Este é o meu quartinho de bagunça. Da embalagem vazia de Chokito ao último livro do Saramago que eu não terminei de ler, você encontrará aqui de tudo um pouco.

sexta-feira, junho 29, 2007

HOJE É DIA DE FORRÓ!

Pra quem mora no Rio e ainda não tem programa pra hoje à noite, recomendo a quinta edição do Forró da Paraíba, no Clube dos Macacos. Diz a fofa da Adriana Toledo, uma das organizadoras:

"São duas bandas de forró, quadrilha, ambiente decorado, estacionamento, segurança, muitas barracas de bebidas e comidas típicas, dançarinos de forró e o melhor: É UMA FESTA BENEFICENTE!!!!"


O evento é tão bonito e bem produzido, que só acontece a cada dois anos.

Pra quem tem preguiça de clicar no link acima, aqui vão as coordenadas mastigadinhas:

Data: 29/06/07
Horário: 21h30 às 4h00
Local: Clube 17 (o Clube dos Macacos)
Endereço: Rua Pacheco Leão, 2038 - Horto
Valor do convite: R$25,00

Em www.forrodaparaiba.com.br há mais informações sobre a compra de ingressos. O meu já está garantido!

quinta-feira, junho 28, 2007

Brincadeira de médico

Eu levei 25 anos pra entender a malícia por trás da expressão "brincar de médico". Quando descobri, fiquei um tanto quanto chocada, e olha que é difícil corar uma morena. Talvez porque eu tenha sido uma criança asmática e febril que vivia em pronto-socorro, médico pra mim é coisa séria, exceto quando tem 12 anos e veste um jaleco no Copa D'Or. Ou seja, médico não é pra brincar, pelo menos não nesse sentido.

Mas vejam só vocês: desde que me explicaram didaticamente o que era "brincar de médico", eu passei a pensar na vida sexual dos médicos, especialmente os meus. Na época da descoberta, eu namorava um estudante de medicina da UERJ que já estava naqueles últimos anos de mamata, em que o aluno recebe um soldo para estudar e ainda tem a oportunidade de aprender o ofício nos pobres doentes do SUS (alguns nunca aprendem e vão trabalhar, bem, vocês sabem O'nde). Meu ex, que tinha uma inclinação pela cardiologia por causa de seu privilegiado ouvido musical, adorava me auscultar, pois eu sempre fui um laboratório acústico de sibilos e estertores. Um dia, enquanto ele me auscultava (nós não estávamos brincando de médico, ele estava brincando sozinho), e eu fiquei olhando pra ele ali, todo sério e compenetrado, com o rosto a dois centímetros do meu, perguntei:
-- O que você faria se um dia, durante a ausculta de uma paciente pelada e peituda, ela te paquerasse ou se insinuasse, assim? (e fiz uma mímica mista de hair-flip com a abertura de pernas da Sharon Stone)
-- Ora, eu faria a única coisa que se tem pra fazer numa situação dessas!
-- E o que é isso?
-- Perguntaria: "E o xixi e o cocô da senhora, tudo bem?"

Aquilo me encheu de alegria e segurança! Como eu poderia ter ciúme de um namorado médico que, à qualquer iminência de assédio sexual, prometia transformar o paciente naquilo que ele realmente é: uma fábrica de xixi e cocô com algum tipo de mal funcionamento. Tenho que confessar que essa conversa mudou minha relação com os médicos pra sempre. Se antes eu tinha pudores para tirar a roupa na frente de um médico, hoje eu já entro em qualquer consultório perguntando onde eu penduro minha calcinha, principalmente se eu vou ter de me pesar. A maioria dos médicos acha isso muito normal, afinal, para eles, eu sou apenas mais uma fábrica de xixi e cocô que acha que está com defeito. Outros, no entanto, acham estranha a minha facilidade pra tirar a roupa e ainda encará-los no olho, como quem diz: "comé qui é, vambora logo com esse exame ginecológico que eu tou cheia de serviço." Porque médicos são humanos, e porque humanos falham, o erro de interpretação do meu comportamento desinibido já desencadeou reações audazes por parte de alguns deles (e contra-reações minhas, of course):

1. Um dia, quando eu chorava convulsivamente no consultório de meu ginecologista porque ele teve a infeliz idéia de me perguntar, durante uma TPM particularmente lacrimosa, quando ele faria o parto do meu primogênito, e eu não conseguia parar de chorar por causa disso, porque tá foda, meu relógio biológico isso, os homens afetivamente inviáveis, cagões e de pau cortado aquilo, e eu soluçava tanto que meu corpo todo tremia, ele saiu de sua cadeira e me abraçou, mas me abraçou apertado, sabe, com aquela pegada forte de homem másculo pacas. Eu fiquei cabreira quando vi que nada d'o abraço afrouxar, e quando o abraço começou a ficar bom demais, eu fui parando de chorar, dei uns tapinhas nas costas dele e disse: "TPM, doutor fulano, sabe como é... A gente chora por n-a-d-a!". Ele também ficou meio sem-jeito, voltou pro lugar dele, e aí, pra cortar bem o clima, eu falei: "Bem, pelo menos está tudo bem com o meu xixi e o meu cocô." Ele riu, desconcertado, e eu passei alguns meses pensando em trocar de gineco porque... pô, o cara tinha uma pegada que... fala sério! É muito estranho você saber que o mesmo médico que te enfia um bico de pato gelado regularmente, sem nem um carinho, pode fazer muito mais com aquelas mãos fortes. Sobretudo quando estão sem luvas. Mas depois de muito matutar, perdi o tesão por ele porque deve ser foda ter um homem que passa o dia inteiro vendo a periquita de outras mulheres.

2. Um otorrino de 12 anos, bem, vocês sabem D'Onde, colocou um otoscópio no meu ouvido -- e quando enfiam qualquer coisa no meu ouvido, juro, é maior que eu: eu gemo gostoso. Aí, não sei se isso animou o cara ou o quê, ele perguntou: "Usa pílula?". Cara, aquilo me deixou bem confusa na hora. Na minha cabeça de veterinária eclética, fiquei tentando imaginar o que o vafanculo tem a ver com as calças, mas acabei respondendo: "não". E ele prosseguiu: "Nossa, uma mulher jovem e bonita assim que não usa pílula... que perigo!". Aí eu olhei bem pra cara viada cretina dele e disse: "Em compensação, meu xixi e meu cocô estão excelentes. Alguma outra pergunta pertinente?"

3. Meu oftalmo, no último exame de vista, perguntou várias vezes: "Fica melhor com essa lente ou com esta agora, morena?". E eu respondia com esta, com aquela, mas porque ele sempre pontuava as perguntas com um ectópico "morena", e porque ele é um cara tímido, do tipo que fica corado só por chamar uma pessoa pelo prenome, eu achei que ele estava de ousadia pra cima de mim. Como eu gosto dele, e porque eu tenho um carinho maternal por gente que luta contra a timidez de forma bonitinha, falei: "Ah, doutor, morena eu sou no inverno; quando eu vier aqui no verão, pode me chamar de neguinha." E ele sorriu enrubescido, enquanto tentava esconder uma grossa aliança na mão esquerda. Por que a aliança dos médicos é sempre gorda, larga e grossa, heim? Será que eles não sabem se defender sozinhos, com uma simples anamnese completa?

quarta-feira, junho 27, 2007

Efeitos colaterais de uma meia maratona

Porque eu nunca tinha corrido tanto; porque todo mundo me mimou por isso; porque correr tanto dá tanta fome, e também porque eu sou bastante descarada e sem-vergonha, estou desde domingo comendo que nem um eqüídeo.

Depois da prova, o cunhado do Bones, Júlio, nos convidou para um arroz de bacalhau regado a azeite de oliva: comi bem um balde, sem contar os litros de azeite de todos os tipos que comi com pão e outros pretextos fracos. A sobremesa podia ser sorvete light ou gordo: pedi o gordo, claro, e repeti. E olha que eu nem gosto de sorvete! Desde então, continuo com essa filosofia obesa-mental do "comer por conta": ando numa boca nervosa que só suturando um beiço no outro pra parar.

Neste exato momento, estou com a forte sensação de ter engordado 25kg em 3 dias. Parece que posso ouvir o ranger das minhas articulações massacradas, de uma hora pra outra e sem aviso prévio, pelo sobrepeso da orgia gastronômica. Agora eu realmente preciso correr uma maratona, pois, aparentemente, sempre haverá mais comida no mundo do que eu aguento comer. E, puxa: só existem três coisas melhores que comer nesta vida, mas eu não digo.

terça-feira, junho 26, 2007

O AdSense me enerva!

Eu sei que assinei, entre aspas, um contrato dizendo que não tocaria neste assunto; eu sei que o combinado era ignorar e fingir que eu não tenho nada a ver com os anúncios que o AdSense coloca neste bloguito (vejam bem, o AdSense e eu, por nossa vez, não temos nada a ver com essas janelas descaradas que me dão vontade de dar um pau no Mercado De_us-Me-Libre); mas todos os dias eu acordo com uma idéia nova pra confundir o conteúdo relevante do AdSense e ver se ele esquece esse papo extremamente brabo de (disfarçando, galera): me-d_alhinha de sssant)o, não-sei-quê de N_ossa! Senh00ra, livros, cursos e sites sobre relygyon, enfim, um elenco de assuntos que não me interessam, não me são relevantes. Sorry, AdSense, MAS EU ESTOU SENDO BASTANTE SINCERA: EU O-D-E-I-O chegar aqui, na minha própria casa, e ver a bagunça que você e seus coleguinhas do gúgol fazem com os meus assuntos relevantes. Acho que vocês não entendem nada, na verdade, acho que vocês sequer entendem a minha língua. Não, na verdade mesmo, eu acho que vocês só querem me sacanear. Provavelmente estão mancomunados com a minha mamma, as demais garçonetes da S_a-nta Ceya e aquela galera esquisita da Te-o_l0gy_ah da PUC.

Por favor, robozinho bonzinho e fofo: vamos virar o disco. Não pega bem pra uma mulher de quase 35 anos ter um blog que, não bastasse já ser essencialmente ridículo -- como é todo blog, sobretudo os que têm a pretensão de achar que não são --, ainda ostenta anúncios que vendem essas coisas supracitadas, que não têm nada a ver comigo.

