzino e humilde com o mesmo sorriso sardônico do Adalat.

Entrei aqui neste quartinho pra dizer que descobri uma forma infalível de encerrar o jantar de segunda-feira, mas, pensando bem, se eu puxasse de novo aquela carta, e se eu tivesse de responder novamente à pergunta "O que você perguntaria pro Cara lá de cima?", eu certamente perguntaria: "O que foi que aconteceu com o pobre do Adalat?". Ou, melhor ainda: "O que foi que eu fiz com o pobre coitado e humildezinho do Adalat?!?"

Não sei como vou dormir agora. Estou intrigadíssima. O jogo do puxa-conversa, saibam antes que o Ministério da Saúde dê o alerta, está absolutamente contra-indicado durante o jantar.

domingo, julho 01, 2007

Primeiras lembranças

Acho que a primeira lembrança que tenho na vida foi de um churrasco na casa do Tio Carrinho (devia se chamar Carlos). Na verdade, da casa dele, pouco me lembro; a memória que tenho é da casa do cachorro, um pastor alemão bonzinho. Eu fiquei fascinada com a casa do cachorro -- uma casinha de verdade, com teto, porta e tudo --, e passei a tarde toda ali dentro, importunando com o cachorro, comendo de sua comida e bebendo de sua água, claro, como se fosse eu mesma um viralatinha. Devia ter uns três anos. Acho que naquele dia comi Bonzo, mas não tenho certeza porque eu não sabia ler. Sei que passei dias pensando que ser cachorro era a melhor coisa do mundo.

Depois disso, lembro de uma catedral azulada por vitrais turquesa, onde ocorreu batizado de minha irmã, Samantha. Do batizado mesmo, não me lembro xongas, mas lembro como era bom correr e patinar naquele chão de mármore branquinho, especialmente de meia calça.

Ah, sim, me lembro de minha tia Eliana me levando pro primeiro dia de aula do jardim de infância, na SQS 102 de Brasília. Eu estava animadíssima com a animação dela, que era adolescente, e toda adolescente é assim, naturalmente empolgada. Minha empolgação acabou por completo quando ela tentou entregar minha pequena mãozinha à mão de minha professora, que por sua vez tentou me puxar portão adentro (o portão era como uma cercinha de curral separando os pais das crianças, e era toda branca, da altura dos pequenos de 3 anos). Eu pisei firme no portal, agarrei a mão da Djindinha com toda a força e gritei a plenos pulmões, até depletar toda a atmosfera de moléculas de oxigênio. Meu primeiro dia na escola foi um fiascão. Chorei até dormir, e quando dormi a professora me deitou numa esteirinha de palha no chão, como se faz com os bichos. Minha avó achou que eu nunca fosse gostar de escola, mas felizmente disso eu até gostei. O problema é que eu cresci sem gostar de meias verdades. Tornei-me um perigo pra sociedade.