Addie, ó... não faz isso que é covardia, não precisa chorar. Robozinho fofo não chora, então vamos parar com essa besteira. Titia vai ajudar você a captar o espírito da coisa, mas ó: é a última que titia faz a bonita, heim! Vamos lá: maquiagem MAC, casaquinho Zara, tênis de corrida, meias de corrida, meia maratona, maratona de Nova York, lua-de-mel, férias ou paraíso fiscal nas Ilhas Seychelles (o poder aquisitivo dos meus leitores vai te surpreender, Addie: fodidos somos eu e você!), filtro solar, veterinária, peludoterapia, terapia assistida por animais, cães, gatos, adestramento, terapia comportamental, homeopatia, acupuntura, florais de Bach, fusca (sim, não me venha vender automóveis full of shit aqui que eu te dou um chute e uma corrida!), joelhaçoterapia intensiva de Bagé, capivara, os livros da Cora Rónai, turismo para assalariados, títulos milagrosos de capitalização, resultados da mega sena, caipisake, barman, bartender, bar waitress, drinks, cocktails, flair, vinho, viralata, sem raça definida, adoção, posse responsável, voluntariado, Rio de Janeiro, Flamengo, Rio de Janeiro, Posto 9, Rio de Janeiro, e não sei ser mais clara que isso. Passar bem.

Procura-se um carro com alma.


If I were a car...
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Paga-se com o coração.

Amigo é coisa pra se guardar...


Friends that come and go.
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Saudades do Negão.

Nossa primeira volta à Lagoa


Nossa primeira volta na Lagoa
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Eu e Marina, no dia primeiro de abril de 2007.

segunda-feira, junho 25, 2007

A primeira meia-maratona a gente nunca esquece.

Lau et moi: O descanso do guerreiro: depois de 42km, uma soneca num ombrinho descansado de 21km.

Marcelo, Lau e eu na composição "Meias Super Poderosas" ou "A revolta do peixe-palhaço": sem essas meias especiais, teria sido tudo muito mais difícil.

Marcelo Bones e Lau: a pose olímpica com banheiros fermentados de estrume ao fundo. Ecologia é esporte e vice-versa.

A chegada do guerreiro com o Pão-de-Açúcar ao fundo.

Uma luz no fim do Túnel Novo: no km 18, a sensação é de já ter chegado.

Batedores escoltando atletas de elite: os caras merecem.

A elite é magra!

Subindo a Niemeyer, e o dia ainda com preguiça de nascer.

Tive de parar pra fotografar: sempre quis estar a pé neste trecho entre a Barra e São Conrado. O barulho do mar é incrível.

Rafa, eu e as meninas que correm da academia. Aliás, correm à vera!

Chegada na Praia do Pepê, às 6h: escuridão.

Fila pro xixi nervoso, antes da largada. Tenho a impressão de que os banheiros já chegam sujos, não é possível!

Unidos por um fio: dois dos 32 atletas da Dinamarca que vieram ao Brasil pela primeira vez para esta corrida e, lógico, prum Foz do Iguaçu ali, uma Bahia acolá...

Eu & my precious: a medalha mais bonita do mundo, que eu dedico à minha querida amiga, Marina, que não pôde correr desta vez, mas que vai correr comigo na próxima, em setembro.

A SEMENTE DA DOIDEIRA

Quando acompanhei o Lau e seu fiel escudeiro, Marcelo Bones, à largada da meia maratona do Rio, em setembro de 2006, fiquei tão empolgada que decidi que ia, eu mesma, virar uma dessas criaturas que correm por diversão, sem a necessidade instinto-preservativa de ter um leão faminto ou um maníaco do parque no encalço.

A fim de me tornar uma maratonista, e por ser eu uma hipocondríaca de elite, no ano passado eu fiz um check-up bastante elaborado para saber se era sadia o bastante pra iniciar minha nova carreira como maratonista. Nessa ocasião, uma médica insensível de 12 anos de idade, que por mero acaso não era do Copa D'Or, ao ver meu modestíssimo resultado na prova de função respiratória -- um teste ridículo baseado num sopro de boca aberta --, sorriu pra mim e disse: "Você pode ter uma vida perfeitamente normal [com essa obstrução pulmonar moderada, resultante de décadas de asma]. Só não pode correr uma maratona." A bruaca nem sabia que correr maratona era justo o que eu queria, e já estava me detonando com tamanho despautério. Pensei em sair da Clínica São Vicente e me suicidar, mas minha vontade de voltar dois anos depois, com minha medalha de 42km, e dizer: "Enfia o diploma no vafanculo e rasga, sua anta!" era maior. Por isso, calcei meus tênis superfaturados de corrida e comecei a correr que nem uma maluca.

CORRENDO QUE NEM UMA MALUCA

No começo, tudo é festa: se chega algum amigo que você não vê há tempos perto da esteira, sua corrida de 4km vira um trote de 400m, três chopes e algumas coisinhas gordurosas. Um mês depois, quando a série de musculação já está ficando fácil, vai brotando uma vontade natural de queimar calorias, mesmo que isso signifique correr. Eu comecei a correr desvairadamente. Primeiro xeroquei umas planilhas da O2, depois comecei a usar uma planilha do site da Polar que eu nunca consegui seguir, e finalmente eu fiz um contato imediato com um professor de carne e osso, o Carlinhos, que me fez uma planilha de treinamento com base nos meus objetivos (dar um cacete naquela estagiária da São Vicente) e no meu tempo de 10km. Fui pra Lagoa e corri 10km em 54 minutos, tempo que eu nunca mais repeti, o que deixou meu personal professor de corrida com a impressão de que eu sou uma pessoa mentirosa.

Com base nesta planilha fantasiosa, que eu teoricamente conseguiria seguir caso vivesse em hipomania, fiz um treinamento capenga e inconsistente de três meses, sempre com alguma preguiça, uma variedade surpreendente de dores esqueléticas que nunca eram nada demais, e muita indisciplina. Faço meu mea culpa dizendo que fui relapsa, sim, nesta fase básico zero da corrida, mas justifico observando que só o fui por causa do distanciamento temporal entre o momento presente e a gloriosa hora de cumprir meu objetivo final, que é correr 42km sem morrer. Todos sabem que ninguém corre 42km sem antes correr 21km, e ninguém corre 21km sem antes correr 10km. Sob o signo da leveza que só a ignorância nos confere, planejei uma corrida 10km em maio (a provinha no Belvedere de BH, em 2o/05), a meia maratona do Rio, em junho, e os 42km de Nova York, em novembro. Talvez eu esteja afoita demais, mas nada como um dia depois do outro pra revelar a verdade que há em cada loucura ou a loucura que há em cada verdade.


UMA PEQUENA LISTA DE ITENS ESSENCIAIS À PRIMEIRA MEIA MARATONA

Também não quero parecer frívola, embora na verdade, eu seja um pouquinho (não toda hora, mas sempre que atono este meu lado mulherzinha, tipo: ó céus, vou desmaiar, que barata enorme, não tenho roupa, preciso de um megahair e de uma limpeza de pele urgente). Quem me conhece sabe que eu sou o oposto disso 90% do tempo: todo dia apresento no trabalho uma combinação de pijama com camiseta ou vestido e um despenteado diferente. Na véspera da minha primeira meia maratona, porém, como se tratava de uma estréia, eu quase tive um colapso nervoso porque não conseguia decidir se correria com a camiseta da prova (branca, mega discreta) ou com a da academia -- esta sim, linda e verde com letras azuis, combinando com meu short e boné azuis e a listra verde do meu tênis. Resolvido este pequeno impasse, quase infartei quando percebi que eu teria de reaplicar o filtro solar em algum momento da meia maratona, e onde diabos eu iria carregar um filtro solar num short de corrida?!? Aí veio o maior dilema de todos: O QUE LEVAR NUMA MEIA-MARATONA? Ora, se o ser humano vai correr do Pepê ao Aterro pela primeira vez, é óbvio que ele tem de levar, pelo menos:

1. Uma máquina fotográfica pra registrar tudo;
2. Um celular pra pedir socorro pra mãe;
3. Um aipode com músicas animadas pra subida, pra descida, pros joelhos não doerem mais, etc;
4. Um filtro solar para reaplicar no final do percurso;
5. Um boné;
6. Óculos de sol;
7. Um documento de identidade (não sei bem porquê, já que eu tinha um número megaloenorme na camiseta que teoricamente identificaria meu cadáver em caso de morte súbita, mas eu achei muito importante);
8. Dinheiro pro ônibus ou pro táxi, dependendo da gravidade do aleijão;
9. Dois sachês de maltrodextrina com eletrólitos, pra não morrer na praia;
10. Um litro de isotônico congelado pra não morrer desidratada;
11. Uma barrinha de cereais pra não morrer de fome;
12. Um rolo de papel higiênico, pro advento de uma dor de barriga;
13. Vaselina, para lubrificar as partes que roçam na corrida e acabando assando;
14. Casaquinho novo da Zara;
15. Uma mochila grande o bastante pra enfiar tudo isso.

Como o Lau é um cara experiente, ele ouviu minha lista com muita atenção e não me deixou levar tudo, claro. Claro! Ele teve de usar de muito tato pra me convencer, porque eu já estava emocionalmente abalada por ter esquecido meu frequencímetro na academia, o que me impediria de saber gasto calórico (informação muito útil na hora de saber quantos quilômetros eu tenho de correr depois de uma feijoada, por exemplo) e o tempo. Com jeito, ele tentou me dizer que é muito difícil correr 21km carregando tralha, que as tralhas me esfolariam a pele e eu teria dificuldades, que os organizadores do evento sempre distribuem isotônico, bla bla bla. Humilhada por ter minha relação de itens cruciais reprovada, fiz que ia desistir, disse que sem tralha eu não corria, que as tralhas me deixavam menos insegura, até que a gente chegou a uma solução intermediária, que seria deixar algumas tralhas no guarda-volume (papel higiênico, vaselina, mochila, barrinha, óculos de sol), carregar outras (pochete, sachês energéticos, documento, dinheiro, aipode, boné, celular e um micro-frasquinho de filtro solar) e trocar a câmera digital pelo VGA do celular, que é uma merda, mas serve pra isso mesmo. Usei o casaquinho da Zara (obrigada, Nelson!) até as 7h30, quando tive de entregar meu ouro pro guarda-volume.

O DIA D

Às 5h20, ainda escuro no Rio de Janeiro, eu, Lau e Marcelo estávamos no Aterro pra pegar um ônibus até a largada, no cu da zona oeste. Foi nesta hora que me deu um certo pânico: eles dois iriam juntos pro Pontal, onde seria a largada pra maratona; e eu iria SOZINHA, PORRA!, pra Praia do Pepê, na Barra, largar pra meia. Ou seja, às 5h30 eu já estava com vontade de ir ao banheiro, chorar, dormir e morrer. Foi então que vi um índio, todo vestido a caráter, com aqueles saiotes de palha, pintado pra guerra e descalço. Fiquei olhando aquele cara esperando para entrar num ônibus pra Praia da Macumba e pensei: "Se esse cara vai correr descalço do Pontal ao Aterro e nem está chorando, então eu também não vou chorar". Subi num ônibus, fiz amizade com uns dinamarqueses e uns mineiros (eu tenho facilidade), servi de intérprete prum correspondente da Contra-Relógio fazer umas entrevistas e, quando eu vi, já éramos uma grande família desembarcando no Pepê.

Lá, encontrei a galera da academia, passamos vaselina no corpo todo, fizemos nosso xixi nervoso -- ao ver que o xixi nervoso muitas vezes vira um cocô nervoso, tive dó e deixei meu rolo de Neve lá pra geral limpar a bunda --, nos alongamos, fomos fotografados nas poses mais esdrúxulas do alongamento, deixamos nossos volumes no guarda-volume, testamos o volume dos radinhos, pulamos pra driblar o frio e largamos num estouro de boiada.


GENTE É PRA SE SUPERAR, MAS CADA UM SABE DE SUAS LIMITAÇÕES

Eu sabia que não tinha feito meu dever de casa, e portanto não chegaria em primeiro lugar (UHAUHAUAHAU). No entanto, eu sabia que, entre 15 mil participantes, eu dificilmente seria a última a chegar, embora isso também me parecesse tão ou mais atraente que chegar em primeiro (sempre tive uma queda pelos frascos e comprimidos). Por isso, decidi que não acompanharia ninguém durante a prova; correria sozinha, e cuidaria pra manter meu ritmo constante. Meu único objetivo era chegar inteira, sem sofrer e sem mancar. Fiz o percurso todo com isto em mente, bem toli-toli-tolá, agora eu vou chegar. Passei o trajeto todo apreciando a vista, tirando fotos, batendo na mão de todas as criancinhas que a estendessem pra mim e até incentivando quem parecia estar morrendo na praia.

DEVAGAR E SEMPRE

Um dos mortos-vivos por quem eu passei dezenas de vezes era um canadense que corria com uma camiseta do Diabetes Team. Era um cinquentão meio gorducho que já suava em bicas no km3, na praia do Pepino. Talvez porque fosse evidente que se tratava de um canadense, talvez por eu ser realmente ridícula, cismei de falar com o cara durante o Pepino. Nada mais desagradável que alguém que nem está suando falar com você animadamente quando você não só está suando, como quase morrendo. Na verdade, eu não queria fazer amizade: eu estava apenas sendo naturalmente ridícula. E aí eu mandei a fatal tradução literal: slowly and always! E porque eu ria alto (na verdade, gargalhava de mim mesma, da minha superação na arte de ser ridícula numa hora dessas), o canadense tomou ódio de mim. E foi até o final mancando, andando e suando, mas sempre que eu passava trotando por ele naquele meu ritmo "toli-toli-tolá, agora vou te passar", ele ficava arisco, gente, uma coisa impressionante, e corria até sumir de vista. Só que isso aconteceu umas vinte vezes. Conclusão: os canadenses são ariscos!

O IMPORTANTE É CHEGAR.

Teve um momento em que eu pensei: vou acelerar agora pra completar em 2h20. Mas depois me dava uma preguiça de sentir dor nos joelhos, dor de corno, enfim, uma preguiça de sofrer, e acabei a prova quando o relógio da largada marcava 2h45. Ou seja: fiz um tempo pouca coisa menor que isso.

Recompensas não faltaram: no quiosque da minha academia, ganhei alongamento, massagem, sandubinhas, salada de frutas, isotônicos e o carinho da galera. Fui a última do grupo a chegar, é bem verdade, mas ninguém me recriminou por isso. Logo depois, minha mamma chegou esbaforida com meu pai: quando eu disse que estava na massagem, ela logo pensou que era massagem de ressuscitação cardíaca e ficou apavorada. Foi me procurar primeiro no quiosque da Golden Cross, e quase teve uma síncope de felicidade por me ver tão viva. Em seguida, chega o Joelito com sua mega-ultra-power câmera, para registrar... a chegada do Lau! Ele não levou fé em mim e não acreditou que eu fosse correr.

5h35 após a largada, chegam o Lau e o Marcelo de seus 42 sofridos quilômetros. Eles são, definitivamente, meus musos, meus heróis, meus tudo-de-bom. Estarão sempre 21km e dois anos à minha frente, mas não importa. Um dia, eu também chego lá. O importante é não parar. Ou melhor: o importante é dizer pros médicos que eles não sabem de nada. Melhor ainda: eles não sabem de nós. E os urubus continuam passeando a tarde inteira entre os girassóis.

sexta-feira, junho 22, 2007

Neném novo e palavra do dia


Ontem, um mês exato antes do meu aniversário, nasceu a Nina, filha da minha Prima Joana. Na foto acima, vocês podem vê-la no colo do Jitman, avô babão, que por sua vez foi um pai tão embevecido quanto aquele do filminho da Sprite. Desde que essa foto chegou pra mim, há algumas horas, eu entro no computador de dez em dez segundos pra namorá-la, pra sentir o cheiro de bebê pequeno, a alegria da família numa hora dessas e tentar inventar uma desculpa boa o bastante pra eu não ter visto a barriga da minha Prima Joana nem uma única vez durante esse tempo todo que a Nina cresceu lá dentro. Cheguei a um esboço mal elaborado, que vai mais ou menos assim: Prima, eu não vi a Nina antes dela ficar pronta, mas passei oito meses e tal imaginando que ela seria justamente linda assim: sem tirar nem pôr.

***

Se vocês pararem pra pensar bem, mas pensar forte mesmo, a gente usa basicamente as mesmas 200 palavras para 90% de tudo que significa comunicação: uns 30 pronomes, uns 50 verbos, uns 10 advérbios, 30 adjetivos irados-aê, 10 interjeições e o saldo de substantivos que designam as coisas mais comuns do dia-a-dia, como rango, grana, água e dia.

Às vezes, uma palavra fora desse repertório básico-zero de comunicação basal nos chama a atenção. Hoje foi o dia da palavra temeridade me gritar aos ouvidos. Só hoje, ouvi-a umas doze vezes, sempre pronunciada assim, sílaba a sílaba, como se fosse um faniquito de cabeleireiro ou um pré-desmaio de fadinha. Vão aqui alguns exemplos do uso vulgar da nossa palavra do dia:

- Eu acho uma te-me-ri-da-de dar qualquer tipo de poder pra uma pessoa com a cabeça tão fraca quanto aquela vaca leviana. (quando falávamos sobre uma vaca leviana de meu trabalho)

- Aquele louco toxicômano tirou carteira de motorista? Nossa, que te-me-ri-da-de!

- É uma te-me-ri-da-de sair desse prédio debaixo de tiroteio assim. (quando eu disse que já não ouvia mais barulho de tiro algum, e achava que já dava pra sair do bunker voltar ao trabalho, lá no hospital veterinário da Mangueira, onde a chapa tem andado quente)

- Vai correr a meia mesmo? Nossa, que te-me-ri-da-de. Você é ma-lu-ca.

terça-feira, junho 19, 2007

A escola.

Tá certo que parecia uma escola, mas a fachada austera e o hall de mármore frio, com escadas suntuosas, já davam pistas inequívocas de que se tratava de uma escola careta. Ao passar pela inspetora na entrada, foi constrangida a suspender a meia e desdobrar o cós da saia para que a bainha lhe cobrisse os joelhos, como preconizam as normas. De má vontade e torcendo pra que uma bomba demolidora caísse do céu e acertasse certeiramente o coque envernizado da inspetora, ela ajeitou o uniforme e atravessou o macabro portal para uma outra dimensão. Neste mundo novo, ela via todas as coisas em tons de sépia, à exceção dela mesma e dos fachos de luz que desbravavam o universo paralelo amarelo com sua luz incrivelmente branca, devolvendo a cor supostamente original a trechos alternados dos murais com trabalhos de alunos.

Ainda fascinada com a alternância entre o amarelo e a vida, entrou na sala da 5-B com a apreensão normal de qualquer criatura em seu primeiro dia de aula: é claro que ela queria gostar da nova escola e dos novos amigos e professores, mas ela já era madura o bastante pra saber que nenhuma escola é melhor que a última, até que, na melhor das hipóteses, seja a última ela mesma. Só havia uma carteira livre na sala e, ela não pôde deixar de notar, embora cheia, a sala parecia vazia. Vazia de calor humano: nenhuma criança conversava, nenhuma dormia, cantarolava ou olhava pela janela (embora o mundo lá fora fosse de um colorido convidativo). Sentiu enfado quando a professora entrou, disse bom-dia, e todos responderam em uníssono: "Bom dia, professora". Abriu o caderno e pôs-se a anotar a primeira lição do dia.

Primeira lição do dia: MODERAÇÃO
Moderação significava não ser nem demais, nem de menos. Numa escala de zero a dez, moderação era ser cinco. No máximo seis e meio. Ou seja: ficar no meio, ser medíocre, mas, "vejam bem", disse a professora, "ser medíocre é uma coisa boa, porque a moderação é uma virtude". A primeira lição ficou engasgada em sua garganta. Precisou sair pra beber água (a professora deu-lhe autorização, mas desde que ela fosse sem correr, ou seja, com moderação) para ajudar a descer aquele nó que, de tão grande, parecia até um sapo-boi enviesado na goela.

Quando voltou da água, sentindo o sapo-boi inflar em seu estômago a ponto de quase voar, a professora já ditava a segunda lição.

Segunda lição do dia: PRUDÊNCIA
Prudência era um conceito abstrato demais pra ela, e a professora precisou repetir mil vezes, sem perder a PACIÊNCIA (esta seria a sexta lição do dia), até que ela compreendesse e repetisse, em suas próprias palavras, que prudência é assim, né?, uma outra virtude (a professora a obrigou a dizer que era uma virtude) das pessoas que não querem - e nem vão!, que elas não são bestas - se machucar. A pessoa prudente raramente se machuca, mas também raramente sai de casa, vai ao cinema, pega uma praia, enfim: prudente é aquele que tem pouco ou nenhum contato com o mundo technicolor. A pessoa prudente demais pode ter até uma síncope se der de cara, por exemplo, com a cor vermelha. O bom prudente só vê coisas amareladas e bem delimitadas, dentro de seu estreito círculo de confiança.

Durante a sabatina, enquanto ela ia dizendo pra classe o conceito de prudência com suas próprias palavras, a professora ficou roxa, as crianças ficaram lívidas e houve um menino que ficou colorido de novo, como se a desmoralização inocente da prudência o tivesse curado de sua chatice-sépia. Ele então aproximou-se, segurou-lhe a mão e pediu-a em namoro. Ela aceitou, é claro, pois prudente não era, mas exigiu: vou contigo pra onde você quiser, desde que a gente mude de escola.

Mudaram. E tiveram um feliz ano letivo. Para sempre.

(For Jacob)

segunda-feira, junho 18, 2007

Sistema muito nervoso

Odeio ter insônia. Embora eu esteja praticamente convencida de que não sou uma pessoa, digamos, comum, fiz tudo que uma pessoa normal (whatever!) pode fazer para tentar dormir: assisti a um filme dinamarquês-Dogma-95 que nem comédia era; tomei vinho; li um gibi do Pato Donald (em dinamarquês); arrumei minhas coisas pra segunda-maldita-feira; li os classificados de sábado; fiz uma lista do que eu faria se tivesse acertado a mega sena ontem; pensei nas músicas que eu preciso baixar no e-mule antes de correr a meia-maratona; arrumei um armário e baguncei outro (pra ficar equilibrado); pensei nas roupas que eu poderia voltar a usar se emagrecesse 2kg e fiz uma pilha com as roupas que eu só poderia voltar a usar se emagrecesse 10kg (no cu, pardal!); fiz uma sessão de ginástica facial na frente do espelho (estou tentando, há quase um mês, corrigir uma hemiparalisia cerebral que só se manifesta durante a ginástica facial, mas é bastante grave); tomei mais vinho, dessa vez com xarope pra tosse, que dá um certo barato*; fiz aromaterapia para relaxar, com lavanda, lavandim, sálvia e gerânio; acendi velas aromáticas pelo quarto e, dez minutos depois, apaguei todas, com medo de dormir e morrer num incêncio; empilhei ao lado da cama os livros que quero ler nas próximas oito semanas; guardei os livros empilhados ao lado da cama que eu não abri nem uma única vez nas últimas oito semanas e, finalmente, cheguei a uma dramática conclusão: preciso pintar a parede do meu quarto (que o verde não me ajuda mais a relaxar).

Ou então cortar o cabelo. Deixar o cabelo crescer me tira o sono, porque eu nunca sei como um cabelo sem corte vai estar pela manhã. Ou melhor, sei. E vai ver que é por isso que eu tenho tido insônia. Preciso de um megahair urgente.

***

*Update: antes de ler a bula e ficar sugestionada, fui minha própria cobaia e senti na própria pele: ambroxol não dá barato coisa nenhuma. É o pior xarope pra tosse que existe, e ainda tem um gosto ruim pra caceta.

sábado, junho 16, 2007

Ma che peccato!

Mermão, o pai d'O Cara, liga pra cá e, assim que eu pergunto pelo menino, o marmanjo faz como qualquer criança de 4 anos e implanta o telefone na mão de meu sobrinho, sem dizer nem uma palavra gentil de transição, nem um "ah, ele está ótimo, vou chamá-lo pra vocês conversarem." Da mesma forma que eu, O Cara não estava inspirado pra conversar naquele momento. Na verdade, eu não deveria dizer isso porque é feio escutar conversa dos outros, mas como eu estava com o fone no ouvido e a audição não é um sentido seletivo, entendi que mermão estava obrigando meu adorável mas ocupado sobrinho a conversar com sua djindinha.

Ora, veja se pode! Então neguinho nasce sem pedir, sem saber nada sobre as agruras de ter uma famiglia como a minha, e ainda é obrigado por seu pai a falar com a pobre tia manca e doente, que mora num reino tão-tão distante, ao telefone? Ah, isso pra mim foi a gota d'água! Pedro Augusto diz alô.
- Alô, Peuguto. Aqui é a Djindinha. Já entendi tudo. Você não quer falar, não é mesmo?
- É mesmo.
- Se eu conheço seu pai, depois de gritar contigo ele se sentou à frente da televisão e está te olhando, de vez em quando, de rabo de olho, não está? Pra ver se você está conversando comigo, como ele te obrigou, não é?
- É... (a voz do menino era um suspiro pré-pranto)
- Então Djindinha vai te ajudar, tá bem? Você vai repetir animadamente tudo o que eu disser, OK? Vamos lá: diga "Xá comigo."
- Xá comigo.
- Diga: "Porco, cachorro, gato."
- Porco, cachorro, gato.
-Óinc-óinc, au-au, miau.
- Óinc, miau, au-au.
- Não tem importância...
- Não tem..
- STOP! Não é pra repetir isso. A brincadeira não é assim. Só repita o que eu mandar, combinado?
- Combinado.
- Diga: "1,2,3,4,5,6,7,8,9,10".
- Um, sete, oito, nove, dez.
- Agora façamos séries curtas e populares: "bunda, piru, xereca."
- Bunda, piru, xereca.

À esta altura, O Cara já estava gargalhando. Imagino que olhava de rabo de olho pro sofá para verificar se o seu rigoroso pai estava acompanhando aquela conversa de maluco. E seguimos por mais alguns segundos, repetindo séries populares de três palavras que qualquer criança conhece. Tivemos um bom quality time acerebral, como deve ser.

***

Não estou pronta pra ser mãe, ainda. Não estou pronta a forçar filho meu a fazer o que não quer. Eu mesma ainda não me acostumei bem a essa desgraça. Bom mesmo é brincar sem ter de atender telefone coisa nenhuma.

Quando o estupro é inevitável...

Tem uma pessoa anônima no blog da Cora que assina seus comentários sob o sigelo pseudônimo de "o silêncio é de ouro". Talvez seja uma alusão ao ato falho da ministra do Turismo, Marta Suplicy, que sugeriu às vítimas do caos aéreo o mesmo que se sugere grotescamente, neste país (que não é sério), às vítimas de um estupro iminente: relaxa e goza.
Quando eu digo que foi um ato falho, na verdade entendo que a mãe do Supla queria dizer: passageiros no Brasil serão castigados por minha incompetência, isto é inevitável, mas como eu não preciso passar por isso porque sou apenas mais uma otoridade leviana, fodam-se. E já que vão se fuder, que gozem.
Hoje o jornal chega à minha porta com a vergonha declarada da ministra. Ora, ministra Marta dos Suplícios Inevitáveis, se a senhora nunca mais vai poder fazer um check-in aéreo sem procurador na vida por causa de sua declaração infeliz, relaxa e goza: no Brasil, há sempre a chance de driblar regras, e a porta dos fundos, por onde passam as malas dos passageiros que esperam doze horas na fila, estará sempre aberta pra senhora, uma espécie sem alça.
E tem mais: ministro com vergonha só é digno no Japão, onde a vergonha resulta em suicídio. Não estou sugerindo nada, mas morrer, em algumas culturas, também é uma forma de viajar. Enfim, viva o turismo!

sexta-feira, junho 15, 2007

O dia em que envergonhei meus pais.


Na verdade, já envergonhei meus pais muitas vezes, muitas das quais esqueci propositalmente para poder continuar vivendo.

A primeira vergonha (não deletada) que fiz meus pais passarem foi em Brasília, na década de setenta. Antes de contar este episódio, preciso explicar quem eram minhas companhias naquela época. Em posse desse importante histórico, espero sinceramente que vocês possam me perdoar pela vergonha que fiz minha famiglia passar e que, provavelmente, culminou com nossa retirada estratégica pro Rio de Janeiro, embora meus pais até hoje aleguem que a mudança se deu por motivos médicos (diziam que minha asma piorava no clima árido da capital federal).

Eu tinha uns sete ou oito anos, minha irmã uns cinco ou seis, e nossos únicos amigos na quadra eram os renegados filhos de um viúvo mineiro: o pirralho Emerson e sua irmã Zilnemara, uma menina de minha idade que tinha o péssimo vício de me chamar de "Coisinha", na contramão total de minha delicadeza, que me compelia a chamá-la simplesmente de "Zilne", já que Zilnemara, todos sabem -- até as crianças! --, é foda.

Zilne e Emerson eram uns capetinhas atentados e soltos na vida, e vira e mexe nos metiam em sérios apuros. Não o faziam por mal: na minha infantil avaliação, suas diabruras estavam relacionadas, pura e simplesmente, à falta de uma boa mãe, com um bom chinelo em riste. O pai, obviamente, e como acontece em todo desenho Disney, era um ausente que só se vê de costas e dos joelhos pra baixo, passando rapidamente de casa pro trabalho e do trabalho pra casa. Talvez por causa disto, porque o atímico viúvo não deixava pros filhos nem um centavo emergencial, o tema central de nossas brincadeiras de criança era a arrecadação monetária. Lembro da gente pescando moedas em ralos com ímãs e de nossos bazares de gibis e pilhas velhas congeladas, mas só hoje me ocorreu que era com esse dinheiro -- e não com a mesada do vovô, cujo troco minha mãe guardava e não acabava jamais -- que nós quatro comprávamos balas, Mastiguinhas em farmácias e Transfers e figurinhas em bancas quase todos os dias.

Em Brasília, naquela época, todas as superquadras tinham duas escolas públicas: um Jardim de Infância e uma que outrora se chamava Escola Primária, mas que hoje se chama algo que eu não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe. Na frente de cada uma, tinha sempre um pipoqueiro ou um "moço da Kibon" com seu carrinho ornado por guarda-sol e equipado com gelo seco, uma das sete maravilhas da ciência pras crianças. Éramos clientes fiéis do moço da Kibon e cansamos de trocar sucessivamente palitinhos premiados por brindes e picolés in loco. Sempre nos demos bem com o moço da Kibon, até o dia em que a Zilne -- sempre ela! -- sugeriu uma ousadia: um assalto ao reservatório de picolés.

O plano era bastante elaborado para criaturas de nossa idade, mas isso não era lá de se admirar, pois em Brasília as crianças crescem com uma mente bastante aberta para o crime, sobretudo os do colarinho branco. Esperaríamos a chegada do moço com seu carrinho e executaríamos nosso plano antes do horário da saída escolar, quando a movimentação era grande no local. Normalmente, o moço da Kibon ficava sozinho na praça por uns cinco minutos entre sua chegada e o início da romaria das mães à escola. A Zilne, que era a mais descarada, o abordaria aos prantos, pedindo ajuda porque seu irmãozinho estava ferido e possivelmente fraturado sob o pé de ingá mais próximo (e ainda assim distante); o irmãozinho fingiria estar machucado para que o resto idiota da equipe (eu e minha irmã, no caso) cumprisse o plano; enquanto o moço da Kibon estivesse longe do carrinho, eu abriria a tampa, daria pé-pé pra minha irmã subir, fuçar lá dentro e pescar dois picolés de uva e dois Chicabons, a conta justa do crime de nossa quadrilha.

Seria tudo perfeito se minha irmã não fosse incontinente (urinária) e, desde o início da operação, não tivesse começado a (se mijar de) rir. Para que aquela bunda mijada não me encostasse, eu tive de soltá-la com os pezinhos pro ar incontáveis vezes, e quando o moço da Kibon voltou, ele deu de cara com uma bunda mijada implantada em seu reservatório de gelo seco. Gritou palavras de baixo calão e veio correndo, pesada e ameaçadoramente, em nossa direção. Estapeei a bunda mijada, apressei minha irmã, icei-a pelos pés até lhe arrancar um dos congas, e corremos o quanto pudemos até a segurança de nosso lar. Minutos depois, me liga a Zilnemara:
-- Conseguiu pegar tudo?
-- Sim. A Samantha pegou tudo.

Na verdade, quando a Zilne perguntou "tudo", ela se referia aos quatro picolés do plano original. Acontece que, no nervoso da fuga, minha irmã acabou limpando o reservatório do moço da Kibon: rapou tudo até o tacho, mas tudo mesmo. Tínhamos uns vinte picolés de sabores jamais experimentados em nosso poder. Zilne ficou chocada quando eu contei:
-- Livre-se disso! Não podemos mais nos falar porque vocês estão ferradas agora. Não tenho nada a ver com isso. Tchau.

Liguei pra minha mãe, mas como naquela época não havia celular e ela não estava em nenhum dos seus dois empregos, só me restou esperar pra saber o grande castigo que me aguardava. E, já que eu teria de esperar mesmo, sentei com minha irmã na frente da TV e comemos todos os picolés distraidamente.

Minha mãe chegou pouco antes de nossa campainha ser espancada por uma matilha de crianças rivais da quadra que nunca foram minhas amigas de verdade: uma maneta (vítima da talidomida), uma gordinha (vítima do Jão-jão, o primeiro fastfood de Brasília), uma feínha (vítima da genética), uma chatinha (vítima da escola católica) e uma outra, irritantemente penteadinha, que uma vez soltou uma lombriga enorme na privada de meu banheiro, o que me fez passar a vida achando que algumas pessoas só se penteiam, em verdade, para disfarçar que são um criatório fervilhante de nematódeos. Pois essa matilha foi à minha casa -- ora, que desplante! -- avisar minha mãe que eu e minha irmã tínhamos roubado todos os picolés do moço da Kibon. Minha mãe passou os olhos das vítimas do cerrado pra gente, no sofá: nossa cara e nossas mãos lambuzadas de picolé de uva, chocolate e coco não pareciam desmentir as criancinhas hediondas naquela situação "O Povo contra Frankestein". Mamãe manteve a porta aberta, passou a mão em seu chinelo e, na frente daquelas criancinhas hediondas que eu odiava mais que tudo na vida, eu e minha irmã ganhamos uma chinelada moral (aquele tipo de chinelada que só dói conceitualmente, sobretudo na frente de uma platéia indigna); depois, fomos obrigadas a descer com dinheiro pra pagar o moço da Kibon pelo seu estoque roubado. Atrás de nós, O Povo contra Frankstein ia fazendo coro de "ensa, ensa, ensa, o crime não compensa", "taca pedra, joga bosta na Geni" e essas coisas nada gentis que se diz a uma pessoa na rampa da guilhotina. Da janela de seu apartamento, Zilne e Emerson riam de nosso calvário.

Não preciso dizer que nunca mais fomos amigos daqueles semiórfãos vigaristas, mas isto ocorreria em pouquíssimo tempo de qualquer forma, pois, como disse, o assalto ao trem pagador da Kibon culminou com nosso exílio definitivo do DF pro RJ. Dizem as más línguas que o Presidente Figueiredo tomou conhecimento do caso através de uma redação escolar oriunda do Colégio Santa Rosa de Lima, o que teria catalizado a transferência de meus pais pra cá como forma de controlar a criminalidade crescente no Planalto Central.

Zilnemara e seu comparsa nunca foram pegos, e ninguém acreditou na gente quando dissemos que os semiórfãos eram os mentores do assalto. Nunca algum adulto poderia acreditar que aquelas crianças que ainda sofriam a perda da progenitora poderiam se engajar na prática de qualquer ato ilício, sob a pena católico-cristã de que sua falecida mãezinha ardesse no fogo do inferno.

***

Sei que envergonhei meus pais naquele dia. Tenho evitado tocar neste assunto há quase trinta anos, até mesmo nas sessões mais catárticas de psicanálise, pois é muito triste um filho envergonhar um pai, mas acho que filhos adultos só envergonham os pais de verdade quando se tornam Renan Calheiros, irmãos Cravinho ou traficantes.

Hoje, porém, pra não perder o hábito, dei uma envergonhadinha nos meus pais pra que eles jamais esqueçam da sensação: cheguei em casa com uma sacola da Zara na mão. Minha mãe, que sabe dos nós em pingo d'água que tenho dado pra tentar equilibrar minhas finanças, levou a mão à testa dizendo: "Meu Deus, como você é perdulária! Já foi às compras!" Então, para tranquilizá-la, mas já planejando meu ato, respondi:
- Mãe, não é o que parece: não andei fazendo compras. Esta peça eu ganhei do Nelson, um leitor de meu blog que se apiedou de minha bancarrota financeira e resolveu contribuir com um agasalho para me manter aquecida no inverno.

Ela se riu, achando que eu, depois de velha, tinha dado de mentir. Fazendo-me de magoada por ter minha sinceridade questionada, mostrei a seguinte troca de mensagens entre o Nelson e eu. Minha mãe leu, pálida, meu apelo público por um casaquinho Zara 38 e depósitos em vale-refeição, vale-transporte e vale-qualquer-coisa em minha conta do Real. Perguntou se o super gerente Flávio Felipe era meu cúmplice nisso, mas desde Brasília eu sei que a contravenção e as coisas vergonhosas em geral não admitem cúmplices.

Há certas coisas que a gente tem de fazer na cara e na coragem. E nesta história, acreditem, o Nelson foi mais corajoso que eu, porque, para o resgate do presente, ele me colocou diretamente em contato com sua mãe fofa, uma doce jovem senhora portadora de olhos profundamente azuis, que gosta de teatro mas quase nunca encontra companhia. Imagine se eu ainda fosse uma perigosa ladra de picolés, o perigo que essa linda não estaria correndo ao tomar um café em minha companhia, ao lado de uma tentadora loja de sorvete italiano! ;o)

quarta-feira, junho 13, 2007

Despistando Aquele Que Tudo Sabe

Este post neurótico é só pra despistar o robozinho que vem colocando anún)cyos fu)ndam_entalistas aqui contra a minha vontade. Pô, já basta minha mamma, a garçonete da santa ceia! Medalha do p_a-pa é o carajo! Nossa S-eN+ho_ra prometeu de va-fan-culo é rolla! Eu não suporto propaganda religiosa, não tolero o imperador WASP do planeta e se tem coisa que eu não admito é símbolo s)a-cr_o saaaan)to em minha própria casa.

Aqui vai uma lista de key words pra adequar o clima ao frequês: capoeira, forró, gafieira, bar, boteco, botequim, teatro, cinema, corrida, maratona, manqueira, otorrinolaringologia intensiva, hemograma, hemograma, hemograma, um hemograma pel'amoredediopadre, ortopedia esportiva, atletas de final de semana, esportes sazonais, TPM, aromaterapia, samba, bossa, jazz, vinho, coqueteleira, trigêmeos, Gianecchini, surf, reggae, literatura, caninos, felinos, peludos em geral, vela, veleiro, velejador, bronzeado, Buzios, orla Bardot, pizza, sorvete de café, capuccino, Suassuna, farsa, boa preguiça, coqueiro, rede, Bahia, Salvador, carnaval, família, crianças e cães, quintal, plantas, sol, churrasco, caipirinha, preguiça e, pronto: já estou me repetindo.

Mas só por via das dúvidas, porque se eu não O enlouquecer, enlouqueço eu: diabo, demônio, capeta, catiço, sete peles, carrancudo, descarado, belzebu, canhoto, canheta, chavelhudo, condenado, coisa-ruinzinha, mardito, pé-de-cabra e sarnento.

Pronto. Prefiro que ele anuncie sites de exorcismo que medalhas de vocês sabem quem!

Iron maiden

Aviso aos navegantes: este blog está prestes a se tornar oficialmente GLS (mas um GLS limpinho, não fundamentalista). Daqui a três semanas explico melhor.

Fundamentalismo

Estudei em escola católica e, talvez por isso, ou talvez porque minha mãe tenha se tornado uma fundamentalista católica depois que começou a estudar Teologia na PUC (ou depois que minha avó morreu, é difícil julgar), transformei-me numa pessoa impaciente com o tema religião. Veja bem: qualquer religião!

Outro dia fui visitar um amigo no hospital e logo chegou uma outra visita: era um cara de São Paulo com seu personal pastor importado de Recife. Em menos de cinco minutos, eles começaram a falar sobre o salmo 23 e um tal de vale das trevas, vale da morte, vale-qualquer-coisa, e aquilo foi me dando uma angústia crescente e um puta mal-estar. Olhava pro meu amigo e entendia que ele entendia que os caras o estavam enterrando vivo. À medida que o enterro-em-vida prosseguia, o brilho em seu olhar ia se apagando. Cruzei e descruzei as pernas com a velocidade da luz, levantei, sentei, pigarreei, tossi forte, fingi que atendia o telefone e falei mais alto que um gaúcho médio, mas nada fazia cessar a pregação resignada do vale-enterro-em-vida. Quase pedi pra enfermeira trazer uma overdose de Simancol pros maníacos do vale da morte. No mundo ideal, essa gente seria tratada com supositórios de Simancol tão calibrosos quanto um foguete, e tão acesos quanto a tocha olímpica.

Pô, então o cara se desloca centenas de quilômetros pra pagar um mico desses? É por causa de gente assim que as reservas de petróleo no mundo vão se esgotar. Os religiosos se deslocam mais que a média, vão muito à meca, peregrinam demais, visitam muitos doentes em hospitais e importam, do raio que os parta, muitos pastores, rabinos, mulás, bispos e pais-de-santo, executivos que, no final das contas, só querem saber o valor do dízimo. Eu sou descrente, eu sei, e não tenho nada contra Deus ou seus representantes celestiais, mas a interface Deus-Homem é muito falha. Só uma pessoa muito inteligente, o que não é meu caso, consegue sublimar esses bugs do sistema e se tornar um religioso não-fundamentalista (ou seja, uma pessoa religiosa não chata e não castrada, como era minha mentalmente sã avó).



Se estivesse viva, minha avó estaria desde ontem fazendo simpatias pra Santo Antônio em meu nome. A véia rezava muito, e tinha uma reza forte que só. Ela não entendia, assim como minha mãe não entende, porque eu não casei nem tive três filhos antes dos trinta, como elas. Minha mãe, aliás, ontem me deu um presente misericordioso de dia dos namorados: achei fofo, sobretudo porque, no cartão, ela dizia algo como "nem vou torturar mais seus namorados, então pode arrumar logo um!". Como estou sem voz há 3 dias, e meu pai acha que isto me torna um tipo ideal de mulher, e como há grandes chances de minha mãe estar rezando por mim uma novena secreta pro pobre do San Totonho de cabeça pra baixo num copo d'água, virado pra parede e sem o Menino Jesus (é muita tortura por nada!), não estranhem nem um pouco se, daqui a uns dias, eu estiver realmente namorando. Minha mamma pode estar até trilhando os caminhos equivocados da fé, mas herdou de minha avó a reza forte. Ainda bem que somos do mesmo time!

terça-feira, junho 12, 2007

Enfim, o dia dos namorados.

Há cerca de 3 semanas, eu mobilizei um exército, armazenei armas, ferrei cavalos, destilei venenos e opilei meu fígado pensando no dia dos namorados que estava por vir. Queria manifestar minha ojeriza às datas comerciais e ao casamento enquanto instituição feita para vender geladeiras e cozinhas. Senti vontade de provocar todas as pessoas que têm um cobertor de orelha pra chamar de seu, dizendo-lhes que só os fracos preferem estar mal acompanhados do que só, mas aí eu pensei bem e, noves-fora-zero, decidi que esse papel (de cuspir no prato em que quero e vou comer) é feio demais pra uma mocinha bem-humorada e bem-balzaquiana como eu.

Tudo bem eu não ter um namorado pra fingir que esqueceu da data e passar o dia inteirinho sem telefonar para, à noite, me fazer uma surpresa sem precedentes históricos e receber um cartão lindo que eu levei 20 dias fazendo, como é típico meu; mas estou pronta pra ter!

Tudo bem estar sem namorado. Alguns acontecimentos recentes me convenceram por completo de que é melhor estar só do que com um ególatra que vai se envolver com a primeira mulher que der bobeira, só porque é viciado em conquistas amorosas. Não estou cantando vantagem de ser extra-mega-ultra-seletiva ou mais que a média, mas os anos me tornaram uma mulher desconfiada, pra dizer o mínimo. Não caio mais no conto do vigário do cara que terminou com a noiva tijucana (nunca se termina com uma noiva tijucana!), nem na estória da carochinha do homem incrível que construiria a máquina do tempo pra me conhecer antes de ter se casado com a mulher de quem ele não se separará jamais. Não há tempo que volte, amor, então vamos viver tudo o que há pra viver.

O meu tempo é hoje!

Tudo bem estar sozinha comigo mesma no dia dos namorados: eu sou um cara bem bacana, com amigos bacanas, tenho sempre muito papo, uma gargalhada implantada na garganta e um sorriso costurado no rosto. A vida é boa e leve, e hoje eu sei que não preciso ter namorado para gostar de mim mesma.

Enfim, a todos que estão amando, feliz dia dos namorados. A todos que perderam o grande amor e acham que nunca vão amar de novo, feliz dia dos namorados (um grande amor nunca se perde, se transforma). A todos que têm apenas uma pedra no peito no lugar do coração, feliz dia dos namorados (pedras pesam mais que músculos estriados que pulsam involuntariamente, então cuidado com essa postura corcunda, menino!). E a todos que nunca amaram, feliz futuro dia dos namorados.

O tempo do amor é sempre.

To Jacob: Jeg vil have dig lige nu! "Du har for evigt ansvaret for det du har gjort tamt". (I know, baby: my Danish is so repetitive!)

domingo, junho 10, 2007

Observações de uma corredora inconsistente.

Eu ia dizer que eu sou uma corredora indisciplinada porque eu corro semana sim, semana não (às vezes semana sim e duas semanas não), mas achei muito duro me taxar de indisciplinada: prefiro o termo mais preciso e libertário-auto-complacente “inconsistente”. Há criminosos piores que eu soltos por aí, então não serei eu mesma a me colocar no banco dos réus hediondos.

***

Neste final de semana, corri uma meia-maratona. Não tudo de uma vez, é claro, mas 21km em dois dias. No mundo ideal, seria permitido correr uma meia-maratona em dois dias, e uma maratona inteira em três ou quatro. Infelizmente, as pessoas atléticas são muito rigorosas, não sei bem porquê, e têm essa mania estranha de fazer coisas que a maioria dos mortais não consegue, como correr 40 km em 2 horas (quase o tempo que se leva de carro do Leme ao Pontal na hora do hush). Ah, a chama olímpica ainda não se acendeu em mim, mas eu tenho simpatia especial por todo tipo de maluco, embora alguns modelos de maluco, como diria a Cora, devam ser apreciados à distância, como os bipolares extremóides, os materialistas preferenciais e os suicidas que te visitam no décimo segundo andar só pela chance de pular da janela enquanto você vai à cozinha pegar um copo d'água.

***

Eu corro com o iPod implantado nos ouvidos. Há poucos dias, um amigo viu meus fones brancos e profetizou: Serás assaltada! Arranja outro fone! Perguntei o porquê e ele me disse que os ladrões reconhecem os fones brancos da Apple a quilômetros. Eu achei a informação estranha e desencontrada, porque pego ônibus na Central do Brasil todos os dias com esses fones nos ouvidos e nunca senti olhares de cobiça pra cima do meu radinho. Aliás, é comum ver pessoas com fones idênticos aos meus, de forma que eu me sinto extremamente protegida pelo anonimato, que nada mais é que ser igual a todo mundo. Meu amigo insistiu que é “muito perigoso, vai por mim” usar os fones da Apple fora do estreito círculo de confiança de meu condomínio com seguranças e câmeras ocultas, mas aparentemente eu venho desejando há algum tempo ter a seguinte conversa antropológica com um ladrão, que é, sem tirar nem pôr, um ser humano igual a mim:

- Passa o aipode.
- Você acha correto dispor do patrimônio dos outros assim?
- Ih, o cara, aê. Essas músicas que você tem aí, no aipode: são compradas?
- Nem todas.
- Pois ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão. Agora passa!
- OK. You have a point.
- Quê?
- É um provérbio chinês que quer dizer: “Deus dá, Deus toma.”
- Foda-se. Você está tomando meu tempo: time is money, como se diz na China.
- OK. Tó. Vai com Deus, colega.
- É nóis!

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Se eu não corresse com o iPod implantado profundamente em minhas membranas timpânicas, eu seria obrigada a ouvir gente dizendo coisas como:
- Gostosa, vou te chupar todinha!
- Ê, bundão, benza Deus!
- Shhhhhhh, que saúde...
- Passa o aipode!

Ainda bem que eu passo surda e correndo por tudo isso. A música melhora a vida das pessoas que correm, além de torná-las imunes ao assalto rádio-amador.

***

Descobri porque corro semana sim, duas semanas não: os primeiros 30 minutos de corrida são hardcore. Tudo dói, dá vontade de ir ao banheiro, dormir e finalmente morrer, parece que os joelhos vão sofrer fraturas avulsivas, a asma dá o ar de sua graça, mas passado o período crítico do aquecimento, a impressão que dá é que é perfeitamente possível correr pro resto da vida, sem parar.

É claro que eu nunca tentei. Não sou louca nem nada.

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Eu não sou deste tempo. Eu sou um ser humano que deveria ter sido adulto jovem na década de 70. Graças ao e-mule, gravei a trilha de Hair no meu radinho. É muito frustrante ter nascido 20 anos depois e precisar usar boné porque as pessoas de hoje em dia não entendem as outras de cabelos desgrenhados.

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Adoro correr em Miguel Pereira. Meus peludos se alongam comigo (eles são lindos quando se alongam!), e não sei porque, eles acham que eu estou brincando quando abraço a perna dobrada, alongando minha extensa musculatura glútea. É neste momento que eles cheiram, à minha revelia, todas as partes pudendas que me pertencem, achando muito engraçado eu me expor dessa forma. Pois meus peludos me tocaram uma real que eu nunca tinha percebido: o alongamento é o paraíso do voyeur, uma outra espécie de maluco que a gente deve manter a uma luneta de distância.

***

Porque já estou inscrita há 3 meses, quando o otimisto fantasioso me movia, eu vou correr a meia maratona da Caixa, em 24 de junho. No entanto, algo me diz que será flórida completar o percurso sem ter de passar os meses seguintes numa cadeira de rodas. Pollyanna Moça, em meu lugar, diria: “Minha querida, o que é um aleijão temporário diante da satisfação de correr 21km e ainda ganhar uma medalha e uma banana madura por isso?”. E eu penso: essa mulé, essa tal de Pollyanna, é cafona e escrotinha... mas às vezes faz sentido.

***

Eu sei que é ridículo, afinal nem corri minha primeira meia maratona, mas já estou fazendo planos de correr a maratona de Paris com meu marido inteligente, divertido, lindo e apaixonado, depois de nossa lua-de-mel nas Seychelles.

E pensar que tudo começou com uma ingênua corridinha de 21 km... (Boa noite, galera, que amanhã acordo cedo pra correr 10km: Deus ajuda quem cedo madruga!)

sexta-feira, junho 08, 2007

Diferenças musicais para amar alguém.

Porque o filminho sobre o momento de entrega lúdica do pai com a filha (alguns posts abaixo) me fez chorar, e um dos motivos racionais ridículos que eu encontrei pra isto foram a direção e corte fantásticos, com uma sintonia incomum entre imagens e áudio -- quando o pai atende a porta, a música pára, e quando ele se dá conta de que está, digamos assim, vestido de forma peculiar, entra o grito da última repetição do refrão, que varre a alma da gente: "AAAAAHHHHH, YOU DON'T KNOW WHAT IT'S LIKE, YOU DON'T KNOW WHAT IT'S LIKE TO LOVE SOMEBODY THE WAY I LOVE YOU." --, é óbvio que eu fiquei nervosa pra reativar meu i-tunes-store de pobre. Ou seja: o e-mule.

Passei um ano sem e-mule, mas hoje lavei minha égua, ou melhor, minha mula: baixei um bocado de "To love somebody" -- uma faixa de cada artista diferente -- pra tentar chegar à conclusão de que versão foi usada na campanha do refrigerante que fez meu peito encher de leite (esses publicitários estão dando mole pro Ninho!). As pessoas mais antigas, OK, antigas não, mais musicalmente eruditas, poderão dizer se eu estou errada, mas eu acho que a música é dos Bee Gees. No entanto, o mais interessante foi perceber que a mesma música pode facilmente mudar de gênero, bastando pra isso:

1. Ser cantada pela Janis Joplin. Tudo o que a Janis cantava era mais ou menos parecido, tinha mais ou menos as mesmas sílabas (ela sabia comer cinquenta palavras de um verso sem deixar o contribuinte perdido, como ocorre no trash metal), vocalises e acordes. Eu só reconheci "To love somebody" em sua gritante e potente voz por causa das três palavras do refrão-título, mas mesmo assim precisei ouvir umas duas vezes pra ter certeza. Janis Joplin, que eu amo como a poucas cantoras que gritam na vida, sobretudo porque ela nunca penteava o cabelo e vivia bêbada, um estilo de vida que eu admiro, fazia tudo parecer... Janis Joplin! E eu só reparei isso agora.

2. Ter um arranjo cafona. É o caso da versão estúdio de Michael Bolton. Quem diabos é Michael Bolton?!? Como esse cara está solto por aí, induzindo o contribuinte ao erro no e-mule? Prendam, prendam esse cara da calça baggy já!

3. Ser executada com emoção. Uma música executada com emoção, como a versão ao vivo dos Bee Gees, sempre vai parecer roquenrrol pra mim, por mais que tenha cordas e outras coisas que pegam malzão pra chapeize que quebra guitarra porque não sabe tocar direito.

But I'm just a girl, can't you just take a look at me and tell?

quinta-feira, junho 07, 2007

Olympic Games

Iron man daily practice includes entertaining cute little nieces. (Jacob and Jeanet's girls, in one of Jeanet's "great captures", like people like to say at Flickr.) ;o)

Snoopy come home.

Black e seu novo amigo contemplam a vida boa que sempre sonharam.

Quando cheguei ontem à Diretoria Social do Clube dos Ridículos, encontrei um envelope mastigado, ainda úmido de baba canina, sobre a mesa. Como o Clube dos Ridículos é o único lugar onde eu posso ser eu mesma, joguei todas as minhas bolsas pro alto, atirei meus celulares pela janela e pus-me a ler a cartinha, escrita em um cachorrês bastante distraído, o que é típico dos Labradores. Resumindo muito, era uma carta do Ilustríssimo Presidente, o peludo Black, explicando que a vida é curta demais pra se jogar fora, e que ele iria aproveitar a sua da melhor forma possível, ou seja, com uma criança de três anos e outros bichos engraçados num quintal, e que portanto precisaria se afastar indefinidamente da presidência do Clube.

Fiquei com aquela carta na mão até a baba secar. Fui ao terraço do prédio e uivei pro horizonte, esperando um uivo de 35 kg como resposta, mas o Black já estava fora da área de cobertura, num reino tão-tão distante, e não respondeu ao meu chamado. Já que estava ali mesmo, contemplei o pôr-do-sol perfeito e só desisti de uivar quando a lua cheia mudou de forma, fazendo uma carinha sorridente pra me animar.

Porque eu sou humana, e os humanos são naturalmente ridículos, a primeira coisa que senti foi saudade: pensei como seria difícil chegar à sede do clube todos os dias e ver aquela mesa, toda roída, vazia. Senti vergonha de mim mesma por não ter ainda desenvolvido o desapego, mas a vergonha cedeu lugar à mentalização altruísta que uma pessoa muito evoluída uma vez me ensinou, e que nada mais é que se imaginar trocando de lugar com o outro. Pois eu troquei de lugar com o Black e fiquei feliz por ele ter feito suas trouxinhas e se mandado prum lugar onde seu único trabalho é brincar o dia inteiro. Às vezes é entediante ser presidente, mesmo quando se trata da presidência do Clube dos Ridículos, porque um presidente tem muitas obrigações chatas, como vocês podem imaginar.

Depois, porque eu gosto de criança, e entre duas pessoas absolutamente iguais aquela que gosta de criança é um ser humano mais leve, comecei a rir, como se estivesse sentindo cosquinha na barriga, e meu riso se abriu numa enorme gargalhada, só de imaginar o Black em seu novo quintal, com seu novo coleguinha humano de três anos, tentando entender porque o cara não sabe latir nem abanar o rabo, coisas que muitos filhotes humanos tentam fazer até se convencer de que infelizmente não são cães, processo que pode durar muitos anos se os pais da criança forem muito legais.

Por último, porque um leitor deste blog escreveu que "jealous of ass is cock", e por isso ele é muito ridículo, a cadeira de presidente do nosso Clube já tem um novo dono: o Joel. E bola pra frente, que atrás vem gente!

quarta-feira, junho 06, 2007

Para aquecer o coração.

Obrigada, Pordeus! Se você por acaso encontrar um cara mezzo distraído, mezzo embevecido por mulheres e seus frutos uterinos, let me know.

Colcha de retalhos

Minha avó, que Deus a tenha, é constante tema de nossas conversas à mesa. Talvez porque a mesa sem ela seja uma coisa vazia, a gente sempre dá um jeito de sentá-la conosco de forma simbólica e alegre, lembrando das histórias dessa véia doida que parece mais viva do que nunca em nossos corações. Hoje, não sei porquê cargas d'água, parece que o universo conspirou pr'eu pensar na minha velhinha umas vinte vezes no decorrer do dia. Lembrei de pequenas coisas dela que me dão saudades, como:

1. Quando eu ia almoçar em sua casa pra depois ir à analista, que era a poucas quadras do QG matriarcal. Ao se despedir, ela dizia: Vai com Deus, minha filha, boa aula. E eu dizia: Não é aula, não, vó. É análise: tratamento crônico pra maluco. E ela: Ah. Bom isso aí também!

2. Ela queria participar de todas as coisas que uma pessoa de mais de noventa anos não costuma participar, como o mutirão de busca & apreensão da Princesa Radija, quando ela fugiu uma vez de nosso sítio em Miguel Pereira e meus pais mobilizaram estações de rádio, jornais locais, todas as viaturas da polícia e algumas dezenas de pessoas que circulavam em esquadrões, com cartazes e fotos de nossa foragida princesa aparvalhada. Era uma madrugada fria de agosto e ,como minha mãe não conseguia parar de chorar, pensando nas coisas horríveis que poderiam acontecer com nossa filhota de Pastor Islandês fora da proteção famigliar, meu pai resolver fazer uma busca noturna. Minha avó acordou às duas da manhã com a movimentação e, mesmo incapacitada pela surdez de escutar uma palavra do que se sussurrava na casa para não acordar geral, em menos de dois minutos a fofa estava pronta e coando um café. Meu pai não queria que ela fosse, mas como ele era um genrinho de última categoria e sabia perfeitamente qual era seu lugar naquela hierarquia matriacal, abriu a porta de trás do opalão completamente resignado pra véia entrar. Ela foi a primeira a localizar um cão nosso no meio do mato, no meio da roça. Era o Povo. A gente não procurava o Povo: o Povo é safo, sabe fugir e voltar. Há uma terrível teoria da conspiração que roga que ele talvez tenha induzido a Radija ao erro, estimulando-a a fugir só para que ela se perdesse no mato e nunca mais voltasse, o que garantiria nosso afeto só pra ele pro resto da vida -- mas eu acho improvável que isto tenha se passado pela cabeça de meu galgo mulato, até porque ele tem uma cabeça pequeninha demais pra permitir a entrada de ruindade

Pois vovó viu o Povo e fez meu pai parar o carro. Minha mãe se embrenhou no mato, na esperança de que o galgo estivesse fazendo ele mesmo suas buscas noturnas atrás da irmã, mas tudo o que encontramos foi um coleguinha seu de reviração de latas, que preferiu não pegar carona com a gente. Minha avó estava exultante com a "recuperação" do Povo (ou a volta dos que não foram); minha mãe chorava; e meu pai tentava explicar: Dona Izolina, a gente não está procurando o Povo, ele sai de casa mas sabe voltar, a gente está procurando a Radija. Descobrimos dias depois, muito depois do retorno da Princesa, que a felicidade da minha vó não era por termos recuperado um cão que não estava perdido, mas sim por o termos flagrado com um amiguinho macho, no meio do mato, na calada da madrugada: Boa coisa, ele não devia estar fazendo! E foi aí que descobrimos que minha avó tinha uma implicância visceral com o Poveretto Povo, só porque o galgo tinha uma tara irrefreável por seus cambitos. Na verdade, acho que ele tinha tesão era na meia que ela usava. A recíproca, infelizmente, não era verdadeira. Quando minha vó rezou pra galgo sumir, ela deve ter trocado as bolas, e aí sumiu a Radija. Sorte que a véia doida percebeu a mancada e rezou de novo pra Radija voltar. Ela voltou, e fomos felizes para sempre.


Bença, vó. Boa noite, meu docinho de coco com beijinho doce, que foi ele quem trouxe de longe pra mim.

terça-feira, junho 05, 2007

Campanha do agasalho 38

Hoje um leitor deste quartinho, o Nelson, revelou em público uma coisa que me deixou extremamente enternecida e até um pouco assanhada, no sentido não bíblico ma non troppo: o leitor (ou melhor, sua mãe fofa) tentou deixar na agência, com meu gerente do Banco Real, o Flávio Felipe, um agasalho comprado na Zara para mim.

Quando o Nelson falou em agasalho -- e "agasalho" é um termo muito comum entre os benfeitores que chamam sopa de refeição e pipa de brinquedo--, imaginei, com toda a sinceridade do meu coração, que ele tivesse delirado a parte da mensagem que falava em "Zara", e pensei que se tratasse de uma caridade como outra qualquer: tipo assim, uma coisinha velha e puída para pessoas puídas e carentes. A gente nunca imagina que será vítima (ou beneficiária, como queiram) da caridade alheia e, quando isso acontece, nosso primeiro impulso é estender a mão aos céus e agradecer: Obrigada, Diet Coke!

Na verdade, odeio o mar de lama que macula a potencialidade da palavra "caridade" -- estudei em escola católica, e sei bem o que os cristãos entendem por caridade! No entanto, mesmo sem dar esse nome aos bois, minha família paterna sempre teve por hábito esvaziar os armários antes do inverno pra dar uma força pros desagasalhados de Miguel Pereira. Pra quem não conhece esta cidadezinha cravada nas montanhas do sul do estado do RJ, lá os termômetros batem entre 2 e 10 graus nesta época do ano: o frio é uma dureza!

Pois o Nelson, vítima das mesmas chantagens emocionais que faço contra o meu gerente do Real, o pobre do Flávio Felipe, aparentemente comprou, sim, um agasalho Zara tamanho 38, que aparentemente não é vermelho (mas o importante é o gesto!). E eu venho por meio deste humilde post dizer que sim, Nelson, eu aceito, mesmo não sendo vermelho, seu agasalho e sua mão em casamento. No entanto, a elegância me compele a dizer que a minha oferta de casamento é válida somente até o dia 12 de junho, pois eu preciso estar solteira no dia de Santo Antônio pra ter uma chance de apelar pro santo.

Agora... eu vou ficar vermelha de vergonha se você disser que esta oferta é válida apenas para um agasalho e que o casamento está fora de cogitação: é que, de onde eu vim, quando um homem oferece um agasalho a uma moça (honesta, limpinha e educada), ele quer mesmo é se casar com ela. (é claro que eu estou brincando: vim de um lugar muito mais evoluído!)

Corte de cabelo de graça!!!

A descoberta é da Marcela: entrando neste link aqui com um bom headphone acoplado às orelhas, você corta seu cabelo virtualmente com uma bicha mezzo italiana, mezzo sei-lá-o-quê. O domínio do inglês não é importante para se ter a sensação do corte, mas as piadinhas de fundo são ó-te-mas! E, como disse a autora da descoberta, a maior vantagem é que é de graça. Pra quem não tem mais cabelo pra cortar ou dinheiro pra gastar, como eu, é um paliativo e tal.

segunda-feira, junho 04, 2007

Insights estrogênicos

Porque é lua cheia, e porque esta lua cheia foi "blue moon", e porque coincidiu com minha TPM -- que neste ciclo calhou de ser atípica --, não estou nem muito estressada, nem muito chorona, nem muito supérfula-da-vida: estou super ridícula. E porque fui ao teatro recentemente assistir "A alma imoral", uma peça de insights, tive alguns de minha autoria (todos tão bons quanto o pum da bactéria do cocô do cavalo do insight do rabino) ou não, a saber:

  1. A hipocondria é a mais econômica das doenças: você tem todas, e não precisa gastar dinheiro com nenhuma;
  2. Todo conflito se resolve com um choque de realidade ou com um choque de fantasia. Sem choque, nenhum conflito se dissolve;
  3. A melhor maneira de combater o impulso é se questionar: como seria minha vida daqui pra frente se eu amputasse agora a mão direita? Pessoas normais não amputam a mão direita só pra saber como seria;
  4. Pessoas impulsivas não têm por hábito se questionar;
  5. "A verdadeira bondade do homem só pode se manifestar com toda a pureza, com toda a liberdade, em relação àqueles que não representam nenhuma força. O verdadeiro teste moral da humanidade (o mais radical, num nível tão profundo que escapa a nosso olhar) são as relações com aqueles que estão à nossa mercê: os animais." (Milan Kundera)

domingo, junho 03, 2007

Hemi-paralisia facial

Pode ser só insônia ou falta do que fazer, mas acabo de fazer uma careta no espelho (levar o lado direito do lábio superior até a narina direita) que não consigo reproduzir do outro lado (ou seja: não consigo levar o lado esquerdo do lábio superior até a narina esquerda). Estou convencida de que tenho um defeito congênito raro (não foi golfada de vento!) que me faz falar, sorrir e fazer caretas mais pro lado direito que pro esquerdo. Alguém aí teria a indicação de algum neurocirurgião foda (mas conveniado da Sulamerica) que possa corrigir meu aleijão com uma lobotomia ou duas?

sábado, junho 02, 2007

Pérolas aos poucos

Meu ex-personal tarólogo, Greg, foi devidamente substituído por um monge taoísta (Fran) e um radiestesista (Fabiano). Meu lance agora é energia vital, chakra, defesa psíquica, remédio de fundo e Rescue Remedy. E não quero saber do futuro, tenho raiva de quem sabe.
***
Tenho um vizinho lindo como o Robert Redford, casado com uma mulher linda e de idade impossível de adivinhar, como a Charlotte Rampling, ambos com quatro filhos que até anteontem eram uns pivetes de metro e dez que nem alcançavam o botão do andar em que moram. Sempre me impressionou o fato de as crianças do casal serem absurdamente maduras, do tipo que não vira pra parede quando um vizinho entra no elevador, e ainda por cima diz "Bom dia, como vai?" ou "Você poderia apertar o vinte e cinco pra mim? É que enquanto eu sou criança, não tenho estatura suficiente pra alcançar esse botão, mas daqui a cinco anos eu não precisarei mais lhe amolar com isto." Pois ontem encontrei com o caçula desses quatro, que hoje tem estatura pra comer sopa em minha cabeça, e como o vi vestido de jogador de futebol, mancando como um grande atleta e coisa e tal, ocorreu-me de perguntar se o pai dele ainda velejava e participava de competições olímpicas do esporte. O menino me respondeu: "Não, meu pai está velho demais pra isso. Agora ele só veleja pra se divertir." Sentindo meu estômago se acidificar com o conceito que este filho faz de um pai que, pra mim, que o observo há 20 anos, será sempre um símbolo do homem-perfeito-pai-de-família, espetei: "Ah, se seu pai tá tão velho assim, vê se joga ele na lixeira lá de casa. Tem dias que a gente precisa de um velejador não olímpico pra fazer um passeio legal nas Cagarras." E vi o molecote de 17 anos sorrir pra dentro, como é típico das pessoas extremamente maduras que desprezam os indivíduos com o superego frouxo, como eu. Passei 20 anos sem dar mole pra esse vizinho Redford, e agora esta! Superego filho da puta!
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A meia maratona da Caixa é daqui a duas semanas. Tenho certeza absoluta de que serei a última a cruzar o tapete de chegada, se eu tiver a sorte de não sofrer um derrame fulminante tentando vencer os 21km. Acho que hoje consegui convencer a Marina a fazer esse mega-ultra-esforço heróico comigo, quando lembrei que tem gente que corre maratonas empunhando cartazes de protesto, fantasias de drag queen, guitarras e perucas de Elvis, sem contar os fiéis caninos que são inscritos por seus donos como pessoas e que chegam na frente de muito marombado metidinho a picão. Minha lógica era a seguinte: se um vira-lata que come ração consegue, por que não nós, que comemos a comida preparada com esmero pela mamãe?
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Algum leitor deste blog que porventura more em Brasília por acaso não teria assim, uma Pajero ou uma pick-up Mitsubishi qualquer pra me emprestar pra terceira etapa do rally outdoors, que ocorrerá no Distrito Federal no terceiro sábado de junho? Se o digníssimo leitor por acaso quiser participar da prova, oferecemos uma vaga e a oportunidade de muita emoção em nossa equipe Arsenal, vencedora do circuito Mitsubishi outdoors do ano passado, com um know-how em navegação que só gente-que-faz, como o Raul-rally-Daisy&son Parodi, tem. Nossa equipe também tem altas gatas mineiras, duas pilotas incríveis e eu, que sou uma espécie de produtora, cozinheira e corredora de quinta categoria, mas muito esforçadinha. Qualquer ajuda serve: de repente, se vocês não tiverem o Mitsuba pra gente não ter de deslocar a pick-up do Raul nesses 1300km entre Rio de Brasília, qualquer quantia pra cegonha e pro transporte aéreo é de extrema valia, gente. Se for de coração, não importa: é só depositar na minha conta do Real, ag. 0454, cc 6710686-6. Sou VanOr para todos, mas, para depositantes e amigos dos esportes radicais, também atendo pela singela alcunha de Vanessa Ornella dos Santos.
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Sem muitos detalhes: não tá fácil pra ninguém, gente. Eu peço porque preciso, que se fosse fácil eu respiraria.

A primeira depilação a gente nunca esquece.

O C.A.T. me passou por e-mail este texto sobre a primeira depilação de uma moça que atende pela singela alcunha de "Val", num blog chamado "Redatoras de Merda". É o conto épico cosmético mais engraçado que eu já li. Tive espamos e cólicas uterinas de tanto rir.

Pra quem não entendeu como funciona este post, clique em "este texto", acima ou à esquerda, para invadir a cabine de depilação da Val e passar mal de tanto gargalhar, como eu.

sexta-feira, junho 01, 2007

Quem tem "Ordem e Progresso" tem medo.

"Hapiness is a new kitchen": Felicidade é uma cozinha planejada novinha em folha. Não sei dizer isso em dinamarquês, mas isto é o equivalente viking do nosso "Ordem e Progresso". Por isso que o Brasil não vai pra frente: em vez de estabelecer metas pequenas, como uma nova cozinha, uma geladeira frost-free ou um novo aparelho de jantar, a gente fica querendo logo "ordem e progresso". Tudo bem "ordem e progresso", mas isso só funciona na Alemanha, Áustria ou Dinamarca, que são países com tanto medo de fazer xixi fora do pinico que, por via das dúvidas, fortalecem seus partidos fundamentalistas de direita. Fortalecer o partidão "higienista", aquele que se propõe a limpar essa sem-vergonhice que taí, invariavelmente significa fazer xixi fora do pinico, só que de um jeito tão envolvente que as pessoas "de bem" não percebem que estão sendo engambeladas de novo por um outro Hitler.

Por pior que seja meu medo do neonazismo, ele não chega nem aos pés do medo que tenho do fundamentalismo evangélico de direita no Brasil. No país do carnaval, das CPIs que só terminam em pizza, do PT e do Renan Calheiros, a moral cristã pode mover montanhas e derrubar governos. Se o Lula tivesse acatado a sugestão do Chico e criado o Ministério do "Vai dar Merda", nosso ministro vai-dar-merdista estaria, neste exato momento, abrindo mapas, fazendo downloads de arquivos confidenciais e falando em noventa celulares ao mesmo tempo para tentar evitar um golpe militar ou a chegada do messias. Gente, eu não sou Regina Duarte, mas tenho medo. Desculpa, mas tenho. Quando ela falou isso no programa eleitoral que tentou derrubar meu então candidato e hoje presidente do país, eu pensei em mandar anthrax pra casinha dela, num envelope perfumado. Mas hoje, toda vez que leio jornal, é como se o anthrax estivesse sendo depositado diariamente sobre o capacho de minha porta. Sinto que me fodi de verde e amarelo.

Não gosto de discutir política, porque costumo evitar os assuntos nos quais sou mais do que absolutamente pessimista. Ultimamente, a única coisa que me deu algum alento no cenário político mundial foi o arrependimento e o suicídio do ministro da agricultura japonês por um roubo equivalente a 220 mil reais, coisa que no Brasil resultaria no máximo em um simbólico pagamento de cestas básicas a meia dúzia de eleitores encurralados até o pescoço. Isso é revoltante, eu sei, mas é justo aí que o lema de nossa bandeira faz meus pêlos se eriçarem to-di-nhos: isso aqui tá uma merda? Então enfia Ordem e Progresso no rabo dessa cambada. Ordem e Progresso no Lula. Ordem e Progresso no Renan Calheiros. E aí cai o rei de espadas, cai o rei de ouros, cai o rei de paus, cai, não fica nada.

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Acho que o vinho que a gente está tomando esta semana está me deixando paranóica.

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Voltando à vaca fria, acho que este é um bom momento para mudarmos nosso lema nacional, transformando-o em algo mais adequado, pé no chão e menos susceptível à tomada santa do poder pelo Povo de Deus. Nesses dias de medo -- e o medo pode ser só um estado de espírito daqueles que não acreditam no Eleito, em Deus nem porra nenhuma -- a "ordem e progresso" de nossa bandeira deveria dar lugar a algo menos belicoso e mais alegre, mais Clodovil e digno do país do futebol, como "Mengão forevis", "Eu vou ao teatro mas não entendo" ou "Não leio porque é escrito, que se fosse líquido, eu não beberia". Ou então, seguindo o exemplo da Dinamarca, a gente podia tentar criar em cima do tema felicidade. Eu não me incomodaria nem um pouco de portar uma bandeira que tivesse por lema a feliz frase: "Felicidade é passar a mão na bunda do padre, do pastor ou do pai-de-santo." Pelo menos assim, se houvesse algum golpe para derrubar o governo, eu não teria de arder no inferno por odiar todas as religiões que se metem em estado laico.

PS: Felicidade também é desejar que o Bin Laden encontre o Bush, e não vice-versa